Longe de mim pensar que as autoridades parecem esperar por períodos eleitorais para investigar políticos e que, por azar dos Távoras, é nessas alturas que são desenvolvidas espetaculares operações de buscas e detenções. Já sabemos, os magistrados do Ministério Público não estão preocupados com os tempos da política e, de tão concentrados que estão na sua atividade, nem se apercebem de que há eleições. Por exemplo, o caso Tutti-Frutti aparece de tempos a tempos, mas ninguém tem culpa de que essa aparição cíclica coincida sempre com os períodos eleitorais.
Ficámos a saber que a investigação na Madeira já é antiga, mas, claro, foi exatamente este o momento certo para levar a cabo a operação. Também me apetecia brincar com a costumeira presença de jornalistas nestes momentos, mas é coisa que já não tem piada nenhuma. Como também não tem piada rigorosamente nenhuma a encenação com aviões militares, camionetas de vidros baços e centenas de agentes enviados do continente. O Ministério Público e a Polícia Judiciária saberão melhor do que ninguém quais os meios necessários, mas aquilo parece-se demasiado a exibição de força. “Quem manda nisto tudo somos nós”, poderia ser a legenda. Não é esse o papel da Justiça num país democrático, não é esse o cenário que se deseja para a aplicação da lei. A Justiça tem de ser discreta e eficaz, a espetacularidade e o fogo de artifício encaixam melhor noutras atividades. Mais do que tudo, é bom lembrar que a Justiça serve a lei, não é a lei que serve a Justiça.