Os vinhos verdes serão sempre, desconfio, alvo de saudável discussão à mesa. Há quem os adore, há quem os odeie, há quem encolha os ombros e diga que “não são bem vinho”, há quem fique fascinado – eu fico! – com aquilo que alguns produtores têm conseguido fazer nos últimos anos, há quem continue a achar que vinho verde é um tipo de vinho como o branco, o tinto e o rosé e há ainda quem nunca tenha ouvido falar deles.
Várias casas têm conseguido, aos longo da última década, sobretudo, dar ao Vinho Verde – não é vinho frisante, não é vinho ‘verde’ na sua cor, é apenas um vinho feito para ser bebido mais jovem (lá está!) e que, graças à especificidade do terroir onde é produzido, é absolutamente inigualável no mundo – um destaque merecido. São vinhos de elevada acidez e muito leves, geralmente com uma efervescência pós-fermentativa que leva à tal confusão com os frisantes.
Essa leveza e efervescência têm sido, no entanto, trabalhadas por produtores e enólogos que nos apresentam já alguns vinhos com um potencial de guarda – e uma complexidade! – muito interessante. É o caso da Quinta de Soalheiro (já aqui falámos do Opacco), das várias referências de Anselmo Mendes e da Quinta da Covella, para nomear apenas alguns.
Com o Alvarinho e o Loureiro como castas-rainha, tem sido divertido ver, também, aquilo que têm feito entusiastas da região, como Augusto Freitas de Sousa, que recentemente lançou o seu ‘Número Zero’, 100% feito a partir da casta Azal, que durante anos ficou remetida a vinhos de lote que se queriam menos exuberantes nos aromas.
Os Vinhos Verdes são, na verdade, mais complexos do que o que pode parecer à primeira vista. São vinhos para perfis concretos de apreciadores, e isso não significa que sejam melhores ou piores – duvido de que isso seja coisa que existe quando falamos de algo tão pessoal quanto o nosso gosto pessoal por alguma coisa. E são, também, um património que não podemos deixar de preservar uma vez que, de facto, é uma região tão singular que pode bem tornar-se numa das mais distintivas do nosso País. Embora eu continue a achar que a próxima a chegar ao pódio vai ser a do Dão, é sempre bom não esquecer que a demarcação da região dos Vinhos Verdes remonta ao início do século XX, portanto já merece bem o seu lugar na História.
É por isso que, quando bebemos o Via Latina Branco Escolha 2022, sentimos que estávamos a provar toda a região dos Vinhos Verdes num golo apenas. Produzido pela Vercoope – a união de Cooperativas Vitivinícolas da Região de Vinhos Verdes – é um vinho super leve, com muita efervescência e a sua típica acidez (ainda que eu o tenha achado ligeiramente desequilibrado, com demasiada maçã verde a incomodar-me o palato). Para quem gosta de vinhos leves e não se preocupa particularmente com o facto de poder ser acídico em demasia, é uma opção interessante para os dias de calor que agora chegam, com apenas 11% de álcool. Produzido a partir das castas Arinto, Loureiro e Trajadura, tem recolhido ao longo dos anos a apreciação de muitos críticos nacional e internacionalmente.
Para um vinho cujo preço ronda os €3 (mais do que justo), acho que não é possível pedir mais – nem acho que tenhamos de o fazer.
Para nós, é um BBB consentâneo com a gama de preços em que se insere.
Escala de Notação Enológica*
AAA | Fabuloso |
AA | Muito bom |
A | Bom |
BBB | Satisfatório |
BB | Mau |
C | Não Beba! |