De acordo com o relatório Estado do Clima Europeu 2024, divulgado esta terça-feira pelo Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas do Copérnico (C3S) e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), quase metade da Europa registou, no ano passado, valores de temperatura recorde.
O estudo, que contou com a participação de cerca de 100 colaboradores científicos, revelou ainda que o número de dias com “stress térmico forte” devido ao calor foi superior à média em cerca de 60% do continente europeu. Dados que indicam a existência de, em média, “quase um mês de, pelo menos, ‘stress’ térmico forte e cerca de 12 noites tropicais”, pode ler-se num comunicado do Copernicus.
Dados anteriores já indicavam que 2024 foi o ano mais quente de que há registo, em que se ultrapassou, pela primeira vez, os 1,5°C de aquecimento global, acima do nível pré-industrial. “Uma fração adicional de um grau de aumento de temperatura é importante porque aumenta os riscos para as nossas vidas, para as economias e para o planeta. A adaptação é essencial. Por isso, a OMM e os seus parceiros estão a intensificar os esforços para reforçar os sistemas de alerta precoce e os serviços climáticos para ajudar os decisores e a sociedade em geral a serem mais resilientes. Estamos a progredir, mas precisamos de ir mais longe e mais depressa e precisamos de ir em conjunto”, referiu Celeste Saulo, secretária-geral da OMM, citada no comunicado.
O relatório revela ainda dados sobre os incêndios florestais na Europa. “Estima-se que 42.000 pessoas tenham sido afetadas por incêndios florestais na Europa”, lê-se. Em Portugal, estima-se que os fogos tenham queimado cerca de 110.000 hectares em apenas uma semana – cerca de um quarto do total anual da área ardida da Europa.
Por outro lado, o estudo sublinha que a Europa Ocidental teve um dos dez anos mais chuvosos desde 1950. Países como a Alemanha, Espanha, Áustria, Hungria, Roménia ou a Itália foram afetados por fortes chuvas que provocaram grandes inundações e resultaram em vários danos. De cerca dos 18,2 mil milhões de euros em prejuízos provocados por fenómenos meteorológicos extremos, cerca de 85% foram resultado de inundações.
Os dados revelados pelo relatório são descritos como “alarmantes” pela organização ambientalista internacional Greenpeace. “Estas novas descobertas são chocantes; as únicas partes da Europa que não estão a ser cozidas estão a ser levadas pelas inundações”, disse Thomas Gelin, num comunicado da organização. “A UE deve atualizar urgentemente as suas metas climáticas para que reflitam a realidade científica e pôr fim a novos projetos de combustíveis fósseis como primeiro passo para uma eliminação gradual completa”, acrescentou.