Com Simon e Garfunkel ouvimos a icónica música Sound of Silence e, em Portugal, os Silence 4 na sua música Eu não sei dizer referem que o silêncio os deixa ilesos.
Com os provérbios aprendemos que “a palavra é de prata, o silêncio é de ouro”. E com Peter Drucker, um dos pais da Ciência da Gestão, que “the most important thing in communication is hearing what isn’t said” (“a coisa mais importante na comunicação é ouvir o que não é dito”).
Todas estas referências ao silêncio destacam as suas virtudes.
Tem o silêncio no trabalho estas virtudes? Mas o que sabemos sobre este fenómeno?
O estudo do silêncio em contexto de trabalho ganhou importância quando foi definido como um fenómeno distinto da ausência da voz (Morrison, 2014). Assim, o silêncio é mais do que a ausência da voz. O silêncio é a decisão deliberada das pessoas em reterem informação, não partilhando as suas opiniões ou sugestões sobre um qualquer tema (Pinder & Harlos, 2001).
Porque se toma tal decisão?
A resposta a esta questão, a nível da investigação internacional, tem apontado dois grandes motivos. O primeiro, que origina o silêncio por submissão, prende-se com o sentimento de subordinação e resignação do indivíduo face à organização. Por outro lado, estudos também têm identificado outro tipo de silêncio, que se caracteriza pela necessidade do indivíduo em proteger-se, o qual denominamos de silêncio defensivo (Van Dyne e colaboradores, 2003). Em Portugal, os estudos têm identificado uma outra tipologia de silêncio, com uma natureza distinta aos silêncios anteriores. Este silêncio, nomeado de silêncio de adesão (ou prosocial), pode ser entendido como a manifestação da nossa lealdade face à organização, ou seja, os indivíduos optam por reter as suas opiniões porque sentem que, ao fazê-lo, estão a proteger a sua organização (Sabino & Cesário, 2020).
Fatores relacionados com a liderança parecem estar altamente relacionados, sendo estas associações positivas quando percecionamos o nosso líder como alguém abusivo e tóxico
Os resultados de uma meta-análise publicada recentemente (Hao e colaboradores, 2022) identificam alguns fatores que potenciam os comportamentos de silêncio submisso e defensivo. Fatores relacionados com a liderança parecem estar altamente relacionados, sendo estas associações positivas quando percecionamos o nosso líder como alguém abusivo e tóxico. Pelo contrário, se o percebemos como um líder ético e autêntico, então a possibilidade em adotarmos comportamentos de silêncio submisso e defensivo tende a ser menor. Um estudo realizado no ISPA chegou à mesma conclusão (Ferreira & Sabino, 2021).
Outros fatores antecedentes foram identificados, nomeadamente, o compromisso organizacional (Sabino, 2015) ou a perceção de suporte organizacional sendo que parece existir uma associação no sentido em que quando o indivíduo se sente comprometido e com apoio da sua organização, tende a não adotar estes comportamentos de silêncio submisso e defensivo, adotando comportamentos de silêncio de adesão (ou prosocial) (Sabino, 2015). Também algumas disposições individuais tendem a relacionar-se com o silêncio, sendo que pessoas mais assertivas não utilizam tanto o silêncio.
Que consequências tem esta decisão de silêncio para o próprio e para organização onde trabalha?
Os estudos apontam para a existência de relações positivas entre o silêncio de adesão com o desempenho, com comportamentos extra-papel e com o bem-estar. Todas estas dimensões da vida de trabalho melhoram com a decisão de silêncio de adesão. No entanto, se estivermos perante os silêncios submisso e defensivo estas relações tendem a ser negativas (Hao e colaboradores, 2022), ou seja, quando adotamos este tipo de silêncios podemos vir a sentir menor bem-estar e menor desempenho.
Esta é uma área de estudo recente, e com muito ainda para se saber. No entanto, parece evidente a necessidade de garantir que os indivíduos estejam melhor preparados para conseguirem ler, os seus, e os silêncios dos outros. Um gestor deve estar atento não apenas a reivindicações e contestações, mas também aos sounds of silences porque, como diz a canção, people talk without speaking.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.