Na nossa sociedade, a menopausa ainda é vista como uma vilã, que está à espera de todas as mulheres, em algum momento das suas vidas. Mudar este mindset é essencial, para que sintam a menopausa como um processo natural, de autovalorizarão e autoconhecimento que irão experienciar. Quanto mais informada a mulher estiver sobre o tema menor será o seu impacto (negativo).
O envelhecimento não parecerá tão assustador e o seu impacto na nossa qualidade de vida será menor se cuidarmos da nossa saúde mental, emocional e física. Praticar exercício físico, ter uma alimentação saudável e reduzir níveis de stress são uma receita já demasiado repetida, mas essencial para todos e em qualquer idade. Na menopausa, concretamente, ser acompanhada por ginecologista e por uma fisioterapeuta pélvica, à vontade com o tema, e por outros profissionais como nutricionista e psicólogo é, sem dúvida, uma mais-valia.
As mudanças iniciam-se entre 2 a 10 anos antes, com a perimenopausa, com alterações ao nível do estrogénio, progesterona e testosterona. Continuam na menopausa, quando há ausência de menstruação durante pelo menos 12 meses, e na pós-menopausa. Este período tem um claro impacto no corpo da mulher, nomeadamente a nível do sono, saúde mental e controlo de peso. Também a saúde pélvica passa por grandes mudanças, nomeadamente ao nível da bexiga, intestino e da própria sexualidade. A sintomatologia mais frequente (mas não normal!) é a perda de urina ao fazer esforço (incontinência urinária de esforço), a vontade súbita de urinar (urgência urinária) e infeções urinárias de repetição. Prolapso (queda) de órgãos como a bexiga, o útero ou o reto são outros sintomas, a par da dor na relação sexual (dispareunia), irritação da uretra, incontinência fecal ou obstipação.
Tenho pacientes que me procuram na perimenopausa para fazerem uma avaliação do seu pavimento pélvico e tratar qualquer disfunção presente. Pedem igualmente conselhos em relação à falta de lubrificação para quando ela surgir. Ter por antecipação as ferramentas para lidar com as alterações próprias da menopausa facilita a transição. Quando me procuram na menopausa, normalmente, já existe sintomatologia instalada, como incontinência urinária ou desconforto na relação sexual. Conseguimos, igualmente, melhorar ou tratar estas questões, mas preveni-las é sempre melhor, até do ponto de vista psicológico.
A grande maioria das mulheres ainda considera que a menopausa marca o fim da sua vida sexual, dada a menor lubrificação e, por vezes, menor libido. A primeira pode ser solucionada recorrendo a bons lubrificantes vaginais e a outros tratamentos hidratantes, sempre recomendados por um ginecologista. A questão da sexualidade e da perda de desejo tem um caráter psicológico, pois o desejo feminino começa no cérebro e é também intelectual e emocional, podendo ser alimentado de forma criativa, com jogos de sedução ou mesmo brinquedos sexuais.
Os músculos do pavimento pélvico, como os restantes músculos do corpo, perdem tonificação, força, resistência e elasticidade. Como têm a função de suportar os órgãos pélvicos, é fácil surgirem sintomas e patologias como os prolapsos. O frequente aumento de peso corporal e a maior tendência para a obstipação obrigarão a um esforço extra da musculatura pélvica. A manifestação de qualquer sintoma deverá ser razão para agendar uma consulta com uma fisioterapeuta pélvica, pois o tempo só trará agravamento, interferindo com a vida profissional, social e relacional.
A fisioterapia vai:
- Tornar os músculos do pavimento pélvico saudáveis e funcionais, com força, resistência, flexibilidade e coordenação;
- Educar para a saúde da bexiga, do intestino e sexual;
- Abordar todas as alterações hormonais que acontecem e reencaminhar para outros profissionais se necessário;
- Informar sobre a melhor rotina de exercícios pélvicos, criando um programa individualizado com vista à saúde pélvica e minimização dos sintomas associados;
- Orientar para a importância da prática de exercício físico e adaptar a cada mulher;
- Falar sobre o impacto na vida sexual da secura vaginal e da diminuição da libido, das formas em que se pode alcançar o prazer e o orgasmo.
Mais do que nunca a procura do bem-estar físico, psicológico e emocional é essencial. De igual modo devemos estar orientadas para a prática de rotinas diárias individuais, preventivas e saudáveis. A fisioterapia pélvica é, por isso, uma aliada da mulher, contribuindo para áreas de vida tão distintas.
Como em tudo na saúde, acredito em dois grandes pilares interligados: a informação e a prevenção. É importante que as mulheres, desde a sua adolescência, conheçam o que acontece no seu corpo, isso irá prepará-las do ponto de visto emocional, tornando-se mais fácil a perimenopausa e depois menopausa, pois serão vistas como mais uma etapa na caminhada da vida, em vez do evento fatalista.