Aos 61 anos, os últimos oito passados em Portugal, o polaco Ryszard Hoppe expressa-se num português muito razoável, fruto de um contacto permanente e direto com os cerca de 50 atletas que formam a atual seleção nacional de canoagem, nos diversos escalões. É com eles que passa, no mínimo, 200 dias por ano em estágios, a maior parte no Centro de Alto Rendimento de Montemor-o-Velho.
Esse trabalho continuado e concentrado num único local proporcionou a conquista de mais de 40 medalhas em europeus e mundiais nos últimos dois anos. E mais importante do que tudo é o facto de essas medalhas serem ganhas por atletas de várias idades e escalões: juniores, sub-21, sub-23 e seniores. Por isso, Ryszard Hoppe acredita que o “filão” da canoagem portuguesa não se esgota na medalha de prata conquistada pelo K2 1000 de Fernando Pimenta e Emanuel Silva.
“O desenvolvimento do desporto de alta competição faz-se com rigor e com tempo”, diz. “Quando cheguei a Portugal, em 2005, só havia um canoísta olímpico, o Emanuel Silva. Eu disse logo que o objetivo era levar alguns atletas a Pequim, mas que só em 2012 iríamos lutar pelas medalhas. Foi isso que aconteceu. E se houver condições pora continuar este trabalho, no Rio 2016 vamos ganhar mais medalhas e levar ainda mais atletas.”
Para a concretização desse objetivo, Ryzsard Hoppe diz que “não inventou nada” de especial. “Apenas, com o apoio total e decisivo da direção da Federação de Canoagem, repliquei em Portugal aquilo que se faz em todos os países fortes na modalidade, como a Hungria, a Polónia e a Alemanha. Criámos um local onde treinamos juntos. O segredo é só esse: fazer com que os atletas treinem, comam, descansem e recuperem. Todos os dias.”
Embora não goste de se queixar da falta de condições e que faça questão de elogiar sempre o “trabalho de equipa” que mantém com os dirigentes federativos, Ryzsard Hoppe estranha a originalidade portuguesa: “Não conheço outra seleção no mundo que, com tão pouco dinheiro, consiga tão bons resultados.”
E acha, naturalmente, que é tempo de alguma coisa mudar: “Da mesma maneira que apliquei em Portugal os métodos de trabalho existentes nos países mais desenvolvidos desportivamente, também me parece justo que os apoios sejam distribuídos em função do mérito e dos resultados que cada modalidade alcança. Desculpem lá, mas eu estou habituado a que os bons resultados deem mais dinheiro… Parece-me normal, não?” Em Portugal, no entanto, não tem sido essa a regra seguida.