As crianças adquirem os seus primeiros valores em casa, com os seus pais, cujos comportamentos observam diariamente e que acabam por reproduzir, através de um processo de mimese. Podemos, pois, afirmar que não adianta exigirmos das nossas crianças determinados comportamentos se, como pais, não dermos o exemplo.
Deste modo, se queremos que, um dia, quando formos idosos, os nossos filhos nos tratem com afeto e nos dediquem tempo, devemos demonstrar o mesmo comportamento com os nossos pais e avós. Da mesma forma, se vemos, por exemplo, uma idosa carregada de sacos de supermercado e não oferecemos ajuda, como esperamos que os nossos filhos, quando crescerem, o façam também, se não conviveram com essa atitude durante a sua infância?
O mesmo acontece relativamente ao respeito que os alunos possam demonstrar em relação aos professores. Se os pais ensinarem, desde cedo, que os professores devem ser ouvidos e respeitados e que a eles compete a gestão do espaço onde as aulas ocorrem, estas decorrerão de forma muito mais harmoniosa e gratificante para todos. Não nos esqueçamos de que existe um problema de indisciplina em muitas turmas, que se prende com o facto de um professor ter dificuldade em, por vezes, impor a sua autoridade na sala de aula.
Assim, só com um trabalho de equipa e de confiança entre pais e professores é que pode haver respeito de parte a parte. Como consegue um professor que um aluno mude determinado comportamento desrespeitoso se, em casa, esse mesmo aluno ouve que o professor não tem razão? Não pretendo com isto dizer que devamos pensar que os nossos filhos mentem sempre, nada disso. Contudo, não podemos, como pais, crucificar um professor ou dar razão ao nosso filho sem primeiro verificar o que de facto sucedeu, sem apontar o dedo ao professor à partida, em jeito inquisitório. O diálogo é essencial e deve sempre ocorrer de forma cordial e respeitosa.
Esta realidade aplica-se também a funcionários e a colegas. O respeito pela diferença, por exemplo, é essencial e deve ser promovido pelos pais. Neste contexto, qualquer comportamento que discrimine um jovem porque provem de uma cultura minoritária, porque professa outra religião, ou porque é de outra cor, por exemplo, é completamente inaceitável e deve ser punido combatido em casa e na escola.
Confesso que me faz confusão o facto de, hoje em dia, terem surgido alguns “gurus da educação” dos tempos modernos, que não são professores, que não têm formação superior no campo da educação, e que encaram a criança quase como um cristal que pode partir e que não se pode contrariar e a quem pais desesperados recorrem numa tentativa de aprender a lidar com os filhos. Se um pai castiga um filho por um comportamento errado, cai o Carmo e a Trindade, mas se um aluno levanta a mão a um professor? Aí, já a culpa é do professor que não soube lidar com essa criança, porque não foi compreensivo e sensível!
Creio que já é altura de as pessoas perceberem que, antes de mais, a educação compete aos pais, que são incumbidos de uma tarefa maior, que se trata de preparar os filhos para a gestão das emoções e para saberem respeitar aqueles que os rodeiam. Não temos de gostar de todas as pessoas, nem de concordar com tudo o que ouvimos e vemos. Contudo, uma opinião partilha-se, não se impõe. Os alunos têm de aprender a ouvir os outros e a estarem abertos a outras opiniões. Só assim crescerão em sociedade.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.