Andrew Fire e Massa Shoura são os investigadores da Universidade de Stanford que publicaram no Github um relatório no qual detalham a constituição da sequência de mRNA da vacina da Moderna contra a Covid-19. O documento tem quatro páginas, com as duas primeiras a explicar como foi feito todo o processo e as restantes duas com toda a sequência mRNA da vacina.
“Não fizemos propriamente engenharia reversa. Publicamos a putativa sequência de duas moléculas RNA sintéticas que se tornaram suficientemente prevalentes no ambiente geral de medicina e biologia humana em 2021. Assim que a vacina começou a ser disponibilizada, estas sequências começaram a aparecer em muitos estudos de investigação e diagnóstico diferentes”, cita a publicação Vice.
Os investigadores não fornecem muitos detalhes sobre como conseguiram o medicamento para analisar, mas explicam que o obtiveram em frascos que iam ser destruídos depois de terem sido usados para imunização. “O projeto não desperdiçou material de vacina ou reduziu de qualquer outra forma o número de doses de vacinas disponíveis para o público”. Os cientistas traçam o paralelo com resquícios de leite que ficam na embalagem e que, se fossem sequenciados, dariam a imagem do genoma de uma vaca, mesmo que a quantidade de leite fosse mínima e sem qualquer uso.
A dupla teve de obter autorização da FDA nos EUA para fazer esta recolha e explica que “dada a capacidade da tecnologia Next Generation Sequencing que consegue detetar mesmo quantidades minúsculas de RNA, isto foi mais que suficiente para reconstruir a região de código do RNA da vacina”.
Já em dezembro, o fundador do PowerDNS Bert Hubert aplicou engenharia reversa numa vacina Covid-19 e publicou a informação online, dessa feita sobre a vacina da BioNTech/Pfizer.
Os investigadores de Stanford contactaram a Moderna antes de publicar o relatório, mas não receberam qualquer comentário ou objeção por parte da farmacêutica, pelo que decidiram avançar com a disponibilização.
Não é expectável que qualquer pessoa possa começar a produzir a vacina no seu próprio laboratório em breve, mas a publicação deste relatório ajuda a ultrapassar algumas barreiras impostas pelas patentes da indústria farmacêutica e torna o conhecimento mais acessível.