Na noite da arrebatadora vitória eleitoral do PS, António Costa anunciou que o seu grande desafio na legislatura seria “reconciliar os portugueses com as maiorias absolutas”. Ano e meio volvidos, o estado da nação é hoje o de um País que ainda dá o benefício da dúvida e não quer eleições, mas se arrependeu da maioria absoluta que lhe entregou. Qualquer ideia de reconciliação é uma miragem. A “responsabilidade absoluta” que vinha com “ausência de álibis e desculpas” tem deixado a desejar, e em vez do anunciado “Governo que resolva problemas e crie oportunidades”, a imagem que fica é a de um Governo que cria problemas e falha oportunidades, e que só é salvo pelas Finanças e pela Economia.
Entre os problemas criados, muitos provêm da deficiente coordenação política e de uma gestão da coisa pública com leveza e até negligência, que se espelha numa contabilidade expressiva: 13 membros do Executivo a sair em 16 meses. Os sucessivos episódios de sucessivos governantes no Ministério das Infraestruturas são o retrato acabado da trapalhada – desde o anúncio estapafúrdio da solução para o aeroporto à gestão da TAP e ao pagamento da indemnização choruda a Alexandra Reis, passando pela cena de pancadaria, classificação de informação e intervenção do SIS. Na Defesa, a situação tem contornos menos mediáticos, mas até mais graves. Depois da polémica com a escalada do custo das obras do Hospital Militar de Belém, foi agora exonerado o secretário de Estado da Defesa, Marco Capitão Ferreira, arguido num complexo caso de corrupção e participação económica em negócio. João Gomes Cravinho, que tutelava a pasta, transitou para outro ministério e prossegue.