Há boas razões para excluir a carne e o peixe do regime alimentar. Se a preservação ambiental for uma delas, o melhor é perceber de onde vêm os substitutos da proteína animal que coloca no prato. Uma investigação da Universidade britânica de Cranfield sugere que as leguminosas, como a soja e as lentilhas, são, na sua maioria, importadas – com maior pegada ecológica, portanto. O aumento do seu consumo implicaria mais terra arável e o colapso dos agricultores com criação de gado.
Sendo a alimentação, também, um ato político, o desafio passa por selecionar ingredientes, de facto, amigos do ambiente, para a nova dieta, e só ocasionalmente recorrer a outros. A lista de alimentos ditos verdes, mas nem tanto, é grande. Os leites de cereais embalados (como o de soja) provêm de outros países europeus. A quinoa é cultivada nos Andes, o sésamo em África, o goji na Mongólia. As algas chegam da Galiza e de França, mas também de origens mais longínquas. Pedro Lobo do Vale, médico e administrador da Dietimport e das lojas Celeiro, esclarece que as algas, os molhos fermentados (tamari, miso, shoyu) e as matérias-primas de cultivo biológico (soja, trigo), para fazer tofu e seitan, por exemplo, “provêm, maioritariamente, do Brasil e da Ásia, ainda que mais de 89% da produção de alimentos vegetais, como hambúrgueres e enchidos, seja nacional”.
Por seu lado, Elsa Antunes, diretora de qualidade da Próvida, fala em 50% de fabrico nacional. Mas orgulha-se dos “cogumelos chitake, produzidos na serra da Estrela e usados na confeção de empadas”. E o mirtilo biológico, por exemplo, começa a ser cultivado em terras lusas, acrescenta Lobo do Vale.
Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas, reconhece que não é por se ser ovolactovegetariano que alguém se torna, de imediato, amigo do ambiente: “Basta que consuma legumes e frutos importados, como a manga do Brasil, para acontecer o contrário.” A transição para uma alimentação verde, por razões filosóficas ou de saúde, também não é pera doce: “Cozido à portuguesa, cabrito assado e bacalhau com todos vão ficar ausentes do prato”, lembra Alexandra Bento. “E, fora de casa, ainda é difícil encontrar opções equilibradas, sem excesso de gordura, para refeição principal.”
Local e ‘low cost’
A jornalista e escritora Pilar del Río, ovolactovegetariana desde que se lembra, destaca sugestões tentadoras para quem abraçar a cozinha viva, que assenta na imaginação e no uso da razão: “Um cozido pode ter feijão, cenoura, couve, batatas e feijão-verde; o meu caviar é beringela assada sem pele, com muita salsa, alho e azeite.”
Aos 63 anos, a presidente da Fundação José Saramago adota uma alimentação consciente e frugal. “Prefiro sempre os produtos locais, faço uma refeição por dia e petisco, no resto do tempo.” O seu lema não é dispendioso. E recorda: “Na década de 1950, em pleno pós-guerra, os povos mediterrânicos levavam do mercado alimentos da estação, os meus avós faziam calamares do campo, compotas e conservas de tomate que davam para todo o ano.” Seguir esta dieta, “sem ser como uma religião”, tem dado a Pilar saúde e muito prazer, que ela partilha com entusiasmo: “Invento molhos e patés com tudo, basta adicionar sal e fantasia. O grão, com espinafres ou moído e passado por azeite, com um pouco de alho e comido com pão, é uma delícia!”
VERDE QUE TE QUERO VERDE
Protege o Ambiente se consumir mais…
- Frutas e legumes da época
- Sementes (pevides, amêndoas, nozes…)
- Salgados e patés vegetais, com ingredientes locais
- Doces e compotas de frutos biológicos de cultivo local
… e menos
- Legumes e frutas importados
- Tofu, seitan (com ingredientes biológicos, importados)
- Leites de cereais (embalados)
- Algas e molhos fermentados