A proposta do Orçamento de Estado para o próximo ano é, como já aqui referi, um documento pintado de ideologia, que tem delineada uma estratégia desligada da realidade do país.
As medidas que apontam a descida do IRS para alguns escalões, bem como o objetivo de baixar o rácio da dívida pública abaixo do 100% do PIB até poderiam aquecer o coração, mas o aumento dos impostos indiretos logo esfria a relação. E, do meu ponto de vista, pouco será alterado em sede de discussão na especialidade.
Com um Governo à margem da realidade do país, as notícias continuam a avançar que o número de pessoas em situação de sem abrigo subiu 78% em quatro anos (Costa é primeiro-ministro desde 26 de novembro de 2015), que Educação e Saúde não apresentam melhoras e que na Justiça muitos dos tribunais meteram água por causa da Aline ou adiaram julgamentos devido a greves.
No meio de todo este caldeirão, o jornal i deu à estampa a manchete “Increíble Quiero Ser Español” onde informava que o nível de vida em Espanha é 10% superior ao de Portugal, que a diferença entre os salários mais do que compensa o custo de vida mais alto no país vizinho, que os nossos impostos têm de ser mais baixos do que os dos espanhóis. Informava ainda que a Espanha lidera a ferrovia (recorde-se que Espanha tal como Portugal partiu de linhas em bitola ibérica) e tem 43 aeroportos internacionais. Tudo isto num país onde a maioria das autoestradas são gratuitas.
Sabendo que a relação entre os países da Ibéria nem sempre foi pacífica, que ainda existe uma ferida latente (Olivença), é certo que os portugueses não querem ser governados por espanhóis – até porque (em última análise) somos republicanos e eles uma monarquia parlamentar –, mas as realidades económicas fazem pensar.
Esta semana estive em Madrid e senti uma Espanha unida, que continua a esfregar as mãos de contente com as “argoladas” que o governo de Portugal comente. Por exemplo ao acabar com o regime dos Residentes Não Habituais (RNH) em Portugal. A opção é justificada pela crise na habitação, mas é um erro que considero de palmatória.
Nos dias em que estive na capital espanhola a Aline também passou por lá e levou muita chuva. Aliás, a cidade viveu o caos e foi obrigada a fechar o metro, vários parques e até pistas do aeroporto.
Em Lisboa a passagem da Aline também trouxe muita chuva. Mas o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, fez o trabalho de casa e o saldo é zero vítimas, zero desalojados e tudo a funcionar. O segredo? Ao que parece um centro de operações onde todos os serviços estão presentes e as decisões são tomadas na presença de todos; o trabalho de casa feito por antecipação e com o envolvimento de todos os presidentes das juntas.
Irão os espanhóis inspirar-se na estratégia de Moedas? Com Costa só esfregam as mãos de felicidade…
Por mim, gastava o excedente orçamental em gomas e jamón, já que não podemos ser espanhóis, pelo menos ficamos com o jamón!
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