1920.
Oklahoma, terra dos Osage.
Uma viagem de carro.
Dois passageiros.
“De quem é esta terra?”, pergunta Ernest Burkhart, um intruso, homem branco que acaba de chegar ao território da nação dos Osage, secretamente à procura de petróleo.
“É minha”, responde Non-Hon-Zhin-Ga, líder da comunidade.
É a partir desta primeiríssima interação, que podemos ver logo nos primeiros segundos do trailer oficial de “Assassinos da Lua das Flores”, que Martin Scorsese apresenta o conflito que dá corpo e estrutura à sua mais recente obra-prima. Baseado numa história verídica, este é um filme incontornável: um épico western, que desenterra uma época de terror perdida no tempo – a história maldita dos misteriosos assassinatos do povo nativo norte-americano, os Osage, e a conspiração que existiu em torno da sua fortuna petrolífera.
É um dos filmes mais aguardados deste ano e há razões para isso. Vamos conhecê-las.
4 razões para não perder “Assassinos da Lua das Flores”
1. Martin (Génio) Scorsese
A magia de Martin Scorsese não passa despercebida. Atualmente com mais de 80 anos e uma carreira de 56 anos a dirigir filmes – uns mais conhecidos do que outros -, é inegável como, anos após ano, continua a desafiar os limites do que consideramos possível: o próximo filme tem sido sempre melhor.
Desde “Who’s that knocking at my door”, primeiro filme que dirigiu em 1967; até Taxi Driver (1976); ou “Os Infiltrados” (2006), que levou para casa sete Óscares, entre eles o de Melhor Filme, o diretor norte-americano volta a dar ao mundo uma nova obra-prima.
Pisou novo terreno, é o que dizem. Trata-se do seu primeiro filme Western e um dos poucos que coloca a experiência de uma personagem feminina no centro da história. Intenso e visceral, com uma carga emocional muito scorsesiana, este é um filme a não perder.
Morreu outro Osage.
2. A história que merecia ser contada. Em grande.
Baseado num livro best-seller, e com reedição em Portugal pela Quetzal Editores, “Assassinos da Lua das Flores – A matança dos índios Osage e o nascimento do FBI”, de David Grann, é o livro que inspira o filme e conta com a imagem do poster na capa. Em Portugal, em 2023, chega às principais livrarias a partir do dia 19 de outubro, mas a história remonta à década de 1920.
Apelidados de “filhos das águas médias”, estes nativos americanos residiam nos vales dos rios Ohio e Mississippi, quando no início dos anos 20 foram obrigados a deslocar-se para outra região: encontraram o seu porto de abrigo num território nativo, desocupado, onde compraram parcelas de terra. O que nem eles, nem ninguém sabia, é que por baixo das terras da reserva jorrava petróleo.
Morreu outro Osage.
A descoberta desta nova riqueza pelos homens brancos, gananciosos, da família Burkhart vai tornar os contornos desta história mais macabros, o que motivará uma grande investigação policial nos primórdios da criação do FBI. Primeiro tudo estava bem até que, um dia, morreu um Osage e depois outro e depois outro. Envenenados, espancados, mortos a tiro, muito rapidamente esta tornou-se a comunidade com maior fortuna e ao mesmo tempo maior percentagem de assassinatos do mundo. Não queremos desvendar tudo mas há amor verdadeiro pelo meio, traição e desespero.
3. Um elenco de luxo
O filme agarra até ao fim em grande parte pelo elenco de luxo que sustenta o argumento de Eric Roth e Martin Scorsese. A protagonizar a trama temos Leonardo Dicaprio, a representar de forma exímia Ernest Burkhart, o sobrinho de um rancheiro muito influente na região; Lili Gladstone, a corajosa mulher Osage que imprime ritmo à história por nunca baixar os braços perante o massacre dos seus; Robert De Niro, como tio do rancheiro protagonista, e ainda Jesse Plemons e Brendan Fraser. São três horas e vinte e seis minutos intensos.
Morreu outro Osage.
4. O impacto social
Este período é conhecido como um dos mais negros da História dos Estados Unidos da América: o que aconteceu aos nativos americanos da Nação Osage foi um massacre, que ainda está longe de estar ultrapassado. Trazer à luz do dia, e com tanto mediatismo, os contornos macabros desta época é também honrar um trauma que continua vivo nas gerações atuais desta comunidade, tão maltratada no século anterior.
Este filme é um hino à diversidade e representatividade, necessário, urgente, que revelou e expôs – sem pudor-, a falta de compaixão do homem quando seduzido pela riqueza e poder.
Morreu outro Osage. Morreram 60 entre 1921 e 1925. Homens e mulheres inocentes.
O imperdível “Assassinos da Lua das Flores”, de Martin Scorsese, chega às salas de cinema portuguesas a 19 de outubro. Veja aqui o trailer.
Etiqueta Osage: tudo o que tem de saber:
- Os Osage fazem parte de uma nação soberana;
- Tenha em mente que eles não são índios, são nativos americanos;
- Devem ser tratados como Osage, povo Osage, ou Wha-Zha-Zhe;
- O líder desta nação é conhecido por, se traduzirmos literalmente, “Geoffrey Urso em Pé”.