Siza Vieira está desconsolado. Aflito. Pesaroso. Insípido, enfim. Na televisão, ontem, confirmou o que já sabíamos: Que não há mais dinheiro para além do que foi anunciado. Que não é possível ajudar todos. Já agora, poderia ter acrescentado que tudo isto é uma grande chatice, e que no caos alguém vai sobreviver. Também confirmou, consternado, o que as confederações patronais tinham revelado, horas antes: que o dinheiro ainda não chegou às empresas. Siza lamentou-se: é a papelada. Dizem uns que o ministro foi sério. Verdadeiro. Transparente. Ótimo, e depois? Não foi o Governo avisado, repetidamente, que o processo de acesso aos parcos fundos era demasiado burocrático, tinha infindáveis pressupostos, e que era tudo menos rápido? Não foi o Governo avisado que nesta crise, e de imediato, tinha de atirar dinheiro para as empresas e pessoas – a Mafalda Anjos sugeria de helicóptero (modelo americano)? Não foi o Governo avisado que as linhas de milhões, daqui e de acolá, estavam a anos luz da necessidade real das pessoas e empresas? Não está o Governo avisado, para seguir, de perto, o que os nossos parceiros europeus, e outros, estão, e vão fazer, para evitar o descalabro? A pequenez da nossa incapacidade governamental de análise ficou expressa, curiosamente, na grande preocupação do ministro Siza: tem que se abreviar a papelada, até porque as empresas têm de pagar as prestações sociais ao Estado no final do mês. Tenha dó.
Confiante numa boa estrela, o Governo, e por reflexo o ministro da Economia, acha que as previsões nacionais e internacionais para o nosso PIB, dívida, desemprego e outros indicadores, não vão ser tão catastróficas, em 2020. Vão ser más sim, pensam, mas longe do Inferno. Curiosa esta análise. Tem mais ou menos a mesma credibilidade daquela organização internacional que garantia que as mortes em Portugal só atingiriam as 491, em Agosto, e mesmo assim num quadro totalmente adverso.
Igualmente confiante está o Governo, na ideia fixa, de que o País vai começar a funcionar por decreto. Vamos abrir, mesmo que devagar, e a vida vai voltar ao normal. Espantoso. Bastaria ver o que se está a acontecer em Itália, Dinamarca, e outros países: abrem-se as portas, não aparecem todos os empregados, e clientes não existem. Porquê? Por medo, puro e simples, da Covid 19. E muito medo, também, do futuro. Sem um medicamento ou vacina não há estabilidade pessoal e empresarial, nem normalidade, ou retoma, ou regresso em força. Fantasias.