Ontem, em mais uma edição das Conferências da Liga realizada em Lisboa, o presidente da FA Premier League inglesa, surpreendeu a assistência ao defender o futebol enquanto actividade sujeita às limitações próprias dos humanos. «Já há clubes que usam sensores que permitem medir batimentos cardíacos, peso, ou a gordura de um jogador mas nenhuma tecnologia pode substituir o árbitro. Porque o futebol é paixão e haverá sempre opiniões diferentes sobre um mesmo lance», argumentou Dave Richards. Por mais de uma vez, a Premier League já testou tecnologias que ajudam a emendar erros de árbitros ou apenas fornecem informação que, nos processos tradicionais, seria possível de obter. Chips e câmaras que controlam a linha de golo ou sistemas de comunicação que permitem dar informações na hora para cada árbitro estão entre as soluções já testadas. Apesar dos chorudos investimentos, nenhuma das alternativas ensaiadas chegou a convencer na plenitude Dave Richards: «O meu neto de 12 anos diz sempre que o árbitro é uma porcaria sempre que o seu clube perde uma partida. É isto que caracteriza o jogo. Já testámos sistemas em que alguém que tem televisores à frente vai dizendo para os auriculares do árbitro se é penalti, fora-de-jogo ou falta mas para isso por que não ter um robô a apitar os jogos de futebol?». As opiniões do líder da melhor liga de futebol do mundo não chegam para demover Hermínio Loureiro, presidente da Liga Portuguesa de Futebol: «Sou a favor da introdução de tecnologias que contribuam para melhorar as decisões dos árbitros. Mas têm de ser soluções rápidas, que evitam a paragem do jogo». Hermínio Loureiro lembra que já foram feitos grandes investimentos na instalação de sistemas de comunicação que, hoje, permitem que os árbitros portugueses comuniquem durante as partidas. A Liga já disponibilizou a Taça da Liga para a introdução de tecnologias de apoio à arbitragem, mas os ensaios estão dependentes da aprovação da FIFA e do International Board, que gere os regulamentos do desporto-rei. Na Liga Europa, que substitui esta temporada a UEFA, alguns jogos já poderão vir a contar com “árbitros de baliza”, o que leva a crer que a inclusão de tecnologias vai ter de esperar, pelo menos nos próximos tempos. A avaliar pelos presentes na conferência de ontem, os árbitros até nem temem a concorrência das tecnologias. Vítor Pereira, presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) também concorda com o recurso às tecnologias, «desde que não torne o futebol num jogo de PlayStation». O árbitro internacional João Ferreira não discorda do recurso às tecnologias, mas deixa um alerta: «É necessário saber se a reduzida taxa de erros que se pretende eliminar justifica os elevados investimentos necessários. Será viável face às vantagens que traz?». Duarte Gomes, também árbitro internacional, recorda que não é só o jogo que muda com a introdução das tecnologias: «é preciso saber quais as partidas que vão recorrer às tecnologias e apurar quantos estádios vão ter condições para a instalação desses sistemas. Isto sem esquecer que tudo isto exige investimentos de milhões». Hugo Séneca
Futebol: tecnologias ou paixão
Dave Richards, presidente da liga inglesa é contra; Hermínio Loureiro, da liga portuguesa, é a favor – afinal as tecnologias podem ou não ajudar os árbitros de futebol?
Mais na Visão
Parceria TIN/Público
A Trust in News e o Público estabeleceram uma parceria para partilha de conteúdos informativos nos respetivos sites