João Paulo Cunha é um engenheiro que passa a vida metido em hospitais. E desta convivência nasceu um projeto que pode fazer uma grande diferença no tratamento da epilepsia resistente – cerca de 10% dos casos, em que o paciente não responde a nenhuma combinação de medicamentos disponíveis e, portanto, continua a ter crises.
Para estes casos, a cirurgia é uma hipótese a ter em conta, mas para que seja eficaz é preciso caracterizar muito bem o paciente. Ciente deste problema, o engenheiro biomédico do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência concebeu um sistema de vídeo em 3D que permite filmar o paciente durante uma crise, captando todos os seus movimentos. “As imagens, depois de analisadas e tratadas, permitem-nos fazer uma avaliação quantitativa dos movimentos, o que ajuda a definir o tipo de síndrome, a sua origem, e auxilia o médico a tomar decisões quanto à melhor opção terapêutica”, esclarece João Paulo Cunha.
A ideia tornou-se mais fácil de concretizar com o advento dos jogos de computador, já que João Paulo Cunha usou esta tecnologia para construir uma câmara 3D (combinando infravermelhos com câmaras de alta definição) e diminuiu o custo de produção de uns estimados 100 mil euros para pouco mais de mil.
Associado ao projeto, há um software de tratamento da informação recolhida (o sistema gera uma enormidade de 2 Gigabytes por minuto) e a maior base de dados de pacientes, filmados durante crises epiléticas.
Todo o trabalho foi feito em parceria com um centro clínico em Munique, na Alemanha, inteiramente dedicado ao tratamento da epilepsia, com financiamento de um industrial alemão que financia investigação na área da neurologia.
O artigo científico sobre este sistema – NeuroKinect – foi publicado na semana passada numa das mais importantes revistas científicas na área das Ciências da Vida, a PlosOne.
Além da eplilepsia, o NeuroKinect pode ajudar no tratamento de outras patologias com implicações ao nível do movimento, como a doença de Parkinson.