Janeiro foi o oitavo mês consecutivo que bateu o recorde de temperatura média global para o mês (o máximo anterior era de 2020). Ou seja, desde junho, todos os meses foram os mais quentes desde que há registos. Os dados são do Copernicus Climate Change Service (C3S), da União Europeia.
Esta sucessão de meses extraordinariamente quentes levaram a que fosse superado, pela primeira vez, o valor de 1,5º C acima da era pré-industrial numa série de 12 meses seguidos: de fevereiro de 2023 a janeiro de 2024, a temperatura média global foi de 1,52º C. Em 2015, na Cimeira do Clima de Paris, no âmbito das Nações Unidas, os países comprometeram-se a “prosseguir esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5º C acima dos níveis pré-industriais, reconhecendo que isso reduziria significativamente os riscos e impactos das alterações climáticas”.
Isto não significa que a meta do Acordo de Paris tenha sido oficialmente excedida – tal só acontecerá se o valor for ultrapassado ao longo de vários anos. Mas é um marco com um enorme simbolismo e que aponta para a quase impossibilidade de cumprir o que foi acordado há nove anos na capital francesa, dado que as emissões de gases com efeito de estufa continuam em crescendo.
A tendência revelada pelos dados climatológicos já indicava esta direção. Em maio do ano passado, um relatório da Organização Meteorológica Mundial dava 66% de hipóteses de a temperatura média global atingir, até 2027, um aumento de 1,5º C face ao período pré-industrial. Ainda não se pode dizer que isso tenha já acontecido, uma vez que este intervalo de 12 meses não corresponde a um ano astronómico, mas não deixa de ser um sinal relevante.
De acordo com o Copernicus Climate Change Service, o ano de 2023 foi o mais quente já registado, tendo batido o recorde anterior, de 2016, por 0,17º C. Os cientistas do serviço climático da União Europeia dizem mesmo ser muito provável que tenha sido o mais quente dos últimos 100 mil anos, avaliadas as evidências paleoclimáticas (sobretudo em glaciares). A temperatura média global da atmosfera em 2023 ficou 1,48º C acima da média 1850-1900.
As emissões de gases com efeito de estufa têm provocado o aumento da temperatura, mas 2023 ficou marcado ainda por um El Niño particularmente potente. O El Niño é um fenómeno climático no Pacífico que tende a causar aumentos de temperatura das águas superficiais, na região tropical do oceano; nos anos em que se manifesta, a temperatura média global tende a subir.
Em janeiro, o evento começou a enfraquecer e deverá dar lugar, mais perto do final do ano, ao seu contraponto La Niña, um período de arrefecimento no Pacífico. Ainda assim, cientistas da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration, a agência climática federal dos EUA) divulgaram o mês passado um estudo que conclui haver uma hipótese em três de 2024 vir a ser ainda mais quente do que 2023.