Banbadinca Sta Claro é o nome do projeto que integra o Programa Comunitário para Acesso a Energias Renováveis, levado a cabo pela ONG TESE. O nome não poderia ser mais adequado. Traduzida para português, a expressão crioula significa Bambadinca tem luz.
Até ao final deste ano, a energia deve chegar às casas dos cerca de 6500 habitantes desta vila da Guiné-Bissau.
O português David Afonso, 33 anos, licenciado em psicologia, está na Guiné-Bissau ao serviço da TESE e cabe-lhe a coordenar a construção da central fotovoltaica que irá mudar a vida da população. Um dos efeitos imediatos será a possibilidade de, pela primeira vez, os jovens estudantes da vila estudarem depois de o sol se pôr.
O projeto arquitetónico foi oferecido pelos ateliers Pedro Novo e AP.pt. A estrutura que vai proteger os geradores e as baterias da central fotovoltaica será construída com materiais da região e contará com o apoio da população local.
A intervenção deverá estar concluída em março de 2015, ao abrigo do programa Engenheiros Sem Fronteiras da TESE e em parceria com a ONG DIVUTEC, o Instituto Superior Técnico, e com o apoio técnico da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e o financiamento da União Europeia e Cooperação Portuguesa.
Formação de eletricistas em Banbadinca. David Afonso é a segunda pessoa do lado esquerdo.
Por email, David Afonso respondeu às questões da VISÃO Solidária, a partir de Bafatá, localidade onde se localiza o escritório da TESE e que fica a 28 quilómetros de distância de Banbadinca.
Em que fase está a construção da central fotovoltaica?Neste momento, estão a decorrer os trabalhos de engenharia civil necessários para acondicionar de forma segura os materiais da central fotovoltaica. A primeira fase das obras civis engloba a construção do recinto da central, as vedações de protecção, as vias de acesso, bem como todo o acondicionamento de material e equipamentos necessários.
Ao mesmo tempo, estão a ser desenvolvidos os trabalhos de construção dos edifícios que albergam os equipamentos elétricos para controlar a energia produzida, baterias, geradores a diesel e escritório administrativo. Os painéis solares e equipamentos conexos só chegarão à vila em meados de Setembro, quando as obras já estiverem terminadas.
De que forma é que esta construção vai mudar a vida da vila?Vai mudar a vida da vila, com a diminuição da pobreza, o aparecimento de novas oportunidades de trabalho e até a mudança de hábitos e comportamentos das famílias residentes.
Vai permitir a expansão de negócios existentes, venda de água, gelo, sorvetes, bolos, e a entrada de novos negócios, como os frigoríficos, máquinas de descasque de arroz, de transformação de castanha de cajú, máquinas de costura e tratamento local de água.
Haverá mudanças nos hábitos das famílias em relação ao modo de preparação dos alimentos, em vez do fogareiro poderão usar fogão elétrico, vai aumentar o tempo de permanência das crianças em casa, a estudar ou a ver televisão, e uma melhoraria significativa na qualidade de vida das pessoas no geral.
Como é que o projeto foi recebido pela população?O projeto foi recebido com muita alegria, satisfação e ansiedade por toda a população residente em Bambadinca.
É uma oportunidade de sair da escuridão para a claridade, de melhores condições de vida, de emprego e novos negócios. Para as crianças, significa melhores condições de estudo e oportunidades de uso das novas tecnologias nas escolas e em casa.
Outro fator que gostava de salientar é a forma como decorre o processo de apropriação do projeto pela população, que demonstra o verdadeiro sentido de aceitação do mesmo por parte da comunidade. A participação massiva nos eventos, como no caso do lançamento de atividades do projeto e do lançamento da primeira pedra na obra da Central.
Imagem virtual da central fotovoltaica que está a ser construída.