A robótica tem merecido um excecional destaque nos últimos tempos, quer em conversas triviais do nosso dia-a-dia, quer nos meios de comunicação social, e mais ainda entre a comunidade científica. Mas quais serão exatamente as consequências que o uso de robôs nos locais de trabalho poderá ter para os respetivos colaboradores?
Em 1984, já se antecipavam que “(…) os benefícios indiscutíveis da tecnologia robótica tornam a sua infusão essencial para a competitividade organizacional e talvez até sobrevivência das próprias empresas” (Knod et al., 1984). Porém, negligenciar os fatores humanos na implementação destas tecnologias, tais como a robótica, pode ser arriscado e provocar danos na confiança e produtividade dos colaboradores.
Robôs sociais são robôs autónomos que interagem e comunicam com humanos ou com outros robôs, seguindo os comportamentos sociais expectáveis destes papéis. Desse modo conseguem comunicar, interagir e ler as nossas expressões faciais, tal como um humano o faz.
Embora os robôs não possuam uma consciência real, podem demonstrar comportamentos e características sociais semelhantes aos dos humanos. Isto significa que conseguimos reconhecer pistas sociais nos robôs, e consequentemente, conseguimos estabelecer relações sociais com estes
O que nos faz, enquanto humanos, conseguir interagir com robôs sociais? Na verdade, faz parte da nossa essência social a capacidade de interagir com algo que nos pareça ser minimamente social. Vejamos as interações que temos com os nossos animais domésticos, por exemplo. Isto acontece porque aplicamos os mesmos processos sociocognitivos quando interagimos com animais do que quando interagimos com outros seres humanos. Do mesmo modo, e embora os robôs não possuam uma consciência real, podem demonstrar comportamentos e características sociais semelhantes aos dos humanos. Isto significa que conseguimos reconhecer pistas sociais nos robôs, e consequentemente, conseguimos estabelecer relações sociais com estes.
O trabalho recente de Lopes e colegas (2023) demonstrou que os indivíduos se sentem mais à vontade em discutir com robôs questões relacionadas com a sua saúde, do que com os seus homónimos humanos. Porquê, podemos pensar? Um robô não julga, pode apresentar uma maior tolerância e também elevados níveis de empatia, o que acaba por ser particularmente relevante em questões sensíveis como as relacionadas com a saúde. Esta investigação, realizada em duas organizações portuguesas, concluiu que os colaboradores não só reagem bem à presença de robôs no seu local de trabalho, como também estes podem influenciá-los a adotar comportamentos mais saudáveis. As organizações que queiram implementar robôs sociais podem então ver este estudo como um bom ponto de partida para introduzi-los como agentes promotores da saúde nas empresas, em programas de mudança de comportamentos de saúde e gestão do stress, por exemplo.
A questão da confiança volta aqui a ganhar destaque, cabendo às organizações garantir que os robôs sociais podem ajudar verdadeiramente os colaboradores, ao invés de serem utilizados apenas para reduzir custos operacionais. Os colaboradores precisam de sentir que podem confiar nestes agentes robóticos, e que estes os podem ajudar a melhorar a sua saúde e segurança no trabalho.
A questão determinante para o futuro não é tanto como iremos trabalhar com robôs, mas sim como iremos evoluir juntamente com estes. Embora os humanos consigam estabelecer ligações com robôs sociais, resta saber se os conseguem integrar eficientemente nos seus locais de trabalho, de modo a utilizá-los para combinar os pontos fortes de cada um. A presença de robôs sociais nas organizações pode ser vista como uma oportunidade para se criarem ambientes de trabalho mais saudáveis e fortes.
O conselho fundamental é o mesmo que pode ser aplicado em qualquer outra situação que ocorra nos locais de trabalho: ouvir os colaboradores, envolvê-los na mudança e garantir que estão dispostos a partilhar o seu espaço de trabalho com os seus homólogos robôs.
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