Nos últimos meses assistimos a duas passagens de testemunho na Assembleia da República. Primeiro com Jerónimo de Sousa a deixar a bancada comunista, agora com Catarina Martins a passar o testemunho na liderança do Bloco de Esquerda. Parca em palavras após receber elogio do Primeiro-ministro e parceiro de geringonça, a ainda coordenadora do BE tem lembrado que a última década foi “um tempo extraordinário”, onde houve várias conquistas. Entre elas o ter contribuído para meter a direita fora do Governo, o ter obrigado o PS a escrever um acordo sobre políticas públicas. Tudo isto é verdade. Mas, o que não é verdade é que “a geringonça foi um tempo extraordinário em que o país melhorou”. Se assim tivesse acontecido acredito que o BE não teria passado dos 19 deputados (legislativas de 2019), que formavam a terceira maior bancada do Parlamento, para os 5 atuais.
Numa análise mais fina e recuando a 2020 a líder bloquista insistia no “enorme erro” que foi a privatização da TAP e apelava ao Governo para que metesse travão às decisões que os acionistas privados estavam a tomar. Na altura, apelidou essas decisões de “muito preocupantes”. Também por essa altura referia ser “preciso acabar com as PPP e as rendas pagas aos negócios privados na saúde”. Tudo isto foi feito. E o que temos hoje? Uma mão cheia de nada.
O caso TAP pode ser acompanhado qual novela, em episódios de 6 ou 7 horas, sendo que a privatização, perdão! Reprivatização, já está na agenda. Resta saber por quando e qual será o saldo final.
Quanto à saúde… é uma espécie de curta-metragem, onde se inclui: a contratação de um CEO para o SNS, acordos com privados para realização de partos durante o verão, isto depois de uma disputa ideológica, na legislatura geringonça, que levou à perda, destruição de um instrumento importante para a sustentabilidade do SNS. A assistir com expetativa ao desenrolar do verão e às notícias a darem conta de nascimento ou em casa ou algures numa autoestrada do país. Outras situações existem. Mas, a hora é de despedida, de olhar para o copo meio cheio e deixar a pergunta no ar: o que aconteceria se a direita se unisse e realizasse a “Geringonça – parte II”?
MAIS ARTIGOS DESTE AUTOR
+ Ga la lamba – uma novela à portuguesa
+ O exagero da proteção de dados
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.