António Ferreira Amorim, o último dos quatro irmãos da terceira geração do clã e pai do CEO da Corticeira Amorim, morreu na noite de terça-feira, 14, aos 95 anos de idade. A sua fortuna estava avaliada em 790 milhões de euros pela revista Forbes, o que o colocava na 18ª posição da tabela dos mais ricos de Portugal em 2023.
Nascido em julho de 1928, António era o terceiro dos oito filhos de Albertina e de Américo Alves Amorim, e começou a trabalhar no grupo Amorim & Irmãos em 1949, aos 21 anos. Os outros três filhos que participaram na gestão da Corticeira também já faleceram: Américo, presidente da Corticeira entre 1953 e 2001, faleceu em 2017; José em 2022 e Joaquim em 2023.
“Figura maior da terceira geração da família Amorim, António Ferreira Amorim deixa-nos aos 95 anos de idade, legando-nos um exemplo de trabalho, determinação, coragem e responsabilidade. Dedicou, desde muito jovem, o seu trabalho ao desenvolvimento da atividade familiar de transformação da cortiça. Assumiu a responsabilidade pela produção e cedo se afirmou na liderança industrial, graças não só ao rigor e eficácia da sua gestão operacional, mas também à sua personalidade forte e cativante”, informou a Corticeira Amorim em comunicado. A nota refere ainda que “a sua preocupação eram as pessoas, com quem estabelecia uma relação de cumplicidade e respeito, fundamental para a produtividade, segurança e motivação profissional. A proximidade com as pessoas da produção era o que lhe dava mais satisfação”.
Em 2020, com 91 anos, esteve presente na abertura das comemorações do 150º aniversário do negócio iniciado pelos seus avós, cuja gestão executiva está atualmente a cargo de dois dos seus três filhos: António Rios Amorim, CEO, e Cristina Amorim, CFO. Na altura, ainda mantinha o hábito de se deslocar frequentemente à fabrica para se inteirar de alguns aspetos da produção e falar com os empregados mais antigos.
Negócio na quarta geração
A Corticeira Amorim está hoje entregue à quarta geração da família. Fundada por Américo Alves Amorim em 1879, começou como uma pequena unidade de produção de rolhas para o vinho do Porto, em Gaia. Em 1944, a família sofreu um forte revés quando um grande incêndio destruiu completamente a fábrica entretanto instalada em Santa Maria de Lamas. Com a morte do fundador em 1953, os oito filhos (quatro rapazes e quatro raparigas) herdaram 20% da Amorim & Irmãos. Os quatro irmãos – Américo, José, António e Joaquim – assumem o controlo da empresa, numa altura em que Américo já tinha viajado pelo mundo abrindo caminho para uma internacionalização que está na base daquilo que é hoje a Corticeira Amorim. Em 1988, quando o grupo dispersa ações na bolsa, o irmão José Amorim abandona o negócio familiar por nunca ter concordado com a entrada de capital externo à família.
Na década de 1990, quando Portugal é já o primeiro exportador e importador mundial de cortiça, a revista Forbes chama a Américo Amorim o “rei da cortiça”, mas o aparecimento da rolha de plástico, a preços competitivos, abana o negócio familiar, que teve de reinventar-se já sob a liderança de António Rios Amorim, filho de António e sobrinho de Américo. Em 2001, quando é feita a passagem de testemunho, o grupo reúne 140 empresas, emprega cinco mil trabalhadores e está representado em 36 países. É feita uma separação de negócios, que ficam no Grupo Américo Amorim, e a holding familiar volta a centrar-se na cortiça e seus derivados e aposta no mercado premium dos vinhos, o que irá permitir recuperar quota de mercado.
O ano de 2013 foi marcado pela saída do irmão Joaquim do capital do maior grupo de transformação de cortiça do mundo, cujo capital atualmente é controlado pelos filhos de António e também pela viúva e filhas de Américo Amorim.