O Índice de Preços no Consumidor (IPC) aumentou mais de 7% em abril, atingindo o valor mais alto desde março de 1993. Depois de vários meses em que Portugal parecia mais salvaguardado em relação ao salto da inflação do que outros países europeus, as últimas estimativas do INE para março e abril mostram que as pressões nos preços chegaram em força.
Este aumento veio essencialmente da energia, que disparou 26,7% em abril, em comparação com o mesmo mês de 2021, assim como dos bens alimentares não transformados (9,5%). No primeiro caso é um máximo de 37 anos.
“Estima-se que a taxa de variação homóloga do índice relativo aos produtos energéticos se situe em 26,7% (19,8% no mês precedente), valor mais alto desde maio de 1985, enquanto o índice referente aos produtos alimentares não transformados terá apresentado uma variação de 9,5% (5,8% em março)”, escreve o INE.
No entanto, mesmo sem esses componentes – tipicamente mais voláteis – a inflação subjacente também acelerou de 3,8% para 5%.
Se a comparação for feita com o mês anterior, a variação do IPC fixou-se em 2,2%, depois de ter ficado em 2,5% em março.
A evolução da inflação é a grande incógnita económica de 2022, com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia a fazer disparar o preço de vários bens energéticos e alimentares, juntando-se a pressões mais abrangentes, relacionadas com a saída da pandemia e problemas nas cadeias de abastecimento mundiais.
Foi o tema mais debatido ontem durante o arranque a discussão do Orçamento do Estado, com a oposição a pedir medidas mais ambiciosas ao Governo do lado dos salários para evitar perdas de poder de compra e o Executivo a justificar a sua atuação com prudência face à incerteza que se vive em relação à guerra e à atuação do BCE, que pode, em breve, subir juros.
O Governo espera que a inflação média do ano fique em 4%. Os dados do INE mostram que, na média dos últimos 12 meses, ela já está em 2,8%.
Mesmo com guerra, PIB acelera
Se o número da inflação é motivo de preocupação, o crescimento da economia traz motivos de maior otimismo. No mesmo dia em que saíram os dados dos preços, o INE publicou também a variação do produto interno bruto (PIB) do primeiro trimestre, revelando um salto de 11,9% face ao mesmo período de 2021, apesar dos efeitos da guerra.
Este resultado é explicado pela comparação estar a ser feita com um trimestre de fortes restrições relacionadas com a Covid-19. “A evolução em termos homólogos reflete em parte um efeito de base dado que, em janeiro e fevereiro de 2021, estiveram em vigor várias medidas de combate à pandemia que condicionaram a atividade económica”, nota o INE.
Nesta primeira estimativa não é possível quantificar o que puxou pelo PIB, mas o instituto de estatísticas refere que o consumo das famílias terá sido bastante relevante, ao mesmo tempo que as exportações recuperaram graças ao turismo (e as importações abrandaram).
Contudo, se os dados homólogos estão contaminados pela comparação com o trimestre de 2021, a variação em cadeia mostra também uma aceleração, com o PIB a aumentar 2,6%, depois de ter crescido 1,7% no trimestre anterior. Também aqui o INE destaca o contributo do consumo privado.
Em reação, Fernando Medina disse hoje que estes dados são “uma mensagem fortíssima de confiança que os trabalhadores e as empresas nos estão a dar”. “Isto faz com que neste primeiro trimestre estejamos já 3,1% acima do primeiro trimestre de 2019 recuperando para níveis pré-pandemia”, acrescentou, durante o debate sobre o OE 2022.
As últimas semanas trouxeram uma revisão em baixa das previsões de crescimento da economia portuguesa de várias instituições, incluindo do Governo. O Conselho das Finanças Públicas (CFP) espera uma variação do PIB de 4,8% este ano, enquanto o Governo e o Banco de Portugal antecipam agora 4,9%. O FMI, o último a publicar estimativas, aponta para 4%. Os efeitos da invasão da Ucrânia pela Rússia são o principal fator por detrás desse menor otimismo.