O tempo passa e, como dizia Einstein, “o futuro já aconteceu”. Se há algo transversal a cientistas de diferentes gerações, épocas e áreas é o facto de que, em Ciência, não se prevê o futuro – inventa-se, como defendia o Nobel Dennis Gabor.
Inventar um Futuro onde “nem o céu é um limite” é algo que já se faz no Instituto Superior Técnico (IST) e que Joana Lobo Antunes, comunicadora em Ciência e responsável pela comunicação do IST, mostrou na conferência que conduziu ao início da tarde de domingo no Planetário de Marinha, durante a terceira edição do VISÃO Fest.
Defendendo que a Ciência “é muito mais que resultados práticos”, Joana Lobo Antunes frisou a importância de “fazer perguntas e estar continuamente à procura de algo novo”. No caminho mais ou menos acidentado em direção ao Futuro, a cientistas acredita que o segredo é não nos ancorarmos em afirmações que podem mudar com o tempo.
Em Ciência, aquilo que nos guia são as perguntas, porque tudo o que dizemos hoje pode ser posto em causa amanhã
joana lobo antunes

“Os sítios aonde podemos chegar são inúmeros”, assegurou, “desde que nos proponhamos fazer as perguntas certas e a saber procurar as respostas nos locais certos”. Estes podem, tantas vezes, ser mesmo “na porta ou lado”, ou, neste caso, dentro do Instituto Superior Técnico, onde o futuro é já uma realidade.
O treinador de hackers
O primeiro exemplo trazido por Joana Lobo Antunes foi o da equipa de piratas informáticos de Pedro Adão, professor no Departamento de Engenharia Informática. Numa era em que “os lucros com o cibercrime já ultrapassaram os das drogas ilegais”, este “treinador de hackers” dá táticas a uma equipa de jovens entre os 15 e os 25 anos, a próxima geração de pessoas que estará responsável pela cibersegurança e por proteger os nossos computadores, que compete internacionalmente em campeonatos de hackers.
Descobrir a origem da vida
Depois, a cientista falou do trabalho da astrobióloga Zita Martins, que estuda cometas que caem na Terra para observar moléculas que vêm de outros planetas. “No fundo, estuda o Futuro, olhando para o passado, para a origem da vida. Porque, se conseguirmos perceber se há vida noutros planetas, isso pode dar-nos pistas para saber como é que apareceu a vida no nosso próprio planeta”.
Observar o plástico dos oceanos, a partir do Espaço
Quem também está a olhar para o espaço em busca do Futuro é Leonardo Azevedo. Joana Lobo Antunes explicou como este geofísico usa diversos satélites para fotografar as zonas costeiras e perceber onde é que existe plástico no mar.
Graças à Inteligência Artificial de ponta, Leonardo Azevedo desenvolveu algoritmos que permitem distinguir o que é plástico do que é madeira, espuma ou água, e ainda calcular, através de dados sobre ventos e marés, de onde chegou e para onde vai este plástico. “A vantagem é que assim podemos ir lá tirá-lo, porque sabemos onde está e onde vai estar a seguir”.
O fascinante mundo dos robots
Se o plástico nos Oceanos é um problema a resolver urgentemente, outro desafio do Futuro será a questão da energia. A energia de fusão nuclear é uma das opções mais promissoras e também neste campo Portugal dá cartas.
“Há 20 anos, a professora Isabel Ribeiro voltou dos Estados Unidos da América com a ideia de desenvolver veículos guiados automaticamente, ou AGVs, que são aquilo que hoje estamos habituados a ter em casa sob a forma de aspiradores automáticos, por exemplo”, explicou Joana Lobo Antunes.
De um AGV construído com “rodas de patins e motores de limpa para-brisas, comprados na Feira da Ladra, em Lisboa”, a um AGV de oito metros de comprimento que entregará material numa estação de fusão nuclear em 2039, passaram-se 20 anos e muita vontade de fazer perguntas e obter respostas.
Ainda na área da robótica, Joana Lobo Antunes quis destacar o trabalho de Pedro Lima e Rodrigo Ventura. Pedro Lima, desafiado pelo comandante sapador de bombeiros António Pato, construiu o Raposa, um robot de busca e salvamento, desenhado para ir a sítios onde as pessoas não podem ir, como escombros, para ajudar a encontrar vítimas e sinalizá-las.
Já Rodrigo Ventura melhorou o Raposa, dotando-o de uma ferramenta que permite aos cientistas, através de uma luva e de um joystick, sentir as saliências do terreno por onde o robot está a passar. Esta luva e este guiador acabaram por ser usadas pelo astronauta João Lousada numa missão análoga a Marte, feita no deserto da Jordânia, que serve para treinar na Terra as dificuldades que se poderão encontrar no Espaço.
Precisamos, na Ciência, de espaço e de tempo, porque para acertar, precisamos de errar
joana lobo antunes
Joana Lobo Antunes terminou frisando a necessidade de ter margem para falhar. “Precisamos na ciência de espaço e tempo, porque para acertar, precisamos de errar”
