
“Todo o artista é um ser político, mas isso não significa que tenha de criar panfletos”, afirmou Manuel Falcão na apresentação pública das ESG Talks, que decorreu esta quarta-feira na Nova SBE em Carcavelos. Antigo jornalista, atual administrador não executivo da EGEAC (empresa que gere os equipamentos culturais da Câmara Municipal de Lisboa), Manuel Falcão há muito que assumiu a paixão pela fotografia contemporânea, tendo sido responsável, enquanto editor da Visão, pelo lançamento de vários livros do brasileiro Sebastião Salgado e foi fundador da Amieira, uma editora especializada em livros de fotografia a preço acessível.
Na “presença” de três obras da coleção de fotografia do novobanco (uma das maiores e mais significativas coleções corporativas do mundo) expostas na Nova SBE, referiu-se à importância das artes plásticas e visuais, nomeadamente a fotografia, se comprometerem com grandes objetivos e causas, nomeadamente a sustentabilidade ambiental, na medida em que também são comunicação.
“A arte e a cultura podem dar-nos outra perspetiva do mundo. Em vez de serem um corpo estranho para as empresas, elas devem ser encaradas como algo que estimula a imaginação de funcionários e clientes. Há mais para além da folha de Excel”, referiu.
Manuel Falcão convidou ainda os presentes a pensarem no modo como a Fotografia evoluiu nas últimas décadas, à medida que passávamos do analógico ao digital, permitindo uma democratização sem precedentes na História da Arte. Citando o fotógrafo norte-americano Richard Avedon, advertiu, no entanto, que “se todas as fotografias são verdadeiras, nenhuma delas é a verdade.”

Vem isto a propósito das ESG Talks, marcadas para o próximo dia 22, falarem de temas como finanças sustentáveis, ecofundos e transição energética, mas, talvez de forma inesperada para alguns, também de artes e do seu contributo para a mudança urgente que se impõe.
Mafalda Anjos, diretora da Visão, lembrou que esse papel não é decorativo: “A arte inquieta, impele e desperta a reflexão”. E referiu o lançamento do livro Art in the Time of Ecological Disruption, editada pela IACCCA – Associação Internacional de Coleções Corporativas de Arte Contemporânea.
Com coordenação da curadora independente Heidi Ballet, o livro não só nos dá a ver obras de grande importância (em que avulta a coleção de fotografia do novobanco, a segunda mais representada) como nos faz pensar sobre questões sociais e filosóficas que levam mais longe o discurso tradicional sobre sustentabilidade e questões ambientais: Como escreve Loa Haagen Pictet, um dos administradores da IACCA, na abertura da obra: “Todas as agendas precisam de se dirigir e adaptar a esta urgência de ação coletiva. Solidariedade é a palavra-chave. Como uma associação de curadores de coleções corporativas de arte contemporânea, não pretendemos ter a resposta para o que deve ser feito a nível planetário. O nosso objetivo não é propor meios de mitigar e melhorar a nossa pegada ecológica ou o nosso impacto, mas expressar o desejo de fazer parte do debate.”