O (re)nascimento do automóvel elétrico, que surgiu inicialmente na segunda metade do século XIX, acontece por imposição ambiental – com o planeta a emitir queixas em formato de alterações climáticas mais rápidas do que alguma vez tínhamos testemunhado – e também por terem conquistado espaço na agenda política internacional.
Porém, depressa se percebeu que era impossível ficar-se refém da eletricidade: nem da autonomia oferecida, nem do tempo que se perde cada vez que se tem de “abastecer”. Ao passo que um veículo a combustíveis fósseis ocupa uns três minutos de vida a encher o tanque, um carro elétrico obriga a uma paragem mínima de 30 minutos e nunca é para repor a totalidade da autonomia. Isto, claro, se o automóvel puder ser carregado num posto rápido e o mesmo estiver livre, caso contrário a tal meia hora irá certamente alongar-se.
Com tantas dúvidas, até poderia julgar-se que o carro elétrico teria os dias contados. E foram vários os “velhos do Restelo” a vaticinarem-lhe essa sina. Mas a tecnologia e o trabalho desenvolvido no sentido de melhorar a capacidade das baterias levaram a melhor. Hoje, o carro 100% elétrico, já com níveis de autonomia de mais de 300 quilómetros, apenas não tem mais sucesso pelos preços a que se apresenta ao mercado e pelo facto do consumidor não fazer contas a longo prazo (por muito que implique um investimento maior no momento da compra, depois acaba por compensar).
No entanto, o percurso da eletrificação tem sido mais vasto e interessante para todos. Combinando a eletricidade com motores a combustão, quer seja na forma de mild-hybrids, de full- hybrids ou, até mesmo, de plug-in hybrids, as marcas conseguiram reduzir a emissão de CO2 ao acenarem positivamente às cada vez mais exigentes regulações europeias ao mesmo tempo que não beliscaram a conveniência dos condutores. No caso dos plug-in, com capacidade para percorrer uma distância considerável exclusivamente em modo elétrico (entre 40 e 60 quilómetros), há quem diga que não passa de uma fachada. Por um lado, tendo a concordar. Perspetivando a quantidade de vezes que os condutores, sem possibilidade de recarregar, irão usar o combustível fóssil sem pestanejar. Mas, por outro lado, esses mesmos condutores, depois de se habituarem a gastar uma média de 2,50€ por cada 100 quilómetros, não gastarão de ânimo leve mais de 10€ para percorrer a mesma distância.
Tudo isto não se aplica aos mild ou full- hybrids, capazes de colocar a energia elétrica, proveniente da inércia, por exemplo, ao serviço de vários sistemas, poupando assim combustível e, por consequência, o meio ambiente. E se por um lado não beneficiam de incentivos fiscais, por outro as emissões de CO2 reduzidas têm um impacto direto no preço do carro: um dos parâmetros para calcular o Imposto Sobre Veículos é precisamente a gramagem de emissões de dióxido de carbono por quilómetro. Poupa-se em ISV e, claro, no IVA que seria calculado sobre o mesmo.
Mas há ainda outros a poderem usufruir das vantagens da eletrificação: os amantes da velocidade e potência. Nesta equação, já se sabe que sobra para a carteira do condutor que irá ter de gastar mais dinheiro a dar de comer aos cavalinhos extra. Ou pelo menos deveria ser assim, caso não houvesse um motor elétrico a entrar nesta aritmética que, automaticamente, reduz consumos médios e emissões.
Tudo baralhado e dado, é caso para dizer que com a eletrificação todos podem sair a ganhar.