Alexandra Reis, antiga administradora da TAP, confirmou, esta quarta-feira, no Parlamento, que o marido de Christine Ourmières-Widener, CEO da empresa, chegou a fazer apresentações para “vender uma solução”. Sublinhando que a CEO nunca lhe fez qualquer comentário sobre o tema, Alexandra Reis garantiu ter dado indicações à sua equipa para não se assinar “nenhum contrato” com a empresa de Floyd Murray Widener.
Segundo a lei, os gestores das empresas públicas, como a TAP, estão proibidos de celebrar contratos com familiares diretos. Certo é que o marido da CEO chegou a apresentar os seus produtos na TAP, mas Christine Ourmières-Widener, nas suas declarações na Comissão Parlamentar de Inquérito, limitou-se a dizer que não houve qualquer assinatura de contrato.
Alexandra Reis está esta tarde a ser ouvida na comissão de inquérito à TAP e, no arranque das inquirições pelo deputado da IL Bernardo Blanco, assumiu que ainda não compreende “de forma muito clara” as razões do pedido para que “saísse da empresa”.
Segundo a antiga administradora, em 25 de janeiro do ano passado, “numa reunião muito curta”, a CEO (presidente executiva) da TAP, Christine Ourmières-Widener, explicou-lhe que queria distribuir os seus pelouros por outros membros da comissão executiva e por isso lhe perguntou o que ficaria a fazer sem essas mesmas responsabilidades.
“Eu quero que saias da empresa”, foi o que, segundo Alexandra Reis, a presidente executiva da TAP lhe disse, tendo deixado claro que queria que saísse não só de administração, mas da empresa e que lhe pediu “confidencialidade sobre o assunto” numa conversa que foi presencial.
Alexandra Reis é a quarta personalidade ouvida pela comissão parlamentar de inquérito à tutela política da gestão da TAP, constituída por iniciativa do Bloco de Esquerda, depois da Inspeção-Geral de Finanças (IGF), o administrador financeiro da empresa, Gonçalo Pires, e da presidente executiva, Christine Ourmières-Widener.
Escolhida pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, para secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis protagoniza a polémica que começou no Natal, altura em que o Correio da Manhã noticiou que a então governante tinha recebido uma indemnização de cerca