Inicio de aulas num ano atípico, inúmeras questões, um sem número de temores.
Felizmente a maioria dos países optou pelas aulas presenciais, tendo concluído que, perante algumas incertezas de comportamento do vírus, este parece não ter grande apetência por hospedeiros jovens.
A televisão mostrou o ar de felicidade ( e até de algum alívio!) dos alunos face a uma “normalidade anormal”, mas que lhes permite algum retorno ao seu mundo de contactos sociais e entre pares.
Para um elevado número de crianças e jovens imigrantes ou descendentes de imigrantes, as aulas presenciais revelam-se duplamente bem vindas.
Com efeito embora aparentemente o COVID 19 seja um vírus democrático e que tenha vindo a demonstrar a fragilidade dos diferentes sistemas, atingindo da mesma forma violenta democracias e ditaduras, países muito desenvolvidos e países paupérrimos, o certo é que, quando analisado no patamar da individualidade , este é um vírus como todos os outros: são os mais desprotegidos quem mais sofre.
O fecho das escolas no último meio ano e a passagem ao ensino à distância (síncrono e não síncrono), criou sérias lacunas entre alunos com mais recursos e os outros. Neste último grupo e não apenas por questões de carácter económico, encontram-se as crianças imigrantes e os filhos de imigrantes.
O ensino à distância, pelo menos no que concerne aos alunos mais novos, requer um enorme envolvimento por parte do entorno familiar . Ora, este acompanhamento é impossivel quando a família não possui os conhecimentos suficientes para o fazer, sejam eles de carácter académico ou apenas linguístic. Estes alunos acabam por ter um enorme desfavorecimento em relação aos seus pares.
Acresce ainda que, como acontece também com alunos sobretudo do interior e com menos recursos, nem todos possuem material informático ou mesmo rede de internet que lhes permite acompanhar as matérias, submeter trabalhos ou efetuar pesquisas.
Durante a primeira vaga, o governo nomeou cinco secretários de Estado por forma a assegurarem a coordenação do combate contra a epidemia nas cinco regiões do País. Daqui resultaram alguns projectos de apoio a estas comunidades, nomeadamente no que se refere à integração e acompanhamento dos mais jovens.
Porém, por lapso inaceitável, o Norte do País ficou de fora destes apoios e medidas.
Ora se há uma região onde a clivagem social e o número de membros jovens nas comunidades migrantes é maior, essa é sem margem para dúvida o Norte.
Valeram a estes jovens as iniciativas das Associações de Migrantes que criaram pequenas salas de estudo e acompanhamento, forneceram velhos computadores e tentaram, com uma dinâmica louvável e incansável, que estas crianças não fossem prejudicadas nos seus percursos escolares.
Mas esta é função do Governo e não pode ser alienada. Sobretudo quando, assumidamente, o país necessita de rejuvenescer o tecido social e de o qualificar.
Neste início de ano escolar há pois que ter um olhar muito especial para estas situações que implicam um acompanhamento mais directo e pessoal . Não nos podemos esquecer que, para a grande maioria, a escola representa o único elo de integração na sociedade portuguesa , quer através da língua quer em relação ao conhecimento de quem somos, que valores partilhamos e que cidadania queremos construir.
Deixar estas comunidades sem apoio especial na área da educação é falhar logo a montante, a integração que advogamos.
E por favor… o Norte é Portugal. Não pode nem deve ser esquecido!!!