Os relatos de mamíferos não humanos que balbuciam são escassos. No entanto, uma recente investigação, desenvolvida ao longo de vários meses no Panamá e na Costa Rica, mostrou que os morcegos produzem sons rítmicos e repetem sílabas básicas como forma inicial de comunicação entre a espécie.
“Eles tagarelam, do nascer ao pôr do Sol, para praticar os seus sons. É muito alto, audível até mesmo para o ouvido humano, porque algumas sílabas balbuciadas estão dentro do nosso alcance de audição, outras são muito altas para que possamos ouvir”, escreveu Ahana Fernandez, líder da investigação, num artigo publicado no The Conversation.
A espécie estudada foi o morcego Saccopteryx bilineata e é conhecida por ter uma particular capacidade vocal. É a partir das três semanas de vida que as crias de pêlo escuro, com duas linhas brancas onduladas no dorso, começam a balbuciar durante sete a dez semanas, altura em que apresentam um comportamento balbuciante diário durante grande parte do seu desenvolvimento.
“Crianças humanas balbuciam para interagir com os cuidadores, mas também o fazem quando estão sozinhas, aparentemente felizes em explorar a voz. É o mesmo que fazem os morcegos”, disse à AFP Mirjam Knornschild, co-autora do estudo. “Cada sílaba tem uma forma específica e elas são facilmente distinguíveis”, acrescentou.
A investigação, publicada na revista Science, constatou que os morcegos têm um reportório composto por 25 tipos de sílabas diferentes. Os investigadores, ao analisarem as gravações das crias de morcego a balbuciar, verificaram que estes repetem sílabas-chave que os morcegos adultos usam nas canções territoriais ou de cortesia. Os sons destacam-se pelo seu ritmo e repetição, muito semelhantes aos sons “da-da-da” dos bebés humanos.
“Conhecemos todos os diferentes tipos de sílaba produzidos por morcegos adultos e os que aparecem no balbucio das crias têm semelhanças com a fala dos adultos”, explicou Ahana Fernandez.
Tanto os bebés humanos como os morcegos bebés balbuciam para aperfeiçoar as suas capacidades de controlo vocal, reproduzindo sílabas das conversas que ouvem entre os adultos. A líder da investigação observou como “os bebés se ouvem realmente uns aos outros quando estão a balbuciar. Um começa e balbucia durante 15 minutos ou mais”, enquanto os outros movem as orelhas para escutar.
Até ao momento, esta é a única espécie de morcego conhecida capaz de balbuciar, mas os investigadores acreditam que possam existir mais com esta capacidade, entre as mais de 1 400 espécies de morcego. Além desta espécie, apenas alguns pássaros, duas espécies de saguins e, possivelmente, alguns golfinhos e baleias brancas balbuciam.
Outra descoberta peculiar da investigação é que as mães morcego alteram o timbre da sua voz para falar com as crias, tal e qual como os humanos alteram o timbre da voz quando se dirigem a bebés.
A investigação poderá permitir a comparação da evolução da linguagem entre espécies, uma vez que balbuciar é uma característica da aprendizagem vocal desenvolvida pelo cérebro. Como os morcegos partilham com os humanos a mesma arquitetura cerebral básica, será mais fácil estudar os genes envolvidos na imitação vocal, podendo as conclusões ser transversais a ambas as espécies.