Depois de uma longa viagem (Veneza – Madrid – Cidade do México), chegámos à capital mexicana dezassete horas depois do nosso embarque em Veneza.
Para chegarmos ao centro da cidade optámos pelo metro, em detrimento do táxi. Às 7h da manhã a Cidade do México, que alberga cerca de vinte milhões de habitantes, é caótica. A agitação sente-se imediatamente à chegada. No momento em que se sai do aeroporto, o buzinar dos carros enche-nos os ouvidos, o cheiro a combustível queimado ou seja, a poluição, é evidente e milhares de pessoas vão surgindo apressadamente sob o nosso olhar.
O metro fervilha de actividade, mas é uma forma bastante segura (em cada plataforma encontramos cerca de três ou quatro polícias) e muito barata de viajar por esta cidade (25 cêntimos de euro o bilhete). Além disso, em hora de ponta, mulheres e crianças viajam separadas dos homens.
Ao sair da estação de metro, no Zócalo – a praça central – deparámo-nos imediatamente com a monumental Catedral Metropolitana, um dos maiores edifícios religiosos da América latina. Ficámos hospedados num hostel simpático, a três minutos desta praça e, depois de deixarmos as mochilas, resolvemos deambular pela cidade.
Passámos pelo Templo Mayor que se encontra em pleno centro da cidade, nas traseiras da catedral. Uma construção asteca que começou a ser edificada em 1325, tendo sido ampliada nos dois séculos seguintes. Na base do templo estão presentes duas cabeças de serpente que simbolizam “Coatepec” – o monte da serpente – local sagrado da mitologia asteca.
Seguimos com destino ao Palácio Nacional – edifício renascentista que actualmente alberga os gabinetes do presidente. Foi construído no local do palácio Moctezuma, antiga residência do conquistador espanhol Hernán Cortés. À entrada, foi-nos explicado que teríamos que medir a temperatura corporal, um procedimento para o controlo da gripe A. De uma forma simples, olhando apenas para um aparelho, verificaram que estávamos aptos a entrar. No interior deste edifício constata-se facilmente a genialidade do pintor Diego Rivera. Ícone da arte mexicana, que entre 1929-1935 retratou a história do México nas paredes internas deste palácio, percebe-se porque é que ficou conhecido como um dos melhores muralista a nível mundial.
Resolvemos almoçar em Teotihuacán “o lugar onde os homens se tornam deuses” – um local considerado sagrado pelos astecas. Perto do recinto das pirâmides existem alguns restaurantes e, na altura de decidir por qual devíamos optar, fomos literalmente abalroados por empregados de mesa que se atropelavam a correr atrás de nós, competindo entre eles.
Teotihuacán é uma área de grande interesse arqueológico, composta por templos, palácios e pirâmides e com uma rua central denominada, pelos astecas, por “avenida dos mortos”.
São de salientar duas pirâmides: a do Sol, e a da Lua, que tinham como finalidade a prática de rituais. Segundo consta, a pirâmide da Lua absorve energia enquanto a do Sol revigora. Por isso mesmo, é frequente encontrar dezenas de pessoas em peregrinação e rituais de oferenda ao Sol no topo desta pirâmide. E, de facto, confirmamos: há algo que se sente nesta pirâmide, um bem estar, uma energia de facto revitalizadora.
No dia seguinte caminhámos pelo centro da Cidade do México, depois de uma rápida passagem pela igreja de Santo Domingo. A primeira paragem foi no museu do pintor e escultor Luís Cuevas, onde estava patente uma exposição dedicada à sua relação com Beatriz del Cármen. No pátio deste edifício encontra-se uma imponente estátua em bronze do artista chamada “La giganta”.
Durante este passeio tornou-se evidente a aproximação de uma data celebrada com fervor pelos mexicanos, o dia dos mortos. Por todo o lado encontramos flores amarelas de calêndula, dispostas em altares com velas e caveiras, figuras de esqueletos e até estátuas da “santa muerte”. No Zócalo pudemos ainda assistir a um ritual xamânico de purificação do espírito, através do uso de plantas e de defumações.
Na parte da tarde visitámos o Bosque de Chapultepec (colina do gafanhoto). Esta área verde é o pulmão da Cidade do México e o segundo maior parque urbano da América Latina. Encontra-se cheio de comerciantes que vendem, em pequenas tendas, doces, algodão doce, tacos…e tudo o que possam imaginar.
Daqui rapidamente se chega ao Museu Nacional de Antropologia, o local perfeito para conhecer todas as culturas pré-colombianas. No rés-do-chão, encontram-se achados arqueológicos de cada uma das civilizações, e no andar superior estão as colecções de etnologia. É sem dúvida um lugar que não se pode prescindir de visitar.
No sábado, ao chegarmos ao Zócalo (onde iríamos apanhar o metro), deparámo-nos com um espectáculo monumental: dezenas de figuras místicas e imaginárias com vários metros de altura, modeladas em papel e pintadas com milhares de cores, coloriam o centro da cidade. O desfile destas criaturas fantásticas decorreu durante a tarde.
Partimos do centro com destino a San Angél onde visitámos o Museu Nacional da Acuarela – um espaço ajardinado, muito tranquilo, que nos fez esquecer que estávamos numa cidade tão agitada. Encontra-se aqui uma exposição permanente do pintor Alfredo Guati Rojo, fundador deste museu, e outra temporária de cinco artistas mexicanos denominada “Concordância”.
Continuámos o passeio em direcção ao centro de San Angél, atravessando o Jardim de la Bombilla onde se encontra um monumento de homenagem a Álvaro Obregón.
Chegando à praça de San Jacinto encontrámos muitos pintores e artesãos a expor as suas obras. Aconselhamos que neste trajecto se faça uma visita às igrejas de San Jacinto e del Cármen. No dia que as visitámos, em ambas decorriam cerimónias de crisma onde os convidados primavam pelo excesso de aprumo e de cor.
Chegando a Coyacan rumámos à Casa Azul, que foi da família Kahlo e posteriormente de Frida e Diego Rivera. Com um jardim muito agradável, esta casa deixa-nos entrar no mundo de dois pintores que marcaram a arte mexicana. Aqui encontramos quadros dos artistas, cartas, objectos pessoais e uma energia difícil de descrever.
Da Cidade do México trouxemos novos conhecimento, boas recordações e a sensação de que estivemos numa cidade segura, onde cada rua tem cerca de quatro a cinco policias: uma única estação de metro é mais policiada que toda a rede de metro de Lisboa. É de facto impressionante, estivemos em D.F. em 2007 e não havia com certeza um quarto da polícia que encontrámos desta vez. Raros foram os momentos em que olhámos à nossa volta e não vimos um agente fardado.
Partimos agora para o estado de Michoacan, para a cidade de Patzcuaro.
Até lá.