A crise climática que o mundo hoje atravessa tem a sua origem nas alterações climáticas provocadas pelo aumento da temperatura global causado pelo crescimento exponencial na emissão de gases com efeito estufa que a era industrial trouxe.
Este facto está, já, a causar um conjunto de efeitos económicos e sociais, desde migrações climáticas (por destruição de habitações e habitats) até interrupções nas cadeias produtivas na sequência de fenómenos ambientais extremos e consequentes prejuízos económicos.
De acordo com as previsões dos cientistas do clima, este processo está, ainda, no início, temendo-se que os efeitos mais gravosos surjam já ao virar da esquina.
Perante estas previsões, alguns têm argumentado que o que o mundo precisa é de acelerar a inovação tecnológica (mesmo que isso aumente a emissão dos gases com efeito estufa no curto prazo) para que se descubram as tecnologias que possam reverter o processo (da produção de energia limpa aos capturadores de CO2, entre outros). Argumentam, ainda, que o desacelerar dos processos económicos seria condenar uma parte da população mundial à pobreza.
Porém, se a questão climática é dilemática (porque não se consegue fazer a conversão de um sistema económico, sem custos, no curto prazo, embora necessitemos de agir no curto prazo), o que devemos fazer é não pôr todas as fichas no tecno-optimismo e esperar que dê certo.
Aliás, há bons argumentos para experimentarmos noutras direções. Uma dessas direções é-nos fornecida pela ciência da felicidade, que nos ajuda a diminuir o dilema “salvar o ambiente” vs. “atender às necessidades do presente”. Em concreto, dos estudos sobre a felicidade sabemos o seguinte: o rendimento nacional tem utilidades marginais decrescentes, há bom e mau crescimento económico e o gosto pela natureza e a interação lúdica com ela trazem satisfação. Ou seja, uma análise cuidada do que andamos a produzir e a consumir, como produzimos e como consumimos, aliada a um fortalecimento da nossa ligação com os ambientes naturais pode-nos ajudar a caminhar na direção da sustentabilidade ambiental e da transformação económica, minimizando os custos da mudança.
Um exemplo já clássico: uma aposta em transportes públicos movidos a energias renováveis, asseados, frequentes, rápidos, conviventes e confiáveis, aliados à mobilidade suave (nomeadamente as bicicletas) dispensa, quase na totalidade, o uso do automóvel. Essa mudança causaria a diminuição drástica dos engarrafamentos (um dos maiores destruidores da felicidade diária), a diminuição das emissões poluentes e o aumento do exercício físico ao ar livre (deslocação a pé até ao transporte público e/ou circulação em bicicleta) que gera melhor saúde física e mental. Tudo combinado, temos menos poluição, mais bem-estar e, se diminuísse o PIB por esta via, era PIB mau que se perdia, ou seja, era um ganho líquido: a necessidade “ir do ponto A a B” era satisfeita, o ambiente era protegido, a felicidade aumentava, o dilema eliminava-se.
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