Pense num cientista… foi uma figura masculina que lhe veio à cabeça, certo?
Embora muitas coisas tenham mudado ao longo dos anos, a perceção pública de um cientista continua muito associada ao masculino. No entanto, no decorrer da História, as mulheres sempre contribuíram de forma significativa para a Ciência, fazendo avanços notáveis, quebrando barreiras e realizando descobertas inovadoras em diversas áreas. Ainda assim, as dificuldades mantêm-se: as investigadoras continuam a enfrentar desafios que tornam o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal extremamente exigente. Desde a persistente desigualdade de género até às expectativas sociais relacionadas com os cuidados e a conciliação entre trabalho e vida pessoal, as mulheres na Ciência navegam um cenário que, muitas vezes, exige mais do que retribui.
De acordo com o relatório She Figures de 2021, a União Europeia esteve perto de alcançar a paridade de género entre os doutorados, com as mulheres a representarem 48,1% dos graduados ao nível do doutoramento. Apesar desse progresso, em 2018, as mulheres representavam apenas cerca de um terço (32,8%) do total da população de investigadores na Europa. Quanto mais alto se sobe na carreira, menos mulheres encontramos – um problema frequentemente denominado de “leaky pipeline”. De facto, persistem lacunas significativas na participação e reconhecimento das mulheres na investigação científica, com as investigadoras a terem, em média, menos publicações do que os seus colegas homens, a estarem sub-representadas em posições de liderança académica e científica e a enfrentarem um viés de género sistémico em processos de contratação, promoção e financiamento. Uma das razões principais? Provavelmente, o desafio de conciliar as exigências profissionais com as responsabilidades pessoais, especialmente quando as estruturas institucionais não garantem um apoio adequado e as normas sociais impõem pressões adicionais para que façamos “tudo”.
Como investigadora na área das Ciências da Educação, a trabalhar num Laboratório de Inovação Pedagógica, sou apaixonada pelo meu trabalho. Mas, como muitas mulheres na Ciência, encontro-me frequentemente a gerir o desafio de equilibrar os meus objetivos profissionais com a minha vida pessoal. A investigação é intelectualmente estimulante e gratificante, mas também pode ser (muito!) exigente – baseia-se na curiosidade, persistência e em longas horas de dedicação. Há sempre novas ideias a explorar, projetos a desenvolver, oportunidades de financiamento a procurar, artigos a escrever e prazos a cumprir. Ao mesmo tempo, o bem-estar pessoal, a família, os amigos e os momentos de descanso são igualmente essenciais para sustentar a criatividade e a motivação. Ao longo dos anos, percebi que equilíbrio não significa ser perfeita; significa ser intencional. Muitos dias, o trabalho assume prioridade. Noutros dias, tento afastar-me um pouco, permitindo-me tempo para a família, os amigos, os passatempos ou simplesmente um momento de tranquilidade. Também tento lembrar-me de que fazer breves pausas, de tempos a tempos, é uma forma de recarregar energias e trazer novas perspetivas para o trabalho – embora, admito, nem sempre seja fácil convencer-me disso.
Como mulher na Ciência, acredito também que servimos de exemplo para as futuras gerações de raparigas, reconhecendo a necessidade de esforços contínuos para garantir que trabalhar em investigação não signifique abdicar de uma vida pessoal plena. Ao demonstrarmos que é possível ser, ao mesmo tempo, uma investigadora dedicada e uma pessoa realizada, desafiamos normas ultrapassadas e abrimos caminho para ambientes mais inclusivos. A ciência, assim como outras áreas profissionais, beneficia quando as pessoas trazem o melhor de si para o trabalho: paixão, confiança, criatividade e equilíbrio. Além disso, não estamos sozinhas. Aprender a partilhar e a trabalhar de forma mais colaborativa é fundamental, não só para o sucesso das equipas e a qualidade dos resultados, mas também para o nosso bem-estar. Por isso, encontrar e trabalhar com colegas – mulheres e homens – que partilham os nossos valores é essencial, pois oferecem apoio, inspiração e um sentido de propósito partilhado, ajudando-nos a crescer tanto a nível pessoal como profissional e a dar bons exemplos às futuras gerações. Mas o equilíbrio não é apenas uma questão individual – é também estrutural. As universidades, os centros de investigação e os decisores políticos devem assumir um papel ativo na criação de ambientes de trabalho e de investigação mais equitativos.
Neste Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência, quero celebrar a resiliência das mulheres na investigação, que enfrentam estes desafios e continuam a expandir as fronteiras do conhecimento. Vamos continuar a apoiar-nos e a elevar-nos umas às outras. Nem sempre é fácil, mas ao advogar por mudanças sistémicas e ao apoiarmo-nos mutuamente, podemos construir um futuro onde as mulheres na investigação já não tenham de escolher entre as suas ambições profissionais e a sua vida pessoal, mas sim prosperar em ambas.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.