É na ressaca dos choques tectónicos que as oportunidades sistémicas aparecem. Foi assim quando a grande depressão financeira atingiu o epicentro nevrálgico ocidental, em 2008-2009, e os BRICS se oficializaram um ano depois. É assim quando a segurança europeia é posta em xeque, com a invasão da Ucrânia, quando a resposta ocidental é alvo de desalinhamentos em vários continentes e os BRICS se alargam a mais seis membros. Contudo, há pelo menos três lições a tirar da primeira etapa deste grupo e, provavelmente, um par de efeitos a acompanhar o que resultará desta segunda era lançada na cimeira de Joanesburgo.
A primeira lição diz-nos que a década que se seguiu à fundação dos BRICS não trouxe nenhuma coerência geopolítica à ação do grupo, que continuou a expor divergências históricas, interesses antagónicos, relacionamentos puramente transacionáveis, revanchismos sociais enraizados. A mais nítida relação com estas características é entre a China e a Índia, a qual não dirimiu nenhuma dessas dinâmicas à entrada da segunda fase da nova vida do grupo.