Em Oeiras, este ano é decisivo e exige de nós uma reflexão profunda sobre o passado, o presente e, acima de tudo, o futuro da autarquia. O Partido Socialista tem em Oeiras uma responsabilidade ímpar: ser a força mobilizadora de uma nova alternativa de governação para o Concelho.
Os números falam por si. Nas últimas 4 eleições autárquicas, o PS obteve resultados de 25%, 18%, 14% e 10%. Em contraste, os resultados das eleições legislativas no mesmo período variaram entre os 25% e 37 por cento.
Na União de Freguesias de Oeiras, São Julião da Barra, Paço de Arcos e Caxias – de onde sou natural e sempre vivi – o PS, nas últimas autárquicas, alcançou apenas 2248 votos (8,56 por cento). É indigno para um partido como o Partido Socialista.
Esta discrepância não pode ser ignorada porque, em média, o PS perde cerca de 15% do seu eleitorado nas autárquicas. E porquê?
A explicação mais imediata é atribuir o fenómeno ao peso de Isaltino Morais na política local. É inegável que o atual presidente da Câmara Municipal tenha uma presença massiva no tecido popular oeirense, mas isso, avulso, não pode justificar sozinho o fraco desempenho do PS em Oeiras. Afinal, o PS deve ser capaz de se afirmar ao seu eleitorado de forma decisiva.
Explicar o fraco desempenho nas autárquicas apenas pelo peso de Isaltino Morais é uma análise redutora, que não abarca a verdadeira complexidade do desafio que enfrentamos. Muitos dos nossos eleitores, socialistas, que nos apoiam nas legislativas e europeias, acabam por se afastar nas autárquicas – um sinal claro de que o PS foi perdendo a capacidade de se afirmar de forma relevante no concelho. É este o momento de nos questionarmos: por que motivo o PS deixou de ser a escolha natural para Oeiras?
A resposta está na necessidade urgente de construir um projeto renovado, de esperança e futuro, verdadeiramente social-democrata e de base, que volte a inspirar a confiança dos oeirenses e que mostre, sem hesitações, que estamos em sintonia com as suas preocupações e anseios.
Não basta ser o PS. Temos de ser o PS que Oeiras precisa.
Pensemos. Há 40 anos, era Presidente dos Estados Unidos da América, Ronald Reagan, Gorbatchev era eleito secretário-geral do partido comunista soviético e Portugal e Espanha assinavam o tratado de adesão à CEE. Tudo isto, e Isaltino Morais já era Presidente da CMO. Há que virar a página.
Oeiras precisa de uma nova geração de políticas públicas, adaptadas às exigências do século XXI. Políticas que priorizem a sustentabilidade ambiental como eixo transversal a qualquer política de inclusão social e desenvolvimento económico.
O concelho tem um potencial extraordinário, mas para o concretizar é necessário um olhar renovado, livre dos vícios e práticas que se enraizaram ao longo dos últimos 40 anos.
A mobilidade é um exemplo claro onde esta mudança se impõe. Oeiras não pode continuar a ser um concelho refém do automóvel e sujeito aos engarrafamentos constantes. É urgente investir em transportes públicos modernos e eficientes, que sirvam todos os cidadãos e contribuam para a redução das emissões de carbono.
Em Gotemburgo, implementou-se um sistema de transportes públicos gratuitos para jovens em idade escolar, incentivando desde cedo o uso de opções sustentáveis e reduzindo o tráfego urbano.
Da mesma forma, o acesso à habitação deve ser uma prioridade. Os jovens e as famílias não podem ser empurrados para fora do concelho devido aos preços incomportáveis.
O modelo de habitação em Oeiras tem de ser construído para quem viveu uma vida inteira no concelho e quer continuar a viver aqui. Tem de ser voltado para a classe média e, especialmente, para os jovens que não querem abandonar o seu concelho, e têm toda a legitimidade para isso. O governo PS ajudou na construção de habitação nos últimos anos, mas é residual, não chega perto do que é realmente necessário.
Precisamos de fazer da habitação uma prioridade urgente, sem desculpas nem adiamentos. Não é com um par de casas que vamos resolver o problema, enquanto ao mesmo tempo permitimos a construção de empreendimentos de luxo que nada têm a ver com as necessidades reais dos oeirenses. Desde Santo Amaro de Oeiras até Barcarena, é preciso ter coragem para transformar o espaço que temos em habitação digna e acessível para aqueles que aqui querem ficar.
Oeiras merece uma resposta à altura deste desafio, e temos os meios e a responsabilidade para a dar.
O concelho tem a capacidade de apoiar os jovens empreendedores, oferecendo espaços de trabalho colaborativos, os chamados business hubs. Esta é uma forma eficaz de estimular a economia local, fixando o talento jovem e garantindo que as ideias inovadoras tenham o suporte necessário para crescer.
Além disso, é crucial desenvolver uma política municipal de crédito, que facilite o acesso a linhas de financiamento para a economia popular urbana e para os pequenos e médios empresários da nossa terra, muitos dos quais são jovens que precisam de apoio financeiro para dar o primeiro passo.
Apostar nas boas ideias é investir no futuro comum de Oeiras.
Na cultura, a inclusão de festivais comunitários regulares e gratuitos, como os organizados em Copenhaga, contribui para um sentimento de pertença entre os moradores. Estes eventos não são apenas um ponto de encontro, mas também oportunidades para promover artistas locais e pequenos empreendedores criativos, envolvendo a comunidade mais sénior que tanto contribuiu, e que tantas vezes se sente abandonada.
Mas nenhuma transformação será possível sem dar voz aos jovens.
Nós não somos uma entidade à parte de tudo o resto – francamente essa conversa causa-me algum transtorno. Somos parte integral do presente e do futuro. Que jovem se sente representado por um burocrata de 70 anos?
O PS tem de ousar apostar em candidaturas jovens. Esta não é uma questão de inclusão apenas, mas de necessidade de representar o tecido social. São os jovens que trazem a ousadia e a perspetiva renovada que muitas vezes faltam à política atual. E precisamos de uma política que se faz no terreno, junto das pessoas, longe das câmaras e dos almoços festivos que só servem para alimentar a ilusão.
Menos morcelas, mais ação.
O futuro de Oeiras exige coragem e ambição. Não podemos mais ser reféns de um passado que nos trava. É tempo de transformar ideias e sonhos em projetos concretos.
Há 40 anos sonhava-se com o fim da guerra fria. Há 40 anos sonhava-se com a consolidação da democracia. Há 40 anos sonhava-se com o progresso que a integração europeia traria às nossas casas, às nossas terras.
Com tempo e vontade, esses sonhos concretizaram-se.
Não vamos esperar mais 40 anos para eleger um socialista em Oeiras.
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