A sensação que perpassa quando se escutam os argumentos de Vicente Valentim é a de que, no mínimo, as elites políticas e as opiniões públicas das democracias ocidentais andaram distraídas. A tese do cientista político – que concluiu o doutoramento no Instituto Universitário Europeu, em Florença, sendo atualmente investigador na Universidade de Oxford, no Reino Unido – é de uma clareza e, ao mesmo tempo, de uma simplicidade inatacáveis: a ascensão dos partidos de direita radical, que integram e lideram os governos de alguns países europeus, deve-se ao facto de terem aparecido políticos suficientemente hábeis para acolher ideias que, até então, estavam mais ou menos escondidas por causa da censura social.
De onde vieram os eleitores que votam nos partidos de direita radical? De lado nenhum; sempre existiram, responde Vicente Valentim, de modo desconcertante. Significa isso que, depois de aberta a caixa de Pandora, ficamos todos reféns de uma inevitabilidade e, sobretudo, de uma perspetiva cínica acerca dos destinos das democracias ocidentais? Nada disso. No final de O Fim da Vergonha, assim como nesta entrevista, Vicente Valentim também propõe formas de combater o crescimento dessas ideias. Não se julgue é que se trata de uma corrida de 100 metros. Democratas, preparem-se: é uma maratona. E, provavelmente, pelo meio, haverá muitos danos colaterais.