Na passada segunda-feira Portugal voltou a registar um tremor de terra de maior intensidade – 4,7 na escala de Richter -, o segundo em apenas 175 dias. O sismo, com epicentro a 14 quilómetros a sudoeste do Seixal, segundo o IPMA, foi sobretudo sentido em Lisboa, Almada e Sintra mas também em concelhos como Odemira (Beja), Coimbra (Coimbra) ou Albufeira. Já a de 26 agosto do ano passado, a capital portuguesa acordava sobressaltada por um sismo, de magnitude de 5,3, que foi sentido de norte a sul do País.
Com eventos sísmicos a ocorrerem a uma distância temporal tão curta – 175 dias – levanta-se a questão: existem motivos para preocupação? Para procurar responder a esta e outras questões, a VISÃO falou com José Carlos Kullberg, professor geólogo da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.
Para o especialista, até ao momento, nada parece indicar que estes dois eventos sísmicos estejam relacionados, uma vez que as “falhas que os produziram não são as mesmas nem, em princípio, fazem parte de um mesmo sistema de falhas ativas”, explica. No caso do tremor de terra registado em agosto de 2024, ao largo de Sines, o seu epicentro aponta para um sistema de falhas que existe ao largo da margem sudoeste portuguesa. Já o registado no dia 17 de fevereiro – e réplicas que se seguiram – “parecem apontar para um certo alinhamento geométrico (…) que, a uma escala um pouco mais regional, não se afastará muito da Falha do Vale Inferior do Tejo [a mesma falha responsável pelo sismo sentido em 1909 ]”, contou.
Para Kullberg, não existe, assim, motivo para alarme. “Quando se pergunta se a ocorrência destes sismos é motivo para alarme, diria que alarme não, porque não é possível vivermos permanentemente alarmados. (…) O risco de ocorrerem outros sismos é sempre real, vão continuar a acontecer, mesmo num país com atividade sísmica moderada como é o nosso, o que não existe é forma de saber onde exatamente é que se vão localizar e que quantidade de energia se vai libertar, ou seja, quais os efeitos, em pormenor, é que vão produzir”, refere.
Podem esperar-se novas réplicas nos próximos dias?
Segundo Kullberg, apesar de o sismo principal já ter, ao que tudo indica, ocorrido no dia 17, podem vir a ocorrer algumas réplicas até cerca de 10 dias após o abalo. Na terça-feira, foram registadas duas réplicas – com uma intensidade de 2,4 e 1,8 na escala de Richter – com uma hora de diferença entre si. Já esta quarta-feira, foram sentidos dois novos sismos – 2.7 e 2.9 respetivamente – a nordeste de Silves, no Algarve.
Para o professor geólogo, é necessário investir mais na preparação para este tipo de ocorrências bem como na educação da população. “É preciso é estarmos conscientes, a todos os níveis – pessoas e entidades de decisão – sobre o que tem de ser feito antes, durante e depois destas ocorrências: primeiro, a título preventivo, tem de haver um planeamento e ordenamento do território e das áreas de grande concentração populacional no sentido de mitigar estas ocorrências, depois cada um de nós tem de estar preparado para como reagir durante estas ocorrências e isso, tem de ser inerente à nossa formação como cidadãos e, finalmente, as estruturas de apoio após estas ocorrências têm de ter uma capacidade e grau de prontidão compatíveis com estas ocorrências que poderão ser muito mais graves, no caso de haver sismos com maiores magnitudes e localizados próximos das áreas mais populosas”, conclui.