Um novo estudo publicado na revista Nature conseguiu identificar os sinais genéticos que influenciam a entrada na menopausa. Foram identificadas 290 áreas do genoma humano determinantes no envelhecimento ovárico, que ajudam a identificar o porquê de algumas mulheres serem mais predispostas a ter uma menopausa precoce. Para chegar aos resultados foram tidos em conta os genes de mais de 200 mil mulheres de ascendência europeia.
O estudo foi publicado na passada quarta-feira, 4, e contou com o trabalho de 300 cientistas de todo o mundo, sendo as principais universidades envolvidas a de Cambrisge, Exeter (ambas do Reino Unido) e de Copenhaga (Dinamarca). O artigo explica que, apesar de nos últimos 150 anos a esperança média de vida ter aumentado dos 45 para os 85 anos, a idade com que as mulheres entram na menopausa tem-se mantido constante entre os 50 e 52 anos. Assim, esta descoberta ganha especial relevância uma vez que pode, no futuro, ajudar os tratamentos de fertilidade a estender a vida reprodutiva natural do género feminino.
“Encontrámos cinco vezes mais fatores genéticos do que os conhecidos anteriormente. Em termos do que sabemos da genética da menopausa, é um grande salto em frente”, afirmou John Perry, da Universidade de Cambridge e co-autor do estudo, num comunicado de imprensa. Estudos prévios já tinham abordado a temática, com um, também publicado na Nature, a descobrir 44 áreas do genoma humano que influenciam a menopausa.
O objetivo do novo estudo era conseguir descobrir uma forma que tornasse possível prever quanto anos de fertilidade natural teria cada mulher, uma vez que o número de óvulos está determinado desde o nascimento. Como explica Perry, apesar de existirem testes que podem indicar se a mulher tem uma baixa produção de óvulos, só é detetada quando esta já se encontra em declínio e não com antecedência. Fazê-lo iria permitir à mulher uma maior liberdade de controlo sobre a sua reprodução.
“Esperamos que o nosso trabalho ajude a dar novas possibilidades para ajudar as mulheres a planear o seu futuro. Ao descobrir muitas outras causas genéticas da variabilidade do momento em que aparece a menopausa, mostramos que podemos começar a prever quais a mulheres que podem ter a menopausa mais cedo e, portanto, ter dificuldade em engravidar naturalmente. E como nascemos com as nossas variações genéticas poderíamos oferecer este conselho a mulheres jovens”, acrescenta a co-autora Katherine Ruth, da Universidade de Exeter, em comunicado.
O que os cientistas fizeram foi inibir ou aumentar certos genes, com recurso a ratos de laboratório. Foram identificados dois genes centrais na reprodução feminina, aos quais deram o nome de CHEK1 e CHEK2. As mulheres que só tinham níveis suficientes da proteína CHEK2 tinham a menopausa mais de três anos depois das que tinham os níveis normais da mesma proteína. Para contornar isto, foi inibida (suspensa) a CHEK2 nos ratos, o que permitiu ter uma vida reprodutiva mais longa. Já a CHECK1 ao ser aumentada também conseguiu estender a vida reprodutiva, aumentando o número inicial de óvulos na mulher desde a vida fetal, isto é, desde que é apenas um feto do terceiro ao nono mês da gestação.
Os investigadores conseguiram ainda relacionar a menopausa precoce com outras patologias. Descobriram que aumentava o risco de diabetes tipo 2, e estava relacionada com uma má saúde óssea e aumento do risco de fraturas. Já no lado positivo, conseguiram ver que quem tinha menopausa precoce, tinha um menor risco de sofrer de alguns tipos de cancro, como do ovário e da mama.