Os roedores da espécie Pseudomys gouldii foram dados como desaparecidos da face da Terra por volta da década de 1840, pouco depois da chegada dos Europeus ao continente australiano. O padrão de extinção naquela região do globo não se registou apenas nesta espécie, sendo uma tendência entre outras também nos últimos 200 anos. Agora, investigadores relatam ter descoberto que o rato de Gould, o nome comum da espécie, acabou por sobreviver, apesar de em números bastante reduzidos, em Shark Bay, na Austrália Ocidental, onde o rato é conhecido por Pseudomys fieldi, ou djoongari.
Emily Roycroft, bióloga e investigadora na Universidade Nacional da Austrália, assina o estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences e sublinha a surpresa perante a descoberta. “Quando começamos os estudos, não estávamos à espera de que o rato de Gould e a espécie de Shark Bay fossem a mesma. O resultado foi surpreendente, especialmente se tivermos em conta a separação geográfica entre os registos históricos e o local onde foram encontrados”, cita o Motherboard.
A equipa de investigadores realizou uma extensiva análise genética das duas espécies de roedores, recorrendo a amostras de museu para determinar como seria o rato de Gould. Num trabalho inédito, pelo menos para roedores na Austrália, a equipa sequenciou genes de 85 espécimenes, num total de 50 espécies com mais de 180 anos. O estudo, abrangente, permite reconstruir detalhes importantes acerca do processo de colapso destas espécies, concluir que os roedores maiores têm maior probabilidade de entrar em extinção ou declínio e que a extinção é mais frequente em ambientes mais áridos.
A extinção das populações de roedores na Austrália representa 41% de todas as extinções de mamíferos naquele continente.
A chegada dos europeus, a predação por gatos e raposas, competição com outros roedores e destruição de habitats, bem como o surgimento de novas doenças acabaram por ser alguns dos fatores que explicam esta extinção acentuada.
Roycroft lembra que “a perda de tantas espécies de roedores nativas significa uma perda de partes integrais dos ecossistemas australianos. Os roedores nativos alimentam-se de muitas plantas, fungos e invertebrados e, por sua vez, são eles próprios fonte de alimento para carnívoros nativos. A ausência destes roedores coloca os ecossistemas australianos em risco potencial de colapso”.
A descoberta de que esta espécie ainda subsiste representa boas notícias, embora se tenha percebido que apenas retém uma fração da diversidade genética de outrora e que ainda está em risco de extinção.