Um novo estudo, realizado por investigadores do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, concluiu que a calota polar da Gronelândia está a perder uma média de 30 milhões de toneladas de gelo por hora, e a culpa é atribuída às alterações climáticas. Isto representa 20% mais do que se pensava anteriormente, explica a equipa.
“As mudanças em torno da Gronelândia são tremendas e estão a acontecer em todo o lado”, diz Chad Greene, glaciologista e líder da investigação, à agência de notícias AFP.
Os cientistas estão agora preocupados com o facto de esta água doce a mais poder levar ao colapso ou enfraquecimento da circulação meridional do Atlântico (AMOC), responsável por transportar água quente do Atlântico Sul para o Norte, e que se encontrava, em agosto de 2021, no nível mais fraco desde há 1600 anos. Se isto acontecer, a Europa Ocidental terá um clima ainda mais imprevisível. Portugal, por exemplo, tenderia a ficar mais frio, uma vez que é esta corrente que torna a temperatura nesta região mais quente do que seria ditado pela latitude.
Nesse mesmo mês, noticiou-se que tinha chovido pela primeira vez sobre as calotas polares da Gronelândia. Normalmente, no pico de mais de três mil metros de altitude, as temperaturas estão abaixo de zero. Mas a queda de chuva seguiu-se a três dias particularmente quentes na região, em que as temperaturas estiveram 18ºC acima do normal – e foi tão inesperada que os cientistas não tiveram forma de a medir.
No mesmo ano, em dezembro, um estudo publicado na revista científica Nature previa que esta tendência continuasse e que a chuva viesse mesmo a substituir a neve – e mais cedo do que aquilo que estava inicialmente previsto. E um estudo recente sugeriu que o colapso da AMOC poderia acontecer já em 2025, no pior cenário.
Na verdade, a grande perda de gelo da Gronelândia, como resultado do aquecimento global, tem sido registada há décadas, com várias técnicas utilizadas a partir de dados gravitacionais, sendo um dos principais motivos para a subida do nível das águas do mar.
No novo estudo, publicado na revista Nature, a equipa analisou dados de mais de 240 mil imagens de satélite, registadas todos os meses entre 1985 e 2022, com o objetivo de determinar a posição final de muitos glaciares, chegando à conclusão de que “quase todos os glaciares da Gronelândia diminuíram ou recuaram nas últimas décadas”.
Os cientistas afirmam ainda que mais de mil gigatoneladas do gelo ao redor dos limites da Gronelândia foram perdidas nos últimos 40 anos, o que é mais 20% do que o total calculado anteriormente.
E apesar de os glaciares analisados no estudo já se encontrarem, na sua maioria, abaixo do nível do mar, pelo que o gelo perdido não afetou diretamente o nível do mar, é “quase certo” que o degelo “tem um efeito indireto”, afirma Greene, podendo levar a um maior derretimento geral do gelo que fica por trás, o que faz com que as massas de gelo deslizem mais facilmente para o oceano.
“Há alguma preocupação de que qualquer pequena fonte de água doce possa servir como um ‘ponto de inflexão’ que poderia desencadear um colapso em grande escala do AMOC, perturbando os padrões climáticos globais, os ecossistemas e a segurança alimentar global”, refere a equipa, acrescentando que, “no entanto, a água doce proveniente do recuo glaciar da Gronelândia não está incluída nos modelos oceanográficos neste momento”.