As alegrias do futebol ainda vão durar mais uns dias e o verão parece que se quer aproximar. Os feriados restaurados batem à porta e o primeiro-ministro ainda recebe com um sorriso as piadas indiretas do Presidente sobre o seu otimismo. Bruxelas deixou escorregar o prazo para se decidir sobre as sanções e o Governo continua a assegurar que é preciso calma, pois a Economia irá ao sítio – e há quem nele faça fé, tanto mais que do outro lado são os velhos argumentos pró-austeridade que não trazem novidades. A TAP volta a ser controlada pelo Estado e um cêntimo de descida no gasóleo bem como as medidas de exceção para alguns camionistas trouxeram aparente resignação.
Acesas mantêm-se as batalhas dos colégios e a do regresso às 35 horas semanais. A primeira, aparentemente circunscrita aos alunos de 363 turmas das 1700 financiadas em 2015, portanto afetando uma pequena percentagem de pais e escolas. Domingo ver-se-á se o movimento vai para além dos diretamente envolvidos e quantas crianças serão mobilizadas para uma ação que deveria ser de adultos. Quanto ao regresso do velho horário da Função Pública, tem tantas vias por onde ser negociado e pistas para encontrar saídas que a equipa de António Costa resolverá o assunto com habilidade.
O ponto quente – e que mais especulação já está a causar – é o do possível arrefecimento das relações Presidente/primeiro-ministro. De tão bem que andavam – até se estranhava –, os primeiros sinais de distanciamento acenderam logo diversas luzes vermelhas. A verdade, porém, é que se há políticos que sabem até onde podem ser levadas piadas e recados, e como devem ser recebidos, os experientes Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa estão, seguramente, entre eles. Serão mesmo mestres da arte, pelo que só muito dificilmente o entendimento se deteriorará enquanto um ou outro não tiver vantagem nisso. Quando se incompatibilizarem será por quererem não por distração. Porém, ainda estamos longe de Costa poder fortalecer-se nas urnas ou no Parlamento, assim como é cedo para Marcelo Rebelo de Sousa ter algum contraponto na oposição de que goste para assustar o secretário-geral do Partido Socialista.
Venham, pois, os feriados.
E vêm a bem do Governo. O ambiente nos portos está a aquecer, com o pessoal das várias administrações portuárias a juntarem-se à greve dos estivadores. Numa época em que tanto se lamentam as quebras nas exportações, esta dificuldade acrescida ao funcionamento das empresas viradas para o estrangeiro não deixará de dar protagonismo ao conflito que vai paralisar os cais.
Também para aquecer o ambiente, vamos ter a questão da redefinição das tabelas da ADSE, em que o Ministério da Saúde se propõe poupar, já a partir do fim do mês, cerca de 6 milhões de euros num universo de despesa de 440 milhões. Destes, cerca de 900 mil poderão sair do bolso dos utentes, já que resultam do aumento de comparticipações – uma questão ainda em aberto e a ser negociada com os sindicatos; a maior parte do bolo, porém, resulta de cortes nos preços a pagar aos prestadores de serviços e está a ser alvo de forte crítica. Dificilmente chegará ao nível da Educação, embora nem uns queiram pagar mais nem os outros receber menos.
Como a semana de luta prometida por Arménio Carlos no discurso do 1º de Maio já lá vai e terminou sexta-feira com uma discreta manifestação frente à Assembleia da República em defesa das 35 horas, o que se espera é a continuação da paz social. Haverá pontos de atrito mais ou menos acesos, mas nada que possa travar, para já, o voo da vaca com asas que o primeiro-ministro celebrizou. Os ventos correm, pois, a favor do Governo. Está toda a gente a “pagar para ver”. Parece, aliás, que o próprio Executivo prefere ir gerindo o dia a dia, saltando as barreiras que lhe aparecem, esperando os obstáculos sem estar seguro de quais vai ter pela frente.
Ainda há Rock in Rio, o Europeu de Futebol vem em junho e julho, os Olímpicos serão em agosto. Venha o que vier, nós cá estamos.