Nós, humanos, gostamos de simplificar realidades complexas em pequenas unidades de informação que nos ajudam a dar-lhes um significado prático. Fazemos isso porque não temos capacidade para lidar com todos os estímulos a que somos expostos diariamente (e.g. Chaiken & Trope, 1999) e/ou porque, simplesmente, não temos vontade de saber mais sobre essa realidade (e.g. Smith & Collins, 2009).
Muitas vezes, essas pequenas unidades de informação têm forma de palavras singulares que entram no vernáculo e são ditas por todos nós, mesmo que não saibamos exatamente o seu significado. Exemplos destas buzzwords ou chavões que se banalizaram na última década são: empatia, algoritmo ou inflação. Porém, o mais recente, e mais incontornável de todos, é o chavão “sustentabilidade”, que abre telejornais, norteia agendas políticas e define os pilares de ESGs (Environmental, Social e Governance) das empresas.
Tanto os governos, como as organizações privadas têm feito um enorme esforço para mobilizar a opinião pública para mudança de comportamentos de consumo que garantam às gerações futuras os mesmos recursos naturais (ou melhores) das gerações atuais
Desde que o conhecido Relatório Brundtland foi divulgado, no final da década de 80, tanto os governos, como as organizações privadas, têm feito um enorme esforço para mobilizar a opinião pública para mudança de comportamentos de consumo que garantam às gerações futuras os mesmos recursos naturais (ou melhores) das gerações atuais.
No entanto, esta tarefa não tem sido nada fácil e as metas propostas para 2030 são ainda uma miragem.
E, a propósito de miragens e de mudanças de comportamentos, a solução pode passar pelas áreas que, pouco ou nada, têm sido faladas na opinião pública e que tantos insights têm oferecido a esta problemática.
A psicologia e as ciências comportamentais têm identificado barreiras psicológicas importantes que afastam os humanos da sustentabilidade, um tema percecionado como distante no tempo e do nosso “eu” (Graves & Roelich, 2021).
A autoeficácia, por exemplo, é uma barreira à inação climática (e.g. Phipps et al., 2012). Por autoeficácia, entende-se a perceção subjetiva do indivíduo sobre a sua capacidade de atingir os resultados desejados, num determinado contexto (Bandura, 1977). Estudos têm mostrado que, quando a ambição do objetivo é grande, por exemplo, mitigar as mudanças climáticas globais, os indivíduos percecionam que não têm capacidade ou competência suficientes para serem bem-sucedidos (Schutte & Bhullar, 2017). Isso acaba por levar à inação e à crença popular de que “um grão de areia não pode mudar o mundo”.
No entanto, há esperança. Phipps e os seus colegas (2012) defendem que é possível aumentar a autoeficácia individual introduzindo pequenos estímulos no contexto. Por exemplo, a instalação de objetos em casa, (e.g. uma cabeça de chuveiro com menor fluxo de saída de água) é uma “pequena” mudança comportamental que aumenta os níveis de autoeficácia.
Outros autores sugerem que o controlo percebido sobre a própria vida está positivamente associado a atitudes pró-ambientais. Zhang e colegas (2022) demonstraram que a perceção de controlo que temos da nossa vida aumenta a intenção de compra de produtos verdes, e isso acontece porque os consumidores com maior controlo de vida acreditam que suas compras serão mais eficazes na resolução de problemas ambientais. Portanto, um caminho para empresas e governo pode passar por trabalhar, precisamente, essa perceção de autocontrolo juntos dos consumidores-cidadãos.
No ISPA, temos centrado a nossa investigação na compreensão da relação triangular entre as características das pessoas (Gomes et al., 2023), papel das organizações (Cesário et al, 2022) e os resultados ao nível da sustentabilidade nos seus três domínios, ambiental, social e económica (Pinto-Coelho et al., 2022).