Um oásis de otimismo, numa altura em que a crise domina o discurso nacional e europeu. Ramón Forcada antecipa que 2023 não será tão difícil como se chegou a pensar e que o ambiente que resultar deste processo de ajustamento – subida de juros para controlar a inflação – será mais saudável do que aquele que tivemos nos últimos anos.
“No Bankinter achamos que este ciclo é melhor do que o anterior, porque combina uma inflação mais elevada com crescimento do PIB e permite taxas de juro positivas”, referiu na sua intervenção na conferência das 500 Maiores & Melhores Empresas, organizada pela EXAME, com apoio do Bankinter, Tabaqueira e dos knowledge partners Informa D&B e EY.
Forcada notou que a última década e meia se tornou “culturalmente muito perigosa” no que diz respeito à organização da economia. “O valor do dinheiro no tempo existe e, nos últimos anos, habituámo-nos a que ele não valesse nada. Podíamos devolver menos do que emprestámos [com taxas negativas]”, lembrou. “Uma inflação excessiva é má, mas uma inflação razoável – que na Europa deve ficar nos 3% em 2024 – é bom. O consumidor e o empresário trabalham melhor assim.”
Isso não significa que este momento de transição – juros altos e inflação ainda sem descer significativamente – não seja duro para muitas famílias e empresas, com perdas de poder de compra transversais e, nalguns casos, tesourarias apertadas e custos incomportáveis. Além disso, há obviamente riscos para este cenário e o maior de todos é a evolução da guerra na Ucrânia. Apesar das enormes perdas humanas e da destruição de um país, o resto da Europa está a beneficiar de alguma sorte, devido ao inverno suave de que está a beneficiar, permitindo acumular mais reservas energéticas e tornar mais improvável cortes. Isso, por sua vez, deverá tornar mais sólido o apoio à Ucrânia, suportando uma possível guerra longa, mas que deverá ter um impacto cada vez menor nas matérias-primas.
Aliás, as últimas semanas trouxeram uma sucessão de boas notícias, seja com níveis de inflação mais baixos do que se esperava ou com indicadores de atividade mais sólidos, por exemplo, na Alemanha, o motor da Europa. Sinais de que a tão discutida recessão pode não chegar.
Ramon Forcada concorda. “Se houver uma recessão será puramente estatística. Não afetará o emprego ou, de forma prolongada, a economia”, afirmou.
Isso terá consequências para os mercados financeiros. “Quanto mais rápido aceitarmos que chegar tarde é perder dinheiro, melhor. É preciso chegar a tempo”, frisou o economista. “As bolsas vão ter um 2023 melhor do que esperavam os mais otimistas”, acrescentou. “É preciso um posicionamento rápido.”
E deixou um recado: “É mais importante ver o que fazem os bancos centrais do que o que eles dizem. Porque o que eles dizem serve para nos assustar mas o que estão a fazer não é muito radical”.