A direita democrática portuguesa vive um momento decisivo. A quarta vitória consecutiva de uma figura do seu espaço político contrasta com o estado lastimoso da sua cena partidária parlamentar.
As eleições Presidenciais viram três quartos do eleitorado português votar em candidatos à direita do centro, votando a esmagadora maioria dos eleitores na direita moderada e humanista que se insere naturalmente num quadro democrático.
Fica evidente que o futuro da direita não passa por aparelhos, por dogmas ou por claques. A mentalidade de tribo e os testes de pureza nos partidos tornaram-nos frágeis e fechados sobre si próprios. Sem outdoors, sem estrutura e sem corte, Marcelo Rebelo de Sousa foi o candidato de direita com maior percentagem de votos na História.
A “direita durona”, que não se compromete e não verga, vive fechada na sua vitimização e comunicação de nicho, condenada a derrotas constantes
O País vota em força num candidato do espaço da direita, mas está totalmente fechado aos membros do clube da direita. A badalada “direita fofinha”, que alegadamente faz por agradar à esquerda, é a direta que sabe construir os consensos para ganhar eleições e assumir responsabilidades governativas. A “direita durona”, que não se compromete e não verga, vive fechada na sua vitimização e comunicação de nicho, condenada a derrotas constantes.
A crispação baseada na obsessão com ser o oposto da esquerda retira à direita o poder de agência para construir a sua própria agenda. Seguir por este caminho vai significar escolher ser reativo em vez de ser criativo. As pessoas não estão à procura de ter uma equipa, para isso basta-lhes o Sporting ou o Benfica. Estão à procura de soluções.
A minha visão para a direita passa por um caminho que saiba gerir os ímpetos desgovernados da mudança, sem tentar parar comboios em movimento. Por isto defendo uma direita humanista e moderada.
Felizmente para nós, temos neste momento dois porta-estandartes extraordinários para esta mensagem. Temos em Marcelo Rebelo de Sousa uma voz ponderada e próxima das pessoas que nos mostra como a direita não precisa de esquecer a compaixão. Em Carlos Moedas, temos um exemplo de como a técnica e a inovação têm no espaço de liberdade e modernidade da direita o ambiente perfeito para prosperar.
A direita tem de se descomplexar dos fantasmas do passado, da obsessão com a técnica pura e de um elitismo intrínseco. Tem de ter candidatos que aliem à competência técnica uma componente empática, que parece escapar a certas direitas obcecadas com livros de auto-ajuda.
Não podemos desperdiçar estas oportunidades com clubismos ou fundamentalismos. Quem acredita num Portugal dinâmico, criativo e líder em diversos setores de atividade não se deve perder em guerrilhas culturais em arbustos de Belém. Não se deve distrair com o seu ganho partidário, mas sim no superior interesse de representar uma mudança.
Não há nada pior na política do que os vícios que o poder cria. Para os evitar, é essencial que exista uma alternativa credível.
Uma alternativa que saiba conciliar os interesses do privado e do público, dando preferência ao privado. Que saiba procurar dar às pessoas armas próprias para sobreviver sem ignorar quem precisa desesperadamente de ajuda. Que faça entender que ser de direita não é ser rezingão, é ser idealista de forma pragmática.
Não devemos rejeitar nem o debate, nem a ideologia. Devemos saber criticar os profundos falhanços de uma direita que se aburguesou e perdeu o rumo. Devemos perder o ódio à comunicação competente e às políticas públicas com rasgo. Não devemos cair na tentação de achar que somos vítimas da História.
O potencial de vitória de um discurso construtivo e humano está à frente dos nossos narizes. É bom que a raiva e o ódio não nos permitam deixar isso escapar.