A conta @palestine_eye_of_tiger2 publicou mais de 50 vídeos no TikTok que mostram alegados efeitos de quem tomou a vacina contra a Covid-19 e que passam por desmaios, tonturas ou tremores. Num dos seus primeiros conteúdos deste género, vemos uma mulher a identificar-se como funcionária do Sistema Nacional de Saúde do Reino Unido, a contar que levou a primeira dose a 17 de março e que ficou paralisada e com tonturas nas duas semanas seguintes. Nos momentos seguintes, vemo-la a enrolar os olhos e a ter tremores.
Entre agosto e setembro, esta conta publicou meia centena de vídeos que foram mantidos online por não estarem a violar as normas da comunidade do TikTok. Em todos eles, a mensagem é claramente anti-vacinação e são ilustrados vários sintomas como convulsões e tremores, atribuindo-os a efeitos adversos da vacina contra a Covid.
As autoridades e especialistas da comunidade médica são unânimes em reconhecer que há uma probabilidade baixa de haver convulsões ou outros sintomas depois da toma da vacina, mas que os benefícios de a tomar largamente ultrapassam os riscos.
Os vídeos foram reportados pela VICE World News pela ferramenta automática do TikTok para o efeito e, passadas algumas horas, os jornalistas receberam a resposta de que o vídeo não violava as normas da comunidade. Só depois de um contacto pessoal em que os vídeos foram novamente mostrados é que a rede social acabou por eliminá-los e por apagar a conta da utilizadora.
Os defensores anti-vacinação parecem ter percebido como podem tornar a sua mensagem viral e contornar os mecanismos de proteção contra a desinformação aplicados pelas redes sociais. No caso da @palestine_eye_of_tiger2, a utilizadora evitou referir-se explicitamente à Covid-19 (‘fugindo’ dessa forma aos sistemas de verificação de factos da Inteligência Artificial), nenhum dos seus vídeos foi identificado com a tag COVID e acabou por misturar situações, como a do futebolista dinamarquês Christian Eriksen a ter um colapso durante um jogo do Euro 2020. Todos os vídeos apresentavam uma legenda por cima das imagens onde se lê “segura e eficaz”, havendo depois menção às farmacêuticas Pfizer, Moderna e Astrazeneca em alguns casos. A estratégia para passar despercebida, mas ainda assim tornar-se viral, passa por não usar discursos inflamados ou muito críticos, incluindo sim expressões que confundem intencionalmente a mensagem, parecendo estar a elogiar as vacinas. Por fim, outra estratégia que parece ter ajudado é a utilização dos TikTok Sounds, um catálogo de sons da rede social, como som de fundo dos vídeos, mantendo-se também o áudio original.