Um estudo da Universidade do Oklahoma conclui que o corpo de sobreviventes de situações traumáticas carrega uma ‘marca’ biológica que não desaparece, mesmo que os ferimentos físicos e psicológicos estejam debelados. Os investigadores sugerem que o corpo ‘lembra-se’ do trauma até muito tempo depois de o incidente ter acontecido.
“A principal conclusão do estudo é que a mente pode ser resiliente e ter conseguido mandar para trás [o acontecimento], mas o corpo não se esquece”, conta Phebe Tucker, professora que liderou o estudo. “O corpo está sempre em alerta, esperando que aconteça a próxima vez”, cita o New Atlas.
A equipa analisou dados e respostas dos sobreviventes do ataque à bomba que aconteceu em Oklahoma, nos EUA, há quase 30 anos e onde 168 pessoas perderam a vida e várias centenas ficaram feridas. Os indicadores de 60 sobreviventes, como níveis de stress biológico, parâmetros fisiológicos (batimento cardíaco e pressão arterial) e sintomas psicológicos foram analisados, bem como os níveis de cortisol (a hormona do stress) e de citocinas, as proteínas que modulam a resposta imunitária, incluindo inflamações.
Os indicadores foram comparados com os de 23 adultos saudáveis que não estão relacionados com o ataque bombista. No que toca a síndrome pós-traumático e sintomas de depressão não se registaram diferenças entre os dois grupos. Numa leitura algo contraintuitiva, os níveis de cortisol eram mais baixos nos sobreviventes. Quando uma pessoa está stressada, o organismo liberta mais cortisol na corrente sanguínea, o que conduz a um aumento da pressão arterial, batimento cardíaco e tensão muscular. Nos sobreviventes, a pressão arterial era mais elevada, mas o batimento cardíaco mais baixo, o que sugere que a resposta ao trauma possa ter esvanecido ao longo dos anos.
“Isto indica-nos que há uma resposta ao stress no seu organismo que não está presente nas emoções que expressam”, conta Phebe Tucker, que explica que também houve um aumento nas citocinas associadas com doenças e inflamações, apesar de o grupo ser bastante saudável: “Isto levanta questões sobre problemas de saúde a longo prazo”.
Os dados dos sobreviventes foram recolhidos sete anos após o ataque e é a primeira vez que são vistos agora coletivamente para analisar o impacto biológico do evento. “Basicamente, o que este estudo mostra é que depois de se passar por um trauma severo, os sistemas biológicos não ficam mais numa linha típica; as coisas mudam. Não são só as nossas mentes que se lembram do trauma, os nossos processos biológicos também o fazem. Altera efetivamente o nosso ser físico”, explica Rachel Zetti, co-autora do estudo. Leia o trabalho completo publicado no Prehospital and Disaster Medicine.