Este não é um lugar, mas um esquecimento. Aqui só chegam os viajantes que se perderam e já desistiram há muito de reencontrar o destino final. Vagueiam sorrindo pelas ruas ensolaradas e vazias, ou sentam-se no largo esplendor dos pátios, com um livro nas mãos, lendo, uma e outra vez, as mesmas páginas.
Certa tarde entrei no meu café, quero dizer, naquele café onde vou sempre, e onde sou, regra geral, o único cliente, e encontrei uma mulher, de longas tranças brancas, sentada a uma das mesas. Trazia nos lábios, muito finos, muito frágeis, o sorriso absorto dos viajantes perdidos, e, entre as mãos, um livro aberto. Tinha os olhos fechados e recitava algo, numa língua árida, arenosa, descampada, como se fosse um encantamento.