Hesitei muito em falar do assunto. Porquê? Por medo. Leram bem: medo. Medo de ser acusada de deslealdade, medo de represálias, medo… Como se ainda vivêssemos no tempo da outra senhora.
Talvez tenha sido a vitória dos cidadãos decentes nos EUA que me imprimiu o pontapé de saída. Isso e o facto de o dever a tantos e tantas colegas que, perante o silêncio, ficaram confinados à indignação(zinha) geral e conspurcados no seu bom nome profissional e que não o merecem.
Então, vamos lá.
Ponto prévio: tenho cinco gatos e dois cães (emprestados).
Sou das primeiras a insurgir-me contra os maus tratos aos animais e, aquando da tragédia (porque foi uma tragédia!) em Santo Tirso, onde tantos cães e gatos sofreram uma morte atroz, não podendo por questões de saúde ir eu mesma, mobilizei filhos, nora, amigos dos filhos, tudo para o resgate dos bichinhos. Sou, pois, sensível à questão animal. Mas jamais me ouvirão dizer que “quanto mais conheço os homens mais gosto dos bichos”! Para mim, em toda e qualquer circunstância que não vá contra os Direitos Humanos, as pessoas estão sempre, sempre primeiro.
Em resultado do sucedido em Santo Tirso, houve intervenção parlamentar do sr. Primeiro Ministro, demissão do Director Geral da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, alteração orgânica da instituição, entrega da tutela animal pela criação a médio prazo duma outra estrutura no Ministério do Ambiente.
Entretanto, eis que um cidadão estrangeiro, à guarda do Estado português, é torturado e morto pelos que o deviam proteger.
Nem sequer me vou referir ao encobrimento do caso, que só veio a lume pela coragem de quem o denunciou, dez a 15 dias após o sucedido.
O caso só retoma a via da justiça quando se dá a interferência do Ministério dos Negócios Estrangeiros ucrâniano, a pedido da família da vítima, junto do seu homólogo português! Se não tem sido esta troca de palavras, quem sabe se, uma vez mais, o Ministério da Justiça não iria arquivar o caso
O que me faz espécie é que se faça (e bem!) tanto alarido em torno de 70 animais que morrem e que se cale este facto vergonhoso dum homem que é morto em cirscunstâncias que fazem lembrar as práticas do Estado Novo de má memória.
Nem uma palavra da direção do serviço (que mais não fosse para defender os seus homens e mulheres que se viram assim todos conspurcados) nem uma tomada de posição de repúdio do Ministério da Administração Interna (a não ser o tal “murro no estômago”, mas…). Nem sequer uma intervenção em qualquer forum do Sr. Primeiro Ministro. Nada. Silêncio total, conivente ou não, mas ensurdecedor.
Aliás, o caso só retoma a via da justiça quando se dá a interferência do Ministério dos Negócios Estrangeiros ucrâniano, a pedido da família da vítima, junto do seu homólogo português! Se não tem sido esta troca de palavras, quem sabe se, uma vez mais, o Ministério da Justiça não iria arquivar o caso, arranjando aqui mais uma atenuante como noutros que também se conhecem. E aqui corro mais um perigo e assalta-me o temor que vejo à minha volta (no País de Abril, senhores!) em cair nas mãos da Justiça.
Honra seja feita à Inspeção-Geral da Administração Interna pelo inquérito e pela investigação que esta semana veio a público. Mas…. Que consequências virão daí?
Os CHEGAS desta vida não nascem de geração espontânea.
Nascem na base dos erros, da desconfiança e sobretudo da aparente impunidade de que goza quem está ciclicamente no poder.
Sou socialista. Serei sempre socialista.
Mas, antes disso, sou cidadã e respondo perante a minha consciência. E não posso ficar calada ou impassível perante atos que visam apenas governar, tendo em vista assegurar as próximas eleições.
Falar e punir com mão de ferro uma morte por tortura, negligência, encobrimento, falsificação de documentos e sabe-se lá que mais não dá apoios políticos, como no caso dos cães relativamente ao PAN.
Por isso, iremos certamente assistir à aplicação do principio de Peter e promover a incompetência e sobretudo a incapacidade de liderança.
E depois rasgamos as vestes por causa dos radicalismos e dos totalitarismos!
Quer-me parecer que faz falta um PH: Partido Humanista.