O desembarque na Normandia em 1944, há 80 anos, foi uma operação militar de envergadura inédita, que poderia ter corrido muito mal. No entanto, dia após dia, lentamente, foi ganhando força e libertando a França. Menos de um ano depois, o regime nazi chegava ao fim e Hitler suicidava-se no bunker da Chancelaria.
Oitenta anos depois, estamos confrontados com uma ameaça extraordinariamente mais poderosa e letal que reina em Moscovo, e que está a fazer tudo para normalizar e tornar aceitável o uso de armas nucleares. Os apóstolos de Putin, percebendo que a frente de Kharkiv está esgotada e paralisada, pressionam o Kremlin para um cenário absolutamente assustador: que seja usada uma arma nuclear tática nos exercícios que estão a decorrer, com o objetivo de mostrar ao mundo, e à Ucrânia, o que significaria a sua introdução no teatro de guerra. Total insanidade e demência.
Essa demonstração ocorreria em território russo, presume-se, e seria acompanhada ao vivo pelos meios de comunicação televisivos e canais digitais de todo o mundo. Essa ideia louca, defendida abertamente por analistas militares e civis respeitados por Putin, teria como finalidade vergar a Ucrânia e os aliados da NATO, perante o apocalipse nuclear, mesmo que tático (para efeitos de comparação, as 50 quilotoneladas usadas na bomba de Hiroshima é a potência de uma ogiva tática).
Há nisto um cheiro a suicídio coletivo, mas da liderança civil e militar da Rússia. Num bunker, certamente. Será que acham que só eles têm essa firmeza e esse poder devastador? A vontade não lhes faltará, e essa narrativa de banalização do uso de armas nucleares é extraordinariamente perigosa, levando líderes de países da NATO a antecipar esse cenário extremo de quase fim da Humanidade. A batalha da Normandia, que hoje se venera e respeita, com milhares de mortos, seria minúscula quando comparada com o que poderia acontecer numa troca nuclear.
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