Entre amendoins, pistácios, cajus, avelãs, nozes ou amêndoas os frutos secos ocupam, nesta altura do ano, um lugar de destaque nas mesas festivas, a servir de acompanhamento ou aperitivo. Divididos entre oleaginosos e desidratados, os frutos secos são nutricionalmente muito ricos e contêm uma grande diversidade de vitaminas, fibras e minerais essenciais ao bom funcionamento do organismo e que ajudam a prevenir o aparecimento de doenças – como as cardiovasculares e neurológicas – a promover o bem-estar.

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As oleaginosas – tal como o nome indica – são frutos com um elevado teor de ácidos gordos polinsaturados, também designados por “gordura saudável” que contribuem, sobretudo, para a saúde do coração. Este é o caso das nozes e das amêndoas, frutos secos muito consumidos em Portugal e dos quais falamos neste artigo.

As nozes, por exemplo, são uma fonte de gorduras polinsaturadas. Com origens na Pérsia – atual Irão -, China e Japão, passaram a ser de consumo comum no continente europeu durante a Grécia e Roma e antiga, sendo atualmente um fruto muito apreciado em Portugal e produzido nas regiões de Trás-os-Montes e Alentejo.

  • Contribuem para a saúde cardiovascular – Com elevados níveis de gorduras polinsaturadas – como os ácidos gordos ómega-3 – as nozes ajudam a diminuir o “mau” colesterol no sangue – também conhecido por LDL – e a prevenir problemas cardiovasculares. O ómega-3 tem ainda propriedades anti-inflamatórias.
  • Ricas em vitamina – Ricas em vitaminas B6, as nozes contribuem para a saúde do sistema hormonal, imunitário e nervoso e estimulam a produção de proteínas e glicogénio, que contribuem para a diminuição da sensação de cansaço e fadiga.
  • Propriedades anticancerígenas – Com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, as nozes contribuem para o envelhecimento celular, contribuindo assim para a prevenção de alguns tipos de cancro.
  • Ajudam a evitar a malformação do feto durante a gravidez – Com elevados níveis de ácido fólico, este fruto de casca rija é também muito benéfico para mulheres grávidas ao contribuir para o normal desenvolvimento do feto e para prevenção de malformações.
  • São uma fonte de ferro – Um mineral muito importante na prevenção de anemia e para o sangue.
  • Promovem a saúde cognitiva – Com ácidos gordos essenciais, as nozes têm um impacto positivo na função cognitiva.

Apesar dos benefícios, as nozes são um fruto bastante calórico – mesmo promovendo a sensação de saciedade – e devem ser consumidas, à semelhança de outros alimentos, com moderação.

Já as amêndoas, também oleaginosas, são também muito ricas em fibras, nutrientes e vitaminas do complexo B2 e E. Consumidas também em épocas especiais – nomeadamente na Páscoa – as amêndoas, fruto da amendoeira, são originárias da Ásia Central, tendo sido os árabes a introduzir a sua produção em Portugal. As suas principais plantações, no país, estão localizadas no Algarve e em Trás-os-Montes.

  • Ajudam a prevenir o cancro – Ricas em vitamina E, as amêndoas são antioxidantes que ajudam a combater a presença de radicais livres no organismo, associado muitas vezes ao desenvolvimento de determinados tipos de cancro.
  • Reduzem a tensão arterial – Com um elevado teor de potássio na sua composição, o consumo deste fruto estimula a eliminação de sódio pela urina, contribuindo assim para o equilíbrio da tensão arterial. Também são muito ricas em magnésio, um mineral que ajuda a reduzir o cansaço e a fadiga.
  • Promovem a saúde cardiovascular e ajudam a controlar os níveis de colesterol – Com ómega 3,6 e 9, as amêndoas são bastante ricas em gordura saudáveis que possuem propriedades anti-inflamatórias, que estimulam a circulação sanguínea e que ajudam a reduzir os níveis de LDL no organismo. Os seus compostos promovem ainda o equilíbrio dos níveis de colesterol e de triglicéridos. De acordo com o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da Direção-Geral da Saúde, cerca de 28 gramas de amêndoas são suficientes para fornecer a um adulto “14 % das necessidades diárias de fibra alimentar”, uma “substância essencial ao bom funcionamento dos intestinos, à prevenção de determinados tipos de cancro e à regulação do colesterol”.
  • Ajudam a controlar a diabetes – O elevado teor de fibra presente nas amêndoas ajuda a diminuir a velocidade de absorção de açúcar no sangue e a controlar os níveis de glicose. No mesmo sentido, os antioxidantes, flavonoides e taninos que também se encontram presentes na sua composição contribuem para o bom funcionamento do pâncreas, órgão produtor e insulina.
  • Podem ajudar quem quer perder peso – Por serem ricas em fibras, as amêndoas (mas também as nozes) prolongam o tempo de digestão e contribuem para o sentimento de saciedade.
  • Ajudam a prevenir o aparecimento de doenças como o Alzheimer – A vitamina E e os flavonoides presentes nas amêndoas ajudam ainda a proteger as células nervosas e contra a ação dos radicais livres e a prevenir o desenvolvimento de doenças neurológicas como o Alzheimer ou a demência.
  • Fortalece os ossos – Ricas em minerais como o fósforo, magnésio ou cálcio, as amêndoas ajudam a fortalecer os ossos e a prevenir doenças como a osteoporose ou a reduzir o risco de fraturas.
  • Tem benefícios na pele – Além dos benefícios nutricionais, as amêndoas têm efeitos positivos na pele. O óleo de amêndoas doces ajuda a hidratar e proteger a pele e a prevenir o aparecimento de estrias, sendo sobretudo indicado para peles sensíveis.

“Esta riqueza mineral e vitamínica, ainda por cima sem colesterol e sal, tornam a amêndoa um alimento interessante para ser consumido regularmente ao longo da semana e integrado numa alimentação saudável”, lê-se no site da DGS. À semelhança das nozes, são também um fruto com um valor calórico elevado.

Será necessário ter em consideração que a grande maioria das misturas de frutos secos que, geralmente, se encontram em pequenos pacotes nos supermercados são de evitar dado que, por norma, o seu teor de sal é bastante elevado e poderá ter consequências na saúde.

Gisèle Pelicot fez tudo ao contrário do que seria esperado ou, pelo menos, do que ditavam os conselhos mais prudentes. Os seus advogados começaram por querer que o julgamento decorresse à porta fechada. Mas ela insistiu que fosse público. Depois, ainda defenderam que se evitasse a exibição das imagens e dos vídeos que são a prova da miséria moral e da barbárie. E ela voltou a insistiu que estes fossem mostrados. A francesa de 72 anos – que, entretanto, foi transformada num símbolo do feminismo à escola global e que, por isso mesmo, é uma das mulheres que se destacaram durante 2024 – não só não se escondeu como fez ainda questão de comparecer a todas as sessões no tribunal.

Em todas essas situações, a intenção seria boa, tinha como objetivo protegê-la, tinha passado pelo inferno na Terra e estava fragilizada. Gisèle Pelicot não quis propriamente exibir-se, mas dispensou todos esses cuidados. Queria transformar o seu drama individual numa causa pública, explicou. Os próprios advogados acabaram por compreender: “Ela quer que as pessoas saibam o que lhe aconteceu e acredita que não tem motivos para esconder. Goste-se ou não, este julgamento ultrapassa os limites deste tribunal. E ficar de portas fechadas também significa pedir à minha cliente que seja trancada num lugar com aqueles que a atacaram.”

Sentença O tribunal condenou os 51 homens que se sentaram no banco dos réus. À saída, Gisèle Pelicot disse pensar “nas vítimas não reconhecidas cujas histórias permanecem na sombra” Foto: LUSA

Mesmo quando falou, mesmo quando diante dos que a maltrataram disse sentir-se uma “boneca de trapos” e “um campo de ruínas”, a septuagenária revelou sempre a calma e a serenidade dos que mantêm toda a dignidade, apesar da tragédia humana em que se veem envolvidos. Contou em tribunal o caos em que a sua vida se transformou quando soube a verdadeira razão que estava por detrás dos problemas ginecológicos de que sofreu, das doenças sexualmente transmissíveis que contraiu, da queda de cabelo, das enxaquecas, dos apagões de memória que, por ingenuidade, atribuía à doença de Alzheimer.

O julgamento dos crimes de Mazan, uma localidade de seis mil habitantes, na periferia de Carpentras, começou no princípio de setembro, em Avignon. Foi um julgamento rápido, durou pouco mais de três meses, até à sentença. A certa altura, Gisèle Pelicot tirou os óculos de sol que inicialmente lhe ocultavam o olhar e enfrentou, olhos nos olhos, os 51 homens que se sentaram no banco dos réus: o seu ex-marido, Dominique Pelicot, e mais outros 50 por ele recrutados num chatroom (e estes 50 são apenas os que, entre os 72 suspeitos, as autoridades francesas conseguiram identificar). “Fui sacrificada no altar do vício”, afirmou no tribunal. “Que mulher podia suportar isto?”

Combate por um mundo melhor

Gisèle Pelicot dispensou protagonismos e mediatismos, mas sempre agradeceu a atenção. Durante o julgamento, foi recolhendo apoios de todos os cantos do mundo. Chegou a usar um lenço que lhe foi enviado da Austrália por uma organização ligada à violência sexual sobre mulheres mais velhas. Involuntariamente, fez-se heroína, porque foi capaz de transpor o sentimento da vergonha – associada às vítimas de violência sexual – para o lado dos agressores. Quando, na semana passada, foi lida a sentença, relataram os jornalistas presentes na sala que a maioria dos homens chorou em silêncio e baixou a cabeça.

