Nos últimos vinte anos não têm parado as descobertas de novos planetas que orbitam estrelas fora do nosso Sistema Solar, sendo conhecidos neste momento mais de quatro mil exoplanetas. Para saber onde estão, que características apresentam e, em última análise, perceber se são parecidos com a Terra e podem albergar vida, é fundamental haver um registo preciso e atual de tudo o que vai sendo descoberto. Um trabalho minucioso que exige rigor e muita “paciência”, admite o investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IAstro) e professor da Universidade do Porto, Sérgio Sousa, responsável pela elaboração do catálogo SWEET-Cat, onde figura uma lista de 900 estrelas com planetas na sua órbita.
A grande vantagem deste mapa elaborado por astrónomos do IAstro é apresentar parâmetros – temperatura e raio das estrelas, por exemplo – calculados sempre com o mesmo método. O que não acontece noutros catálogos semelhantes, como o que é produzido pela NASA, em que cada equipa de trabalho pode usar um método de cálculo diferente, originando “imprecisões”, nota o astrónomo. Imprecisões que podem gerar erros no valor dos parâmetros na ordem dos dez por cento. “É como se para medir o raio fossem usadas réguas diferentes”, compara.

“Apesar dos grandes avanços na área dos exoplanetas, a precisão com que conseguimos caracterizar exoplanetas continua dependente da nossa capacidade de determinar as propriedades das estrelas-mãe. O SWEET-Cat dá um passo decisivo na direção da caracterização precisa das populações de exoplanetas, ao fornecer parâmetros estelares precisos e homogéneos das estrelas com planetas em órbita. Certamente que, um dia, nestas populações estará uma ‘Terra 2.0’, que o nosso grupo e a comunidade de investigação em exoplanetas há muito que procura”, completa Vardan Adibekyan, também do IAstro.
Como a descoberta e caracterização dos planetas extrassolares é inferida a partir dos seus efeitos nas estrelas em torno das quais andam à volta – na luminosidade, velocidade – é essencial manter a coerência para que se possam estabelecer correlações. “Uma das primeiras correlações que conseguimos estabelecer foi entre o teor de metais nas estrelas e o tamanho dos planetas. Estrelas mais ricas em metais têm à sua volta planetas gigantes, como Júpiter, onde cabem 300 Terras”, diz Sérgio Sousa. “O que faz sentido do ponto de visa teórico porque é preciso muito metal para formar planetas grandes.”
Para estudar um sistema isolado não faz tanta diferença a coerência do método de medição. Mas para se poder comparar e tirar ilações é essencial que seja usada a ‘mesma régua’. “Montar este mapa envolve muito trabalho. É preciso pesquisar e recolher os dados disponíveis, juntar tudo, calcular, fazer a análise”, descreve Sérgio Sousa. “Tudo isto demora tempo e exige muita dedicação. Por isso é que não há outros [catálogos como este].” Mas o resultado final, quando está o mapa todo alinhado e se pode começar a procurar correlações, “compensa”, sublinha o primeiro autor do trabalho publicado na revista Astronomy & Astrophysics e que é uma atualização de um catálogo já elaborado em 2013.
O próximo passo – “se houver financiamento” – será incluir no mapa informação sobre a composição química das estrelas, o que permitirá extrapolar para a composição dos planetas. E responder à eterna questão: Há vida para além da Terra?