Há cerca de 16 anos, o editor de uma revista nacional, cuja maioria dos leitores era oriunda do mundo empresarial, lançou-me o desafio de contribuir com um artigo de opinião nas suas edições. Comprometi-me a escrever algumas reflexões, de forma mensal, num período máximo de um ano (embora creio que tenha acabado por escrever por mais tempo). Lembro-me bem dos meus primeiros artigos – eram sobre a sustentabilidade da mediocridade.
A excelência é difícil de manter e, olhando à minha volta, fiquei surpreendido (na altura, porque agora já não) em como a mediocridade tem tendência a manter-se em quase todas as dimensões (o próprio “sistema” oferece todos os incentivos a que assim seja). Hoje, bombardeado todos os dias com notícias menos felizes, tanto do mundo empresarial como do mundo político, com os nossos líderes e as suas meias verdades, e os nossos pundits sempre com uma opinião (e explicação lúcida de tudo o que se passa à nossa volta), o tema da mediocridade, no sentido de estar “no meio”, voltou a interessar-me. Desta vez com uma tónica ligeiramente diferente – o perigo de meio sucesso – nem falhar, nem ter grande êxito.
A sociedade encara o sucesso e o fracasso como residindo em extremos opostos. E as nossas atenções e preocupações são quase sempre viradas para eles. No entanto, existe toda uma região contida entre ambos os extremos do espectro, onde se pode ser “medianamente bem sucedido” ou “não realmente um fracasso”. E, embora só oiçamos falar de empresas que são grandes sucessos inspiradores ou monstros que vieram por aí a baixo, é nesta região mediana que se situa a maioria das empresas. Não se registando nesta zona nem grandes sucessos nem grandes fracassos, a maioria dos empresários encontra aqui a sua zona de conforto.
Contudo, será esta zona assim tão confortável? Ser “medianamente bem-sucedido” ou “não realmente um fracasso” pode iludir-nos num conforto desconfortável. Os pequenos sucessos e o “não fracasso” podem ser uma armadilha na qual permanecemos longos períodos de tempo, sempre na esperança que as coisas acabem por resultar bem, e que eventualmente alcançaremos o ponto do “sucesso absoluto”. Esta zona de conforto que pode condenar-nos a uma “mediocridade confortável”. Pior, não nos expormos ao fracasso pode até pôr-nos a pensar que somos bem-sucedidos e, como o editor inglês do seculo 19 H. G. Bonn certa vez sabiamente disse, “o sucesso faz com que um idiota pareça sábio”.
A maioria das empresas operam na realidade numa zona em que nem têm grande sucesso nem falham. Elas estão numa zona de aparente conforto. Ser “medianamente bem sucedido” pode ser, na realidade, perigoso, e impedir que alcancemos coisas verdadeiramente grandes.