Revelou sempre a calma e a serenidade dos que mantêm toda a dignidade, apesar da tragédia humana em que se veem envolvidos

O caso Pelicot começou por chocar a França e, depois, as suas ondas de choque estenderam-se pelo mundo fora. O impacto foi tal ordem que o tribunal de Avignon recebeu centenas de pedidos de acreditação de órgãos de informação vindos de todo o lado. A discreta avó francesa – que apenas tencionava ter uma reforma tranquila na região da Provença, ao lado do homem com quem partilhou 50 anos de vida em comum – não se conformou e, na medida do que estava ao seu alcance, quis mudar o mundo. Transformou o insustentável drama da sua vida – durante dez anos, foi drogada, agredida e violada pelo marido, o qual recrutou na internet dezenas de outros homens para a violarem também – num combate por um mundo melhor. Quando lhe chamaram corajosa, ela foi clara e respondeu: “Não é bravura, é a vontade e a determinação em mudar a sociedade.”   

Na semana passada, quando o Tribunal Criminal de Vaucluse, em Avignon, no Sul de França, condenou todos os homens que abusaram dela, à porta do tribunal, houve gritos e sobretudo houve aplausos. E cartazes, palavras de ordem por todo o lado: “Bravo, madame”, “merci, Gisèle”.

Dominique foi condenado à pena máxima, 20 anos de prisão. Os outros 50 homens também foram considerados culpados, com penas entre os três e os 15 anos de cadeia (algumas das penas são inferiores às que foram solicitadas pelos procuradores e, por isso, sofreram algumas críticas, nomeadamente, dos filhos de Gisèle). No total, houve 46 condenados por violação, dois por tentativa de violação e outros dois por agressão sexual.

Iranianas de coragem

Em novembro, a estudante Ahoo Daryaei protestou contra o assédio da “polícia da moralidade” para usar o hijab, o lenço islâmico obrigatório, sem bandeiras nem pedras, sem cartazes nem multidão. Simplesmente, despiu-se e, em roupa interior, fazendo do corpo um manifesto, caminhou pela Universidade Islâmica Azad, em Teerão – até ser forçada a entrar num carro misterioso. As autoridades comunicaram que foi levada para um hospital psiquiátrico porque sofria de problemas mentais – o argumento mais usado para conter os protestos das iranianas, confrontadas com a crescente e violenta repressão, e a que a Amnistia Internacional apelida de “guerra contra as mulheres e as raparigas”. Agora, o Irão suspendeu (temporariamente?) a promulgação de uma lei duríssima sobre o uso do hijab, com sanções severas até prisão por 15 anos. Dizem os analistas que foi por receio de um reacender dos protestos, ocorridos no pós-assassinato de Mahsa Amini, por uso indevido do lenço, em 2022. A coragem das iranianas está a abrir rachas no regime?

No final da sentença, Gisèle trazia uma mensagem para ler. “Foi um processo muito difícil e, neste momento, penso sobretudo nos meus três filhos: David, Caroline e Florian. Penso também nos meus netos porque eles são o futuro. Também foi por eles que travei esta batalha. Gostaria de exprimir a minha gratidão a todas as pessoas que me apoiaram. Penso também em todas as outras famílias afetadas por esta tragédia. Por fim, penso nas vítimas não reconhecidas cujas histórias permanecem muitas vezes na sombra”, disse.

Numa declaração sem ponta de raiva ou de rancor, Gisèle dirigiu-se a todas as outras vítimas e, sobretudo, às que preferem manter o anonimato: “Quero que saibam que partilhamos o mesmo combate. Quando abri as portas do processo, a 2 de setembro, era exatamente isso que queria fazer: que a sociedade possa apreender os debates que ali tiveram lugar. Nunca me arrependi dessa decisão.” 

Com a mesma serenidade, Gisèle Pelicot falou ainda no futuro: “Estou agora confiante na nossa capacidade de aproveitar coletivamente um futuro em que todos, mulheres e homens, possam viver em harmonia, com respeito e compreensão mútuos.”    

Claudia Sheinbaum

A lutadora

Vencedora das eleições presidenciais com 59% dos votos, Claudia Sheinbaum, a primeira mulher Presidente do México, prometeu logo às horas iniciais: “Não vou desiludir-vos.” Mas os desafios serão muitos a testar a determinação da “dama de gelo” na gestão de uma das maiores potências sul-americanas. Física de formação, filha de académicos e neta de emigrantes judeus oriundos da Lituânia e da Bulgária, governadora da megalópole Cidade do México durante a pandemia, esta política de esquerda, “filha do Maio de 68”, tem currículo estelar. Os analistas apontam-lhe um estilo assente em racionalidade, gestão e cálculo. Qualidades que serão postas à prova quando o próximo inquilino da Casa Branca, Donald Trump, a pressionar sobre imigração, fecho de fronteiras e tráfico de drogas – como, aliás, já o fez num telefonema. A Presidente respondeu-lhe que “a posição do México não é fechar fronteiras, mas construir pontes entre governos e entre povos”. As próximas conversas poderão alterar radicalmente o equilíbrio de forças (e as economias?) destes vizinhos.

O caso Pelicot terá ultrapassado fronteiras pela recusa de Gisèle em manter-se na sombra, mas também pela escala de horror e depravação que envolve. Ler e ouvir as descrições é uma verdadeira descida aos infernos. É preciso recuar a 2 de novembro de 2020, quando a francesa foi chamada à polícia. O marido – um pai dedicado e um avô extremoso – foi apanhado em flagrante numa mercearia a tentar filmar por baixo das saias das mulheres. Foi nessa investigação que a polícia encontrou uma drive com 20 mil ficheiros de imagem e vídeo de Gisèle a ser agredida e violada por dezenas de homens. Também foram encontradas fotografias da filha do casal, Caroline, e das noras. Apesar de Dominique negar, Caroline acredita ser sido também abusada sexualmente pelo pai. Escreveu um livro, que já teve edição inglesa, intitulado Et J’ai Cessé de T’Appeler Papa (E Deixei de te Chamar Pai).

“Sou um violador”

Durante os últimos quatro meses, os que se sentaram no banco dos réus ficaram conhecidos por monsieur tout-le-monde, por serem homens comuns, com profissões e contextos familiares ditos normais, jornalistas, enfermeiros, motoristas, funcionários públicos, bombeiros… Muitos deles são pais – um deles até tinha em curso um processo de adoção de uma criança. Com idades compreendidas entre os 26 e os 74 anos, foram todos recrutados por Dominique num chatroom, um tenebroso subterrâneo da internet que, entretanto, já foi encerrado (embora não tenha sido suspenso na sequência deste caso, por incrível que pareça).

Dominique Pelicot confessou todos os crimes. “Sou um violador”, respondeu logo na primeira vez que foi ouvido no tribunal. “Sou culpado do que fiz. Peço à minha mulher, aos meus filhos, aos meus netos… que aceitem as minhas desculpas. Peço-lhes perdão, mesmo que não seja aceitável”, continuou.

Dos 50 homens, cerca de 30 argumentaram que Gisèle tinha consentido as agressões. Como se tudo fizesse parte de um jogo sexual

Dos 50 homens, cerca de 30 argumentaram que Gisèle tinha consentido as agressões e que todas as situações tinham sido previamente combinadas com o casal. Como se tudo fizesse parte de um jogo sexual, ainda tentaram denegrir Gisèle. À acusação, bastou-lhe passar os vídeos que atestam a barbárie para ser evidente, justificaram os advogados, “o estado de torpor mais próximo do coma do que do sono”, induzido por uma mistura de ansiolíticos e comprimidos para dormir. Uns admitiram desconhecer o conceito de consentimento e outros ainda alegaram julgar que bastava a presença de Dominique para que existisse consentimento. Também houve homens que disseram ser homossexuais: declararam que, quando entraram na casa dos Pelicot, pensaram que iriam ter sexo com Dominique…

O caso Pelicot não só promoveu o debate em torno do consentimento e da agressão sexual como, do ponto de vista legislativo, é provável que venha  suscitar alterações. Politicamente, a França continua no arame e, por isso, é mais do que natural que tudo isto demore o seu tempo a ser concretizado. Há um mês, o antigo primeiro-ministro francês, Michel Barnier, já tinha anunciado que, até ao fim de 2025, iriam simplificados os procedimentos para apresentar queixa de violência doméstica nos hospitais franceses. Independentemente disso, de agora em diante, haverá sempre um antes e um depois deste caso.

Quatro meses bastaram para que muitos considerassem que Gisèle Pelicot deveria ser escolhida como uma das mulheres do ano. Pelo testemunho, por não se ter escondido, por não ter assumido a vergonha como sendo dela. Pelo facto de ter aceitado ser o rosto sereno da coragem, por ter feito tudo ao contrário do que era esperado. Por não ter desistido, mesmo quando isso significava mostrar ao país e ao mundo que tinha vivido 50 anos, mais de metade da sua vida, ao lado de um homem que agora é “o diabo” (a imagem é de um dos filhos do casal, Florian). Para travar a sua luta, Gisèle pensou, muito provavelmente, nos seus três filhos e, sobretudo, nos seus sete netos. Como ela própria proferiu, à porta do tribunal, eles são o futuro. E todos – a começar por Gisèle, aquela que se reconstruiu – têm o futuro pela frente.

Ursula von der Leyen

Ursula maior

Reeleita para um segundo mandato na presidência da comissão europeia, Ursula von der Leyen lutou pela paridade de género – apesar da relutância de vários Estados-membros, fez subir as nomeações de mulheres para o novo colégio, de 22% para 40%. A sua equipa tem 11 mulheres, incluindo quatro vice-presidentes. Kaja Callas, primeira-ministra da Estónia, agora Alta Representante da União Europeia para Relações Externas e Política de Segurança, é uma crítica vocal de Putin; Teresa Ribero, ministra espanhola do Ambiente que sucede à carismática Margrethe Vestager, lidera a Transição Verde e a Concorrência – e é uma opositora aos combustíveis fósseis e à energia nuclear; a finlandesa Henna Virkkunen, comissária europeia para a Tecnologia, tem a cargo Soberania Digital, Segurança e Democracia – com a Inteligência Artificial à porta; a romena Roxana Mînzatu assumiu Pessoas e Competências – o capital humano de um continente em perda competitiva. A portuguesa Maria Luís Albuquerque tem os Serviços Financeiros e União da Poupança e Investimento.

Os tablets querem-se grandes – e quanto melhor for o ecrã, mais perto ficarão estes equipamentos de cumprir impecavelmente a missão para a qual foram feitos. O que, no caso destes dispositivos, envolve acima de tudo o consumo de vídeos, redes sociais, sites de notícias, serviços de streaming, jogos e aplicações de desenho. Este Samsung Galaxy Tab S10 Ultra dá-nos tudo isto, mas num formato XXL e agora também com muitas funcionalidades de Inteligência Artificial. 

É difícil não ficarmos ‘em sentido’ assim que tiramos o tablet da caixa. Tão grande que ele é… e tão fino. Dois atos que, quando feitos em simultâneo, sabemos que são difíceis de conjugar. Mas a Samsung fá-los com gabarito. Temos, por um lado, uma espécie de supertablet, com um ecrã de 14,6 polegadas e que, por exemplo, é inclusive maior do que o ecrã de muitos portáteis de trabalho… E que ecrã, caros leitores. Como é típico dos equipamentos da Samsung, há muita nitidez, muito brilho, mas há acima de tudo cores fortes, expressivas (ainda que com um perfil quente) e contrastes apurados, o que torna a visualização de conteúdos um mimo para os olhos.

Temos, por outro, um tablet que é muito fino, o que facilita bastante no agarrar. A questão é que em termos de ergonomia e usabilidade do hardware, este é um tablet muito difícil de manobrar. É que por muito fino que seja, o formato XXL tem influência noutros elementos, neste caso o peso (é demasiado pesado para se segurar apenas com uma mão e torna-se cansativo ao fim de algum tempo) e no próprio manuseamento.

Samsung Galaxy Tab S10 Ultra
Samsung Galaxy Tab S10 Ultra

Por exemplo, é difícil arranjar uma posição confortável para ‘agarrar’ o tablet em cima do nosso colo enquanto estamos no sofá a ver uns vídeos e torna-se quase impossível jogar de forma confortável jogos como Diablo Immortal ou Call of Duty Mobile… Fica uma sugestão para uma futura versão – um tablet deste tamanho tem de trazer, de alguma forma, um suporte na parte traseira que o torne um pouco mais prático e funcional. 

Galaxy Tab S10 Ultra: Desempenho para dar e vender

O Ultra no nome não é, obrigatoriamente, uma referência apenas para o tamanho. É que do ponto de vista do desempenho este tablet também é um ‘martelão’, tendo conseguido os melhores resultados nesta categoria nos nossos típicos testes de desempenho. O que isto significa na prática? Uma elevada fluidez em tudo o que fazemos neste tablet – independentemente da aplicação, incluindo os jogos já referidos com as definições no máximo, e até mesmo quando temos mais do que uma aplicação em aberto em simultâneo, algo que deverá aproveitar num dispositivo deste tamanho.

A área na qual ficamos mais agradavelmente surpreendidos foi nas integrações de Inteligência Artificial que a Samsung faz. O pacote de funções Galaxy AI aqui é trabalhado para fazer mais sentido no formato de tablet. A nossa funcionalidade preferida chama-se “Esboço para imagem” e permite, tal como o nome indica, transformar um rabisco num desenho muito mais composto, através da geração por IA.

Nas “Notas escritas à mão”, o tablet é capaz não só de formatar o texto que apontamos, como é ainda capaz de gerar resumos ou traduzir – o que mostrou um elevado nível de eficácia e surpreende, já que aqui a conversão é de escrita manual para escrita de máquina com interpretação pelo meio. Há ainda outras funcionalidades úteis, como o sistema de tradução de PDF ou páginas web inteiras e que, pouco a pouco, se tornam aliados úteis na nossa vida digital. Mas também é justo dizer que nos parece que há uma ‘sobrecarga’ de funções de IA e que acabarão por se perder no tempo – por exemplo, queremos mesmo que o fundo de ambiente de trabalho mude com base na hora e na meteorologia?

Ainda a respeito da Inteligência Artificial, uma achega sobre como estes sistemas funcionam. A Samsung tem uma opção que, quando ativada, permite “processar dados apenas no dispositivo”, uma escolha que muitos nos agrada ver e que nos parece importante à medida que a IA vai invadindo as nossas vidas. Mas assim que tentamos, por exemplo, usar o assistente de fotografia para transformar uma selfie nossa num desenho animado 3D, recebemos a notificação a dizer que precisamos de desligar a opção do processamento no dispositivo… E quando desligamos para um, desligamos para todos. No limite, esta opção deveria poder ser controlada função a função. Fica mais uma dica.

Já aqui falamos na aplicação da IA ao desenho, mas esta vertente do tablet merece uma nota à parte. Para começar, o Galaxy Tab S10 Ultra traz o estilete S Pen de origem, o que é a opção certa, na nossa perspetiva, neste tipo de tablet e segmento de preço. E a experiência é de facto muito boa. Temos uma latência praticamente inexistente, o que conjugado com a elevada taxa de fluidez do ecrã e a ponta em borracha, tornam o deslizar muito suave e natural. 

Samsung Galaxy Tab S10 Ultra

Há elementos neste Galaxy S10 Ultra que, apesar de tudo o que já foi dito do lado positivo, merecem uma nota para enquadramento importante dos utilizadores: a autonomia pode ser considerada muito boa olhando para o tamanho gigantesco do ecrã, mas no grande esquema dos tablets fica abaixo do que estamos habituados; vemos o entalhe das câmaras frontais como desnecessário (e uma câmara provavelmente bastaria…) e o tamanho acima do habitual faz com que muitas vezes a interface seja distinta do que estamos habituados, pelo que exige alguma curva de aprendizagem.

Além disso, não pensamos que seria necessário escrever algo do género numa análise nos dias que correm, mas o sistema de vibração do tablet é… estranho? A vibração é muito seca e parece estar posicionada só de um lado, o que torna desagradável os feedbacks que o equipamento vai dando (claro, podemos desligar isto por completo). Em contrabalanço, podemos destacar o bom desempenho global das câmaras incorporadas, o sistema de som pujante e com muito volume, e o facto de este tablet manter aquelas que são funcionalidades de nicho, mas que distinguem positivamente a Samsung, como o DeX, que permite usar este tablet num modo quase como se fosse um PC.

Há um outro enquadramento importante – esta até é a versão baratinha do tablet… a versão com 1 TB de armazenamento e suporte para redes 5G custa 1999,83 euros. Pelo que todos os prós e contras devem ser muito bem pesados na hora de fazer o investimento.

Chegados aqui, é justo dizer que o Galaxy Tab S10 Ultra é um dos melhores, mais completos e mais funcionais tablets que já nos passaram pelas mãos. Mas o nível de preço no qual se insere só se justifica por completo para, por exemplo, artistas digitais para quem o tamanho e a potência extra do tablet podem ser monetizadas. 

Tome Nota
Samsung Galaxy Tab S10 Ultra | €1429,90
samsung.com/pt

Benchmarks Antutu: 1811991 • CPU 481727 • GPU 680828 • UX 298006 • Memória 351430 • 3DMark: Wild Life Extreme 4842 (29 fps) • Solar Bay 7894 (30 fps) • Steel Nomad Light 1722 (12,7 fps) • PCMark Work 3.0 16760 • Autonomia 9h20 • Geekbench Single/Multi 2084/7085 • GPU 12113

Ecrã Excelente
Software Excelente
Construção Excelente
Autonomia Bom

Características Ecrã Dynamic AMOLED 2X 14,6″, 2960×1848 p, 120 Hz, 930 nits (máx.) • Proc. MT Dimensity 9300+, GPU Immortalis-G720 MC12 • 12 GB RAM, 256 GB armaz. • Câmara 13 MP (f/2.0), 8 MP (ultra grande angular), 12 MP (selfie), 12 MP (selfie ultra wide) • 4x altifalantes • BT 5.3, Wi-Fi 7, USB-C (45 W) • Samsung OneUI 6.1, Android 14 • Bateria: 11.200 mAh • Resistência a pó e água (IP68) • 208,6×326,4×5,4 mm • 718 g

Desempenho: 5
Características: 5
Qualidade/preço: 2,5

Global: 4,2

Primeiro, senti-me comovida ao recordar a minha mãe, ao lado da minha cama de hospital, a dar-me um pão com fiambre. Mais tarde, lembrei-me da excitação de me esconder dos médicos na ronda matinal, a acreditar com todo o meu coração que eles não me viam. Duas memórias da minha hospitalização, aos 4 ou 5 anos, regressaram quando, no passado mês de julho, estive vários dias internada, exatamente no mesmo hospital. Aos 48 anos, voltei a perceber a maravilha de ser criança, porque agora não posso fugir aos médicos, nem fantasiando.

São poucas as memórias que temos da nossa infância. Afinal, “até aos 2 anos, o hipocampo ainda não está maturado para podermos recordar no futuro. Até aos 5 anos, a nossa linguagem não está bem desenvolvida e, enquanto adultos, para recordarmos, pedem-nos para usarmos um código linguístico”, explica Pedro Albuquerque, professor no departamento de Psicologia Básica da Escola de Psicologia da Universidade do Minho. “Às vezes, digo aos meus alunos que, até aos 5 anos, as memórias são guardadas em gavetas com cores: episódios azuis, amarelos, vermelhos…”, acrescenta.

Estas lembranças serão apenas histórias contadas pelos meus pais? Seja como for, passaram a fazer parte de mim. “É raro recordarmo-nos de algo que tenha ocorrido antes dos 3 – 4 anos. A partir daqui, começamos a reter memórias (consciente e inconscientemente, memória explícita e implícita) que vão estruturando a nossa forma de ver o mundo e de nos comportarmos nele. A personalidade vai-se estruturando naquilo que vamos experienciando e retendo dessas experiências”, explica Diogo Telles Correia, médico psiquiatra, psicoterapeuta, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) e diretor da Clínica Universitária de Psiquiatria e Psicologia Médica da FMUL.

“A raiva é muito ativadora da memória e a tristeza é desativadora”

Pedro Albuquerque, Professor no departamento de Psicologia Básica da Escola de Psicologia da Universidade do Minho

“A linguagem não é apenas uma forma de comunicação (e expressão), mas também uma forma de representarmos o mundo na nossa mente. Deste modo, é possível que a linguagem esteja implicada no processo de retenção da memória, mas também no processo de evocação desta memória”, acrescenta Diogo Telles.

As recordações mais antigas, muitas vezes, acabam por vir à superfície, ativadas por um odor ou um som e não por uma palavra. Precisamos do estímulo certo para lembrar. É isso que explica Pedro Albuquerque: “A melhor pista para recordar hoje um episódio é aquela que eu usei quando processei esse episódio. Se associei uma memória a uma música, quando ouvir a música, é mais provável que essa memória seja recordada.” Inserida naquele ambiente hospitalar, talvez tenha encontrado não uma, mas muitas pistas nos cheiros, ritmo e sons.

Criar e reter memórias

Como se formaram e conservaram aquelas lembranças ao longo de tanto tempo? Os especialistas decifram: a memória existe em diferentes formatos (ver caixa “Os vários tipos de memória”) e a sua geração depende de três mecanismos: codificação, retenção e recuperação. “O processo de codificação ou de aquisição corresponde ao momento em que nos confrontamos com o episódio. Se der mais atenção à informação, é mais provável que mais tarde a recorde”, constata Pedro Albuquerque.

Também é preciso reter esses dados usando dois elementos fundamentais. Em primeiro lugar, guardamos melhor aquilo que faz mais sentido para nós. Pedro Albuquerque recorre à metáfora da biblioteca para clarificar: “Se coloco a informação numa estante que conheço, quando precisar dela vou exatamente ao local onde está a informação. A consolidação ocorre na retenção – é a transformação das memórias que estão num estado volátil, não solidificadas.”

Outro elemento crucial é a qualidade do sono. “O sono tem uma série de ciclos REM e não REM, que produzem uma proteína associada a neurotransmissores que ajudam à consolidação das memórias processadas durante o dia”, constata Pedro Albuquerque. “Para se consolidarem, as memórias têm de seguir mecanismos neurobioquímicos, passando de um processamento no hipocampo para um processamento cortical [no córtex cerebral]”, acrescenta.

Existe ainda o momento da reconsolidação das memórias. Quando voltamos a relatar um evento passado, a memória regressa a um estado de fragilidade, de volatilidade, antes de ser novamente consolidada. Segundo Pedro Albuquerque, “isto tem vantagens e problemas. A memória pode ser mudada. A reconsolidação pode levar a novos dados, novas informações, algumas verdadeiras, outras falsas”.

Do Minho para a polícia de Los Angeles

A polícia de Los Angeles, nos Estados Unidos da América, começou a utilizar, na formação dos seus detetives, uma técnica de entrevista a testemunhas de crimes desenvolvida na Universidade do Minho (UM). “É uma entrevista cognitiva para ajudar testemunhas cooperantes a recordar mais detalhes”, conta Pedro Albuquerque, professor no departamento de Psicologia Básica da Escola de Psicologia. “Desenvolvemos a técnica de recordação por categorias, ou seja, se se relatar primeiro tudo sobre as pessoas, depois tudo sobre o local e, a seguir, tudo sobre os objetos, etc., aparecem mais detalhes”, acrescenta. A investigação foi desenvolvida durante a tese de doutoramento do seu aluno Rui M. Paulo. Esta é uma das muitas estratégias que as polícias, um pouco por todo o mundo, adotam para recolher dados fidedignos. Afinal, se as testemunhas cooperantes não fizerem de imediato o seu relato, podem estar sujeitas à informação, correta ou errada, que surge nos média ou numa conversa de café. “Por vezes, a memória altera-se com traços que julgamos associados ao episódio inicial, mas que, na verdade, são o conjunto de informação que vamos absorvendo. Criam-se memórias falsas”, explica o investigador.

Por isso, algumas polícias, como a inglesa, quando estão perante dezenas de testemunhas para entrevistar e têm pouco tempo e recursos, “entregam um caderninho em que as pessoas fazem um relato escrito do que viram. Isto permite que a testemunha esteja menos sujeita à desinformação”, refere Pedro Albuquerque. Outras estratégias são utilizadas, por exemplo, na parada de identificação de suspeitos, de modo a reduzir a condenação de inocentes. Se dissermos à testemunha que “o suspeito pode não estar presente, a pessoa precisa de muito mais informação para decidir e, assim, diminui drasticamente a quantidade de falsos positivos”, alerta o professor.

Amor, raiva, medo, alegria e tantas outras emoções têm um papel na criação de recordações. Uma relação íntima que também começa no processamento cerebral: o hipocampo (a estrutura inicial da memória) e o córtex (a região onde, entre outras funções, processamos as memórias de longo prazo) também são utilizados pelo sistema límbico, responsável pelas emoções.

O maior ou menor vigor das emoções faz com que o processo de codificação, retenção e recuperação seja mais ou menos eficiente. “A retenção de situações que ocorreram na presença de emoções mais intensas (agradáveis, por exemplo) poderá, nalguns casos, estar aumentada. No entanto, em determinadas situações extremas (emoções geralmente mais desagradáveis), pode ocorrer o contrário: períodos de amnésia. Este último caso acontece, por vezes, em situações-limite (cenários de guerra, violação, etc.), e pode inclusive ter um papel aparentemente protetor”, afirma o psiquiatra Diogo Telles.

Esta ligação entre emoção e memória revela-se de outras formas, mas especialmente na capacidade de recordação de detalhes. “A raiva é muito ativadora da memória e a tristeza é desativadora. Quando as emoções são muito ativadoras, recordamos os detalhes centrais e esquecemos os detalhes periféricos. É como se passasse a usar palas; processo apenas uma parte e o resto fica mais diluído”, relata Pedro Albuquerque.

Memórias têm presente e futuro

É a esta base de dados feita de experiências passadas e de emoções que vamos buscar a informação necessária para gerir situações presentes e criar cenários para pensar o futuro. Isto permite, por exemplo, que uma pessoa com medo de fazer um discurso reconheça outros episódios passados e comece a antecipar ou a preparar-se para reduzir a ansiedade.

“Tudo na vida/Se faz por recordações”, antecipou Alberto Caeiro. E, como constatam os especialistas da área, estes episódios que guardámos ao longo dos anos ajudam-nos a ficar com uma ideia de nós próprios. O melhor exemplo disso são as recordações dos mais idosos. “As pessoas com 70 e 80 anos recuperam melhor episódios entre os 18 e os 30 anos”, atesta Pedro Albuquerque. Nesse período, há eventos importantes, muitos deles que acontecem pela primeira vez. No entanto, acrescenta, “é justamente nesse momento que a nossa personalidade se define. Aquilo que sou aos 70 anos (pai, com uma profissão, etc.) dependeu, em grande parte, daquilo que vivi entre os 18 e os 30. Quando estamos a recuperar memórias nossas, a pista que temos para as recuperar é a autorreferência, é o próprio”.

São as memórias que conduzem todas as nossas escolhas e determinam o nosso futuro

Diogo Telles Correia, Médico psiquiatra, psicoterapeuta e diretor da Clínica Universitária de Psiquiatria e Psicologia Médica da FMUL

Diogo Telles clarifica a importância da memória no nosso quotidiano: “Os nossos comportamentos e atitudes no presente resultam sempre da evocação das memórias passadas. Nós somos um conjunto de memórias (conscientes e inconscientes), e são elas que conduzem e orientam todas as nossas escolhas e que determinam o nosso futuro.” Aliás, acrescenta, “é normal que tudo o que podemos projetar para o futuro tenha que ver com aquilo que retivemos do passado, com as experiências vividas e assistidas e de modificações que fazemos sobre o material que temos apreendido”.

Podemos esquecer?

O esquecimento ocorre de forma orgânica, quando há “uma lesão/ alteração visível no cérebro, por exemplo. Este pode ser o caso da demência”, explica Diogo Telles. Nos outros tipos de amnésias, “não é visível nenhuma alteração estrutural; ocorrem em situações psiquiátricas. O diagnóstico destas situações é complexo, embora a amnésia psicogénica costume ser seletiva (apenas para determinados acontecimentos que tenham uma importância específica)”.

Mais do que esquecer, para funcionarmos no quotidiano, temos de inibir memórias. Isto porque, segundo Pedro Albuquerque, “a memória é ilimitada e, provavelmente, até ao último dia das nossas vidas estaremos a processar informação”. Para se recordar algo, acrescenta, “não podem vir à memória todos os episódios relacionados com o tema”. Por essa razão, quando enfrentamos episódios traumáticos, podemos tentar esquecer. Como observa este especialista, “não significa que se esqueça realmente; o nível de ativação destas memórias vai diminuindo e em qualquer altura um episódio qualquer pode reavivá-las”.

Em situações extremas, estas memórias reprimidas podem estar ligadas a mecanismos dissociativos. “A situação é tão violenta do ponto de vista psicológico e físico que a única forma que a pessoa tem de lidar com isso é criando um ambiente que a dissocia daquele evento”, explica Pedro Albuquerque, usando como exemplo o filme A Vida é Bela, de Roberto Benigni. “O pai está com o filho no campo de concentração e transforma tudo num jogo… tem de se esconder para não ser apanhado… Uma estratégia para que o sofrimento seja, de alguma forma, diminuído”, elucida.

As minhas memórias de internamento em criança, longe de estarem reprimidas, estavam apenas escondidas, à espera do estímulo certo para me darem conforto.

Os vários tipos de memória

Para se compreender melhor a memória, é importante conhecer os diferentes tipos em que se divide. Nesse sentido, o médico psiquiatra Diogo Telles vai beber diretamente ao manual de psicopatologia que escreveu, no qual explica que “a memória permite a capacidade de fixar, conservar e rememorar informação, experiências e factos”:

Imediata: com a duração de segundos;

Curto prazo ou de trabalho: dura segundos a minutos;

Remota ou a longo prazo: prolonga-se desde minutos a décadas.

Consoante as modalidades cognitivas, poderá também falar-se de memória:

Explícita ou declarativa: centra-se habitualmente em factos e acontecimentos, e o próprio está consciente da utilização da memória;

Semântica: não existe referência ao tempo ou ao espaço (situações de conhecimento geral, mais teóricas, por exemplo, “o mundo é redondo”);

Episódica, biográfica ou histórica: referente a experiências do próprio (por exemplo, “hoje à tarde, comi uma sanduíche”). A memória autobiográfica corresponde a eventos da vida;

Implícita ou de procedimento: as memórias são obtidas automaticamente e utilizadas de forma inconsciente (por exemplo, conduzir, andar de bicicleta). Refere-se a hábitos e capacidades motoras, sensoriais ou eventualmente linguísticas;

Memória de procedimentos: competências motoras (“o saber-fazer”);

Memória percetiva ou priming: permite identificar, por exemplo, formas e reconhecer imagens vistas anteriormente;

Memória de condicionamento (associativa): aprendizagem através dos processos de condicionamento;

Memória não associativa: envolvida no desenvolvimento de reflexos, habituação e sensibilização.

José Pedro Aguiar-Branco

O advogado de 67 anos, natural do Porto, PSD, foi eleito como 16.º presidente da Assembleia da República – um acordo com o PS permite que lidere o hemiciclo até meio desta legislatura. Após ter sido ministro da Justiça (2004-2005) e da Defesa (2011-2015), manteve-se distante dos palcos políticos. Visto como um homem dialogante, não se tem livrado de polémicas, principalmente as que envolvem o Chega, pela sua postura, alegadamente, demasiado tolerante. Está referenciado como um possível candidato a Belém..

Keir Starmer

Keir Starmer. Foto: Kirsty O’Connor/ No 10 Downing Street

Esteve quatro anos como líder do Partido Trabalhista, e da oposição, até conquistar o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido, em julho, com uma esmagadora maioria nas eleições (411 dos 650 lugares na Câmara dos Comuns) – foi o primeiro trabalhista a vencer desde Tony Blair. Visto como uma figura pouco carismática, embora séria e competente, o desgaste de catorze anos de governo Conservador jogaram a seu favor, assim como os maus resultados da economia britânica e a degradação dos serviços públicos. Fez uma campanha eleitoral de promessas vagas, a descolar-se da esquerda. Nos cinco primeiros meses de governação, baixou a popularidade e não conseguiu impulsionar a economia. Questionado se faria algo diferente, Sir Keir Starmer respondeu com um categórico “não”.

Amadeu Guerra

O novo procurador-geral da República, de 69 anos, sucessor de Lucília Gago, tomou posse a 12 de outubro. No discurso inaugural, prometeu combater a corrupção e o atraso nas investigações, sublinhando a necessidade de envolver mais a Polícia Judiciária. Figura discreta, obteve resultados assinaláveis nos dois mandatos à frente do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), dedicado à criminalidade complexa, avançando com uma reorganização profunda. Passou também pela Comissão Nacional de Proteção de Dados (entre 1994 e 2006) e pela Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (entre 2001 e 2006).

Patrícia Sampaio

A judoca tem tido um ano em grande: nos Jogos Olímpicos de Paris, conquistou a medalha de bronze (a primeira no torneio para Portugal), na competição de menos 78 kg; neste mês, ficou em terceiro lugar no Grand Slam de Tóquio, o berço do judo. Natural de Tomar, com 25 anos, continua fiel às raízes e ao clube da terra, a Sociedade Filarmónica Gualdim Pais, onde é treinada pelo irmão, Igor Sampaio. Neste momento, ocupa o 10.º lugar do ranking mundial.

Lamine Yamal

Com apenas 17 anos, o futebolista foi uma das estrelas do último Campeonato Europeu de Futebol (aliás, começou o torneio com 16 anos, o mais novo de sempre), ao ajudar a seleção espanhola a conquistar mais um título. O prodigioso atacante, com um magnífico drible – é muitas vezes comparado com Messi –, estreou-se como jogador da equipa principal do FC Barcelona aos 15 anos, sendo o mais jovem de sempre a jogar na La Liga. Descendente de marroquinos e equatoguineenses, de origens humildes, é o orgulho do bairro Rocafonda, em Mataró, município da Catalunha.

Novos líderes parlamentares

A renovação dos líderes das bancadas do hemiciclo foi profunda: Paulo Núncio no CDS; Alexandra Leitão no PS; Hugo Soares no PSD; Fabian Figueiredo no BE; Mariana Leitão na IL; e Isabel Mendes Lopes no Livre. Alguns são mais experientes na política (e já ocuparam, inclusive, cargos governativos), como Paulo Núncio, Alexandra Leitão e Hugo Soares. Outros saem da sombra dos gabinetes parlamentares, como Mariana Leitão, Fabian Figueiredo e Isabel Mendes Lopes. Apenas Paula Santos e Pedro Pinto se mantêm como líderes parlamentares, respetivamente, do PCP e do Chega.

André Villas-Boas

Andre Villas-Boas. Foto: Manuel Fernando Araújo/Lusa

Tomou posse a 7 de maio como presidente da SAD do Futebol Clube do Porto (FCP), após uma vitória avassaladora nas urnas, com 80,25% dos votos. Com 47 anos, o antigo treinador do emblema do dragão – na temporada 2011/2011, conquistou uma Supertaça Cândido de Oliveira, um Campeonato Nacional, uma Liga Europa e uma Taça de Portugal – assentou a sua campanha num discurso de contas certas, decisivas para ultrapassar os graves problemas financeiros do FCP. “Se não tivéssemos sido eleitos, penso que o clube teria sido vendido a um fundo norte-americano dentro de um ou dois anos, no máximo”, afirmou na semana passada, em entrevista ao jornal francês L’Équipe. “Havia oito mil euros na conta à ordem” do clube, acrescentou o novo líder portista.

Nuno Borges

Este ano, o número um do ténis português, natural da Maia, conseguiu entrar no top 30 mundial. Foi apenas o segundo tenista português a alcançar o feito (o primeiro foi João Sousa, que chegou ao 27.º lugar, e este ano abandonou as competições). Em setembro, Nuno Borges ocupava o 30.º posto da hierarquia. Para isso, contribuiu o facto de ter chegado aos oitavos de final em dois torneios do Grand Slam: o Open da Austrália e o Open dos Estados Unidos.

As eleições legislativas de março foram muito mais do que uma etapa normal numa democracia. Marcaram uma mudança muito importante em vários aspetos da nossa vida em comunidade e no funcionamento das instituições. E claro, deram origem a um novo governo.

1. Logo à partida, é preciso não esquecer porque aconteceram. O Ministério Público, num ato exibicionista do seu poder, resolveu derrubar um Governo que contava com apoio maioritário na Assembleia da República. Recuso-me a dissertar sobre a impossibilidade de um primeiro-ministro continuar em funções sob tão grave suspeita.

Compreendo, no entanto, que o assunto não seja mais vezes lembrado e debatido. A minha compreensão vem de perceber que ninguém nas mais importantes instituições e órgãos de soberania está interessado em que se lembre que a legitimidade do Governo, da  liderança de oposição e deputados, radica antes de mais num golpe de estado institucional. Mas há silêncios demasiado ensurdecedores. Quem paga por afinal não haver indícios de condutas ilegais do primeiro-ministro? Quem tem culpa de se ter enlameado nomes de ministros para uns dias depois um juiz dizer que aquilo eram efabulações? A quem devemos pedir responsabilidades por andarem a desrespeitar as nossas escolhas?

O facto de ter havido eleições é o corolário de um poder que se recusa a ser escrutinado, que se porta não como um órgão de Justiça mas como um justiceiro, que mostra que não percebe como funciona o mundo e que não hesita em pôr em causa o princípio da separação dos poderes.

2. Foi aliás com a contribuição do Ministério Público que o resultado eleitoral nos deu 50 deputados antissistema, ou seja, antidemocracia. O crescimento da extrema-direita populista não é um exclusivo nacional, muito longe disso, mas umas eleições assombradas por suspeitas de corrupção de um primeiro-ministro foi um presente perfeito para quem passa a vida a gritar que anda tudo a roubar.

Desde a normalização da nossa democracia, esta é a pela primeira vez que temos um partido no Parlamento que deliberadamente não está interessado em contribuir para o processo democrático, que quer conspurcar as instituições e que declaradamente atenta contra valores constitucionais.

Não vale a pena andar com a conversa do voto de protesto, e de cada pessoa ter as suas razões para votar no Chega, basta de infantilizar as pessoas. Os factos são claros: há quase 1.200.000 portugueses a apoiar a agenda deste partido. Foi a mais importante lição destas eleições, há mesmo muitos portugueses que não gostam da democracia.

3. As eleições originaram também um Parlamento em que o partido mais votado tem apenas mais dois deputados do que o segundo – o CDS é uma ficção como os Verdes o foram para o PCP.

Nunca tinha acontecido tal proximidade de representação entre os dois maiores partidos.

Esta circunstância, somada a uma enorme fragmentação partidária, dificulta a governabilidade, bem entendido. Este tipo de quadro parlamentar é muito comum na Europa. O que acontece noutras paragens é haver entendimentos que permitam estabilidade e coerência governativa.

Mas em Portugal não é assim. Esta diferença poderá ter várias causas possíveis: talvez pouca maturidade democrática, talvez um sinal destes tempos avessos a construir pontes mas sim trincheiras, talvez líderes mais preocupados com a tática e ganhos politiqueiros e menos com o bem-comum.

Isto está a levar à aprovação de um conjunto de medidas que têm apenas como objetivo ganhos eleitorais.

4. Gostava de pensar que esta perspetiva provisória do poder tivesse sido a grande responsável por este novo fenómeno: governar em função de perceções. É, infelizmente, mais do que isso: o Governo especializou-se em aplicar medidas que se baseiam em pressupostos que o próprio Governo sabe serem falsos.

Foto: Luís Barra

É a marca de água do Executivo liderado por Luís Montenegro. Tomam-se medidas para combater a insegurança não porque somos um país inseguro, mas porque as pessoas, contra todas as evidências, acham que há mais crime. Fazem-se rusgas a imigrantes não porque eles sejam responsáveis por qualquer aumento de criminalidade, mas porque as pessoas acham, contra todos os factos, que sim. Diz-se que os estrangeiros abusam do nosso SNS e tomam-se medidas contra isso sem que haja um único estudo que o comprove.

Diz-se que os estrangeiros abusam do nosso SNS e tomam-se medidas contra isso, sem que haja um único estudo que o comprove

Confesso, como o estimado leitor se lembrará, que pensava que este tipo de agenda acontecia para tentar tirar votos à extrema-direita (era um erro, mas…). Mas já não estou tão certo, parece cada vez mais que quem nos governa tem afinal convicções que nos escondeu.

5. Pois claro, “para cá do Marão mandam os que cá estão”. Nunca um ditado foi tão falso. Todos os balanços internos, mais ou menos completos, nada valem face ao novo mundo patrocinado por Trump e os oligarcas globais que o rodeiam. Nunca a democracia liberal esteve tão ameaçada, nunca um período tão bom para o maior número de pessoas esteve tão perto do fim, nunca um conjunto de tipos sinistros esteve tão próximo de controlar corpos e mentes como agora.

Nada disto é resultado das nossas eleições, claro, mas o risco de terem sido das últimas em que nos deixaram decidir por nós nunca foi tão real. Trump está a criar trumpinhos, também aqui.

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Palavras-chave:

Em dezembro de 2023, num exercício de balanço semelhante ao desta edição, escrevemos na capa da VISÃO que o mundo tinha acabado de passar pelo “ano de todas as fraturas”. Havia razões evidentes para esse título, por causa dos acontecimentos que marcaram o final desse ano: o eclodir, mais violento do que nunca, do conflito no Médio Oriente e a demissão abrupta do governo de maioria absoluta em Portugal, que representou também o último ato dos “dias felizes” entre Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa. Tudo isto, num clima em que a crispação ganhava terreno na generalidade dos discursos políticos, aumentava a polarização em todas as latitudes, a guerra na Ucrânia começava a cavar divisões profundas na Europa e, um pouco por todo o lado, cresciam os sinais de revolta, num planeta a recuperar do trauma da pandemia da Covid-19.

Agora, um ano depois, é fácil constatar que os sinais de divisão ganharam ainda mais expressão ao longo dos últimos doze meses. E traduziram-se em muitas mudanças, cujas consequências vão, com toda a certeza, perdurar nos próximos tempos.

Este foi o ano em que cerca de dois mil milhões de pessoas foram chamadas a votar, nas múltiplas eleições que se realizaram em mais de sete dezenas de países, e em que, por isso mesmo, ficaram evidentes algumas tendências: a penalização dos que ocupavam o poder, a emergência de forças radicais, o esvaziamento acentuado do centro político e o crescimento do radicalismo.

Em sucessivas eleições, nas mais diversas geografias, os eleitores usaram o voto para exprimir a sua revolta. E fizeram-no sem demonstrarem a mínima preocupação com conceitos anteriormente valorizados como a estabilidade política ou a formação de maiorias políticas sólidas. O objetivo, em muitos casos, foi unicamente o de procurar castigar quem estava no governo – mesmo quando, como sucedia em diversos casos, os indicadores económicos eram positivos, embora essas “boas contas” nem sempre fossem percetíveis pela opinião pública.

De certa maneira, este foi o ano que encerrou um ciclo iniciado em 2016, com a eleição surpreendente de Donald Trump e o Brexit no Reino Unido: o princípio do fim de uma certa era de globalização e de uma ordem internacional estável, dominada pelos Estados Unidos da América. Esse caminho tinha sido interrompido com a pandemia – que deixou a nu a teia de dependências dos países em relação às cadeias globais de produção – mas foi depois retomado, ainda com maior vigor e ânimo, logo que desapareceram as máscaras anti-Covid, por todos os que se sentiam atingidos pela crescente desigualdade e a falta de oportunidades.

Este 2024 que agora termina pode ter sido o ano zero de uma nova era de extremismo, que ninguém consegue prever quanto tempo poderá durar. Sabemos, no entanto, que as mudanças que se espera que ocorram no próximo ano poderão ser muito mais radicais do que tudo o que vimos até agora. Até porque, desta vez, já ninguém é apanhado de surpresa. E, como acontece sempre no início de um novo ciclo, há sempre quem decide rapidamente mudar de convicções e tentar aproveitar a nova onda, para seu benefício ou como estratégia de sobrevivência. Sabemos que Donald Trump promete virar os EUA de pernas para o ar e que as ondas de choque da sua “revolução” vão fazer-se sentir por todo o planeta. A política de Washington vai transformar-se radicalmente, de uma forma nunca vista em muitas décadas, nomeadamente na sua relação com o resto do mundo. E os apelos ao isolacionismo vão repetir-se, por contágio, em diversos países.

A Europa vai viver, seguramente, um dos seus momentos mais difíceis, com a Alemanha e a França em dificuldades económicas e próximas do caos político. Com o eixo da União Europeia a deslocar-se cada vez mais Leste e com a força crescente dos partidos extremistas antidemocráticos, não será fácil manter a coesão do bloco, em especial nos assuntos relacionados com os direitos, liberdades e garantias.

Neste ano zero desta nova era de extremismo, que é também de polarização extrema, já se percebeu como o discurso dos partidos de centro-direita foi capturado pela retórica radical. Em especial nos temas relacionados com a segurança e a imigração. Pelos últimos sinais, nomeadamente a inenarrável operação policial na zona do Martim Moniz, em Lisboa, o que podemos esperar, no próximo ano, é que a distinção entre os dois discursos será ainda menor.

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O que têm em comum Luís Montenegro, Donald Trump, António Costa, Keir Strarmer, Amadeu Guerra, Aguiar-Branco, Maria Luís Albuquerque ou Bruno Laje, em 2024? Já ninguém dava nada por eles. E “eis se não quando” emergiram das próprias cinzas. E o que une André Ventura, Giorgia Meloni, André Vilas Boas ou Ruben Amorim? Personalidades emergentes, confirmaram as credenciais e tornaram-se incontornáveis. E o que encontramos de parecido em Pinto da Costa, Emmanuel Macron, Roger Schmidt, Augusto Santos Silva, Miguel Albuquerque ou Bashar al-Assad? Incumbentes derrotados, ou saíram de cena ou para lá caminham. Este foi o ano de todas as mudanças – e de mudanças radicais. Em Portugal, o Governo mudou de mãos, e uma terceira força política fez implodir o bipartidarismo vigente há 48 anos; nas eleições de março apresentaram-se a concurso dois líderes partidários estreantes, nos dois principais partidos, depois do afastamento de políticos consagrados; e até no futebol, os três “grandes”, por razões diversas, mudaram de treinador. Mais do que um ano de transição, 2024 foi um ano de ruturas.

Muda o Governo

Nos dois principais partidos, foram a eleições dois líderes estreantes; nos círculos da emigração, quebrou-se o monopólio de PSD e PS; nos cargos da Administração Pública, registou-se uma “barrela”; e até no futebol os três grandes mudaram de treinador…

A 10 de março, as eleições legislativas entronizaram um primeiro-ministro que vivia na corda bamba de um possível teste eleitoral, em eleições europeias, marcadas para três meses depois. Saído do limbo de dúvidas existenciais de um partido, o PSD, que há oito anos se debatia com derrotas sucessivas, ensimesmado na contemplação da sua erosão eleitoral, na sangria de quadros e na apagada e vil tristeza de lideranças erráticas, Luís Montenegro agarrou a oportunidade que lhe foi dada pelo Ministério Público. A Operação Influencer tinha apeado um rival político, António Costa, e um partido, o PS, que pareciam eternizar-se na sua maioria absoluta. A própria natureza da mudança confirma o aspeto radical desta rutura: ela não ficou a dever-se a um ciclo eleitoral normal, mas a uma interrupção abrupta da legislatura, motivada não por motivos políticos mas por razões judiciais. Mas os próprios discursos de vitória e de derrota, na noite eleitoral, deixavam transparecer os paradoxos da “alegria amarga” de Montenegro e da “desilusão eufórica” de Pedro Nuno Santos: o primeiro estava consciente da magreza do resultado, que por décimas (0,85%, correspondentes a uma diferença de 54 mil votos) lhe permitia governar. O segundo apressava-se a reconhecer a derrota, mesmo antes de ela ser evidente, aliviado por não ter de suportar o fardo de governar sem apoio parlamentar evidente – a esquerda tinha perdido – e sujeito ao torpedeamento permanente de oposições hostis e destrutivas. A AD que chupasse essa pastilha! Ele ficava em posição mais confortável, crescendo, na oposição, para colher o fruto, quando estivesse maduro… Mas o culpado deste empate chamava-se… André Ventura.

Meia centena O Chega tem a maior representação parlamentar de sempre, numa 3.ª força partidária. ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Afirmação populista

Uma das mudanças mais radicais do panorama eleitoral português estabelece, em definitivo, a força da direita radical populista, marcando a extensão a Portugal de um fenómeno global. A “terceira força”, o Chega, embora com uma percentagem ligeiramente menor do que a do PCP, em 1979 (18,07% contra 18,80%) e pouco maior que a do PRD, em 1985 (17,92%), garantiu 50 deputados, o maior número de parlamentares de um 3.º partido na história da Assembleia da República. Tanto mais de sublinhar quanto é certo que, até 1980, o hemiciclo era composto por 250 almas – e não as 230 atuais. Um dos maiores feitos do Chega, no entanto, foi o de, pela primeira vez na História da nossa democracia, ter rompido o monopólio dos dois grandes partidos, nos círculos da emigração, e logo com 50% dos deputados (dois) remetendo PS e PSD para um eleito cada qual. Este desempenho em muito se deve ao intrigante resultado na numerosa comunidade de eleitores residentes na Suíça, estando por determinar a razão desta anomalia.

O eleitorado surpreendeu, ao dar mais de 18% ao partido de André Ventura.

Os líderes debutantes dos partidos foram seguidos por uma maré de estreias à frente dos grupos parlamentares: Hugo Soares, no PSD, e Alexandra Leitão, no PS, são os mais vocais – e a dialética política entre ambos tem sido viva, dentro e fora do Parlamento. Ao mesmo tempo, a massa de 50 deputados do Chega, que introduziram na vida da Assembleia várias peculiaridades nunca vistas – um certo comportamento disruptivo, alegado bullying sexista sobre deputadas da esquerda, iniciativas nos limites da legalidade e do regimento –, sempre suportadas, até ao limite, por um presidente da AR, José Pedro Aguiar-Branco (PSD), que faz da liberdade de expressão o primado da sua própria tolerância. Aguiar-Branco que, assim, sem prejuízo do seu discurso moderado e da sua postura claramente ao centro-esquerda, mantém pontes com a bancada situada no extremo direito do hemiciclo. Há quem diga que está a trabalhar para uma possível candidatura a Belém, em 2026, procurando captar simpatias nos vários espetros políticos. Por falar nisso, o seu antecessor, Augusto Santos Silva, que era dado como superfavorito do PS para candidato à Presidência da República, parece ter saído pela porta dos fundos. Mas, já no final do ano, depois da publicação de um livro sobre o Poder, e tendo produzido declarações a propósito, voltou a posicionar-se, provocando nítido incómodo, junto de alguns dos seus camaradas.

Costa, o sempre-em-pé

A mudança radical ocorrida no País teve reflexos em diversos cargos da Administração Pública, com uma “barrela” completa operada pelo Governo da AD. Começou pela substituição do diretor-executivo do SNS, Fernando Araújo – quando o seu nome parecia consensual –, pelo militar António Gandra d’Almeida, e acabou na guerra de comadres a propósito da expulsão do cargo da presidente do CCB, Francisca Carneiro Fernandes.

Triunvirato António Costa, ao lado de Ursula von der Leyen e Roberta Metsola. De político acabado a “senhor Europa”. EPA/OLIVIER HOSLET

De caminho, a contestadíssima (por todos os quadrantes) procuradora-geral da República, Lucília Gago, saiu sem que, ao contrário do que tinha acontecido relativamente à sua antecessora, Joana Marques Vidal, ninguém tenha vertido uma lágrima. Para o seu lugar, o Governo foi repescar, à reforma, alguém que parecia ter-se definitivamente retirado: o procurador Amadeu Guerra representa, também, uma mudança radical no perfil dirigente da Procuradoria: pela primeira vez, a liderança é exercida por um “operacional”.

António Costa está na lista dos 28 mais influentes para 2025, no site Politico. O presidente do Conselho Europeu é considerado, além de hábil negociador, a personificação do atual multiculturalismo da Europa…

Entretanto, afetado por um processo judicial (que ainda não conheceu o seu epílogo) e assim autoafastado de funções, com a promessa de não exercer nenhum outro cargo político (em Portugal…), António Costa parecia, se não acabado, ao menos, desprovido de ambições executivas. Isto porque, na Influencer, ele próprio era considerado “suspeito”, estando a decorrer inquérito autónomo na secção do MP no Supremo Tribunal de Justiça. Só que não: António Costa, na saída de cena, bem poderia citar Mário Soares (que, por sua vez, havia citado Manuel Teixeira Gomes): “Sinto-me livre como um pássaro fora da gaiola.” De facto, desta maneira inesperada, Costa viu-se disponível para abarbatar o cargo, que sempre ambicionou, de presidente do Conselho Europeu. A estrelinha do ex-primeiro-ministro, que sempre o acompanhou na sua carreira política, brilha, agora, a grande altura: de homem público acabado a “senhor Europa”. António Costa, que o site Politico identifica entre as 28 personalidades mais influentes para 2025, catalogando-o no grupo dos “nove fazedores”, assume funções num período crucial, e quando a Europa mais vai precisar de alguém com talento (também reconhecido pelo Politico) de “hábil negociador”. Na verdade, o diálogo inter-Atlântico, com Donald Trump, de novo, na Casa Branca (ele que também tinha sido dado como acabado…), vai ser bem difícil. E a circunstância de a Europa ter acordado, depois das várias eleições, com um ascendente forte da extrema-direita, com presença no próprio Conselho, obrigará Costa a puxar pelos galões de “construtor de pontes” entre posições inconciliáveis. Ele já tinha feito o trabalho de casa, construindo uma relação privilegiada com… Viktor Orbán, o reforçado primeiro-ministro populista da Hungria. O facto de, na análise do Politico, o português, com as suas raízes goesas, ser “a personificação de uma Europa multicultural”, tanto pode ajudar como desajudar…

O circo de Macron

Trump, em alta, com Macron, em baixa

Esta viragem europeia faz da chefe do governo de Itália, Giorgia Meloni, que parecia ostracizada pelos seus pares, uma figura central do tabuleiro institucional da União (como também reconhece o Politico, pondo-a à cabeça das mais influentes). Bem andou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao estabelecer com a governante italiana uma relação política e pessoal bastante próxima. Já a comissária europeia indicada por Portugal volta a ser uma mulher. O País já não se lembrava bem de Maria Luís Albuquerque, mas a antiga ministra das Finanças de Pedro Passos Coelho voltou à ribalta, ocupando a pasta dos Serviços Financeiros e União da Poupança e Investimento. Cá está mais um nome que ninguém esperava ver ressuscitado, ao fim de todo este tempo…

Europa & mundo Keir Starmer, primeiro-ministro inglês. Roberta Metsola com Viktor Orbán (e Edi Rama, homólogo albanês. EPA/OLIVIER HOSLET

Mas a Europa tem muitas razões para se preocupar. O Presidente francês, por exemplo, diverge de outros incumbentes afastados pelo facto de ainda se manter em cena. Mas é a única diferença. Muitos já consideram que ele já não é Presidente mas ainda não sabe. Foi ele mesmo que fez a cama onde está deitado, ao reagir, a quente, a uma derrota nas “europeias”, com a marcação de eleições gerais em França, para dali a pouco mais de um mês. O braço de ferro – ou o bluff, que acabou por ser desastradamente concretizado… – não lhe correu bem. O seu partido, o Renaissance, revelou-se um tigre de papel eleitoral, a extrema-direita de Marine Le Pen ‒ o Rassemblement National ‒ ameaçou engolir tudo e ganhou a primeira volta e só muitos entendimentos contranatura permitiram que, à 2.ª volta, a extrema-direita fosse travada. O preço, porém, foi o da vitória da esquerda radical de Jean-Luc Mélenchon, a França Insubmissa – o nome diz tudo… –, que Macron, enredado em contradições, recusou reconhecer, nomeando sucessivos primeiros-ministros – Michel Barnier, François Bayrou – de partidos moderados, ao centro-direita, da grande coligação anti-Le Pen, mas sem qualquer força ou autoridade. O zombie do Eliseu apostou, como Napoleão antes dele – e antes de Santa Helena… ‒, em grandes eventos, como os Jogos Olímpicos ou a reinauguração da Catedral de Notre Dame, para recuperar la grandeur de France. Circo, em vez de pão?…

As crises em França e na Alemanha, nos planos político, económico e, no caso francês, financeiro, têm tudo para arrastar a Europa para a discórdia e a irrelevância. Os dois motores europeus estão gripados, porque também os mitos têm prazo de validade…

Caem mitos e ídolos

Os sócios do FCP apostaram todas as fichas em André Villas-Boas, o “galo novo”MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Entre nós, o melhor exemplo da queda de um anjo foi o de Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente histórico, e campeoníssimo, do FC do Porto, venerado por portistas de várias gerações. O “galo novo”, André Villas-Boas, teve, porém, a ousadia de, como diz o povo, lhe “rasgar o respeito” e, numa daquelas reviravoltas com que o povo do Porto, às vezes, nos surpreende (como a da vitória de Rui Rio, contra Fernando Gomes, nas autárquicas de 2001…), os sócios do clube deram uma retumbante vitória a Villas-Boas, nas eleições de abril. A “cadeira de sonho” revela-se, porém, bastante… elétrica. A rescisão do contrato com o técnico Sérgio Conceição, outro dos ídolos dos portistas, e a aposta numa incógnita chamada Vítor Bruno não se fez sem dor nem sem contestação. E ela continua.

Ainda no futebol, de assinalar a queda de outro antigo idolatrado, Roger Schmidt, o treinador alemão que veio dar um impensável título ao Benfica, na época de 2022-23. De bestial passou a besta e Bruno Lage, mais um daqueles nomes que parecia acabado para aqueles lados, regressou com estrondo, recuperando uma equipa fantasmagórica. Do outro lado da segunda circular, Ruben Amorim, depois de ter guindado o Sporting a uma potência futebolística que não se conhecia desde o tempo dos Cinco Violinos, nos anos 50 do século XX, demandou terras de Sua Majestade e foi treinar os encarnados de Manchester. Todos os grandes mudaram, pois, de rumo…

O último imperador

O ano termina com várias incógnitas, que resultam de outras tantas transformações radicais: o que será que vai acontecer à Síria, com o derrube do sanguinário ditador Bashar al-Assad, cuja família, a mandar há mais de 50 anos, parecia estar ali para sempre? E será que o primeiro-ministro trabalhista Keir Starmer, pelo qual também ninguém apostaria, um penny, mas que venceu as eleições deste ano, vai resistir à rápida erosão de popularidade? Os britânicos não estão nada satisfeitos com o seu governo. E o mesmo acontece na Alemanha, com a implosão da periclitante coligação que colava, a cuspo, o SPD, os Verdes e os Liberais. O chanceler social-democrata Olaf Scholz acabou de demitir-se a semana passada. Agora, perfila-se como favorito o líder da CDU, uma figura muito ideológica chamada Friedrich Merz, colocada, pelo já citado Politico, no lote dos influentes – e na classe dos “sonhadores”… –, mas o principal risco é o da subida exponencial da extrema-direita da AfD.

E a revolução síria. EPA/HASAN BELAL

As mudanças radicais de 2024 determinaram que os dois motores da União Europeia, a Alemanha e a França, acabem o ano com crises políticas insolúveis e crises económicas – e financeira, no caso francês – que têm tudo para arrastar o Velho Continente para a discórdia e para a irrelevância, com a Ucrânia em perda, na guerra aqui ao lado.

É que os mitos também têm um prazo de duração. Não vamos mais longe: a Região Autónoma da Madeira prepara-se para as terceiras eleições antecipadas consecutivas, depois da moção de censura aprovada esta semana. É a democracia, dir-se-á. Mas, no caso madeirense, a mudança é uma das mais radicais a que assistimos em 2024: depois de 50 anos de poder absoluto do PSD/Madeira, fica confirmado que esse tempo acabou, agora, em pleno consulado do “último imperador”, Miguel Albuquerque. E, como frequentemente acontece nestes casos, sem alternativa credível, o futuro parece uma nebulosa balcanizada entre caciques locais. Estávamos a falar da Síria?…

Passada a discussão e aprovação do Orçamento do Estado para 2025, que dominou a agenda mediática, mesmo que tenha sido mais sobre a forma em torno da sua aprovação e não tanto sobre o seu conteúdo, este rapidamente desapareceu da discussão pública num processo de quase apagão em que não se fala mais desse assunto até ao ano seguinte, quando recomeça a época do comentário futebolístico em torno das probabilidades de aprovação da nova proposta para o ano seguinte.

Algo no mínimo estranho visto que muito daquilo que é a governação passa por este instrumento. E isto não é por acaso, trata-se, de facto, de esconder as opções de fundo deste Governo de compromisso com os grandes grupos económicos, e mesmo o pouco que há de positivo, fruto da luta do povo, procura-se que não se dê muita atenção, para ver se ninguém se lembra quando não for cumprido.

Ora o Orçamento do Estado de 2025 é um tratado de política de direita, com o favorecimento daqueles que lucram 32 milhões de euros por dia enquanto se nega à maioria da juventude as condições para construir os seus projetos de vida cá no nosso país.

O Governo AD deveria considerar, a bem da verdade, acrescentar “para o precipício” no lema “Portugal no bom caminho”, e com este orçamento disse claramente que está cá para colocar o Estado a servir e dar borlas aos senhores do dinheiro enquanto rejeita o aumento do salário mínimo nacional e a valorização dos serviços públicos.

O PS, não quis ficar atrás e, no meio de ameaças veladas, de caras de mau e de juras ao povo, absteve-se. Tal como na legislatura anterior, absteve-se no geral e no concreto, mesmo perante a urgência de resolver os problemas da juventude. Por todo o lado lemos em letras garrafais que as pensões vão aumentar por causa do PS. Falta o asterisco. As pensões não vão aumentar mais por causa do PS, tal como será por causa do PS e do seu demissionismo, que se irá manter a especulação e as insuficiências na oferta pública de habitação, a escassez de psicólogos nas escolas e IES, de camas e residência públicas, de obras nas escolas e de pavilhões gimnodesportivos, de internet nas escolas, a concretização de um passe inter-regional e intermodal.

Será também por causa do PS e dos restantes partidos da política de direita que sim, haverá aumentos na refeição social nas cantinas do ensino superior, nos hospitais e centros de saúde, que os jovens trans que no sul do País necessitem de cuidados específicos continuarão a fazer fila em unidades de saúde a centenas de quilómetros da sua casa e que a fila na AIMA ocupará mais um quarteirão.

E o PS não só viabilizou este tratado de política de direita, também permitiu que a IL e o Chega votassem contra um orçamento com o qual estão de acordo.

A IL barafustou porque o orçamento era insuficiente, pois apesar de aprofundar o caminho de um Estado cujo papel é única e exclusivamente o de servir e dar borlas às grandes empresas, ainda não concretizou o sonho de trocar o Governo por um conselho de administração ou os serviços sociais do Estado por negócios, e o povo a pagá-los acima da taxa de usura. O Chega bem que podia ter comprado mais uns metros de pano de faixa para acrescentar o seu voto contra a contribuição extraordinária sobre lucros e à taxa especial sobre transacções financeiras para paraísos fiscais.

Quando o salário acabar ainda mais cedo no mês, quando fizer frio na escola porque não são feitas as obras necessárias, quando os jovens viverem a ansiedade de não ter o suficiente para pagar a propina, a renda e comer, ou a instabilidade de quem só encontra contratos ao mês, à semana, ao dia, como se fosse possível planear a vida nestas condições, quando os jovens não conseguirem sair de casa dos pais e conquistar a sua independência, devem saber que estão também a sentir as consequências do OE aprovado por PSD e CDS e que o PS viabilizou com a sua abstenção.

Ora precisamos é de um caminho diferente, de uma alternativa política que garanta uma distribuição mais justa da riqueza, não por ódio ou cruzada contra os lucros, mas porque sabemos que é preciso e existem recursos para responder a muito de que preocupa diariamente quem estuda e trabalha em Portugal.

Um caminho que se constrói todos os dias com luta dos que aspiram a uma vida melhor, uma luta que se tem intensificado nas escolas secundárias e profissionais, no Ensino Superior e nas fábricas e demais locais de trabalho.

Se no OE de 2025 não consta o aumento das propinas, como era vontade do Governo, foi porque os estudantes do ensino superior a derrotaram. Por seu lado, de norte a sul do País os estudantes do ensino secundário e profissional lutaram nas suas escolas pelas obras que fazem falta, pelo pavilhão ou a cantina que não existe, por uma avaliação justa, pelo direito a participar e a ter tempo para viver. Muitos jovens trabalhadores conseguiram em muitas empresas ser integrados e ficar efetivos, aumentar salários e conquistar direitos.

Da nossa parte não ficamos à espera pela próxima proposta de orçamento para discutir o seu conteúdo, não deixaremos os compromissos assumidos no atual orçamento cair no esquecimento e continuaremos a exigir respostas, mesmo que para lá do que o documento inscreve.

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