Brasília, 26 Mar (Lusa) – O primeiro-ministro britânico Gordon Brown propôs hoje ao Presidente brasileiro Lula da Silva a criação de um fundo mundial de 100 mil milhões de dólares para reactivar o comércio externo face à crise mundial que congelou o crédito.
“Acordamos trabalhar em conjunto para incrementar o comércio mundial. Precisamos de 100 mil milhões de dólares no mínimo para impulsionar o comércio”, disse Gordon Brown em conferência de imprensa, após seu encontro com o Presidente Lula da Silva, no Palácio da Alvorada.
Segundo o primeiro-ministro do Reino Unido, as exportações deverão cair em todo o mundo pela primeira vez em 30 anos e são necessárias acções urgentes na área comercial face à falta de crédito.
“A economia mundial precisa de uma transfusão”, advertiu.
A proposta de Gordon Brown foi bem recebida pelo governo brasileiro e será discutida na próxima reunião do G20, grupo dos países mais desenvolvidos e dos emergentes, no próximo dia 02 de Abril, em Londres.
“Consideramos a proposta boa, mas precisamos discutir como isto poderá ser feito. Não estamos dispostos a comprometer as nossas reservas”, ressaltou aos jornalistas o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim.
Gordon Brown disse ser favorável a “dar nomes” aos países que não cumpram seus acordos comerciais para que sejam monitorizados por mecanismos de supervisão da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Afirmou ainda que “o velho Consenso de Washington morreu” e destacou a necessidade de uma “mudança radical” na ordem financeira mundial.
Lula da Silva disse, por seu turno, que esta crise exige mais decisões políticas que económicas, e defendeu igualmente a reactivação do crédito e uma regulação maior do sistema financeiro internacional.
O Presidente brasileiro salientou que a crise financeira mundial foi causada por “gente branca, de olhos azuis” e considerou injusto que negros e índios tenham que sofrer as consequências do “cassino financeiro”.
“É uma crise causada por comportamentos irracionais de gente branca de olhos azuis, que antes da crise pareciam saber tudo e agora não sabem nada”, referiu.
O PR do Brasil voltou a condenar o proteccionismo, a ressaltar a importância da conclusão da Ronda de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) e destacou a necessidade de “mexer nos paraísos fiscais”, temas que serão debatidos na próxima reunião do G20.
“Mexer nos paraísos fiscais não será uma luta fácil. Vai haver um duro enfrentamento no G20. Se fossem apenas as Ilhas Cayman, não seria um problema, mas há países importantes, como a Suíça”, assinalou.
O chefe de Estado brasileiro considera “histórica” a reunião do G20, em Londres, mas advertiu que os líderes não podem falhar.
“Se cometermos o erro de fazer uma reunião para marcar outra reunião, nós poderemos cair em descrédito e a crise acirrar. Se a reunião de Londres não der um bom sinal para resolver o problema da regulação e do crédito, vamos passar à humanidade uma fraqueza dos líderes políticos que não pode existir. Este é o momento da política”, sublinhou.
CMC.
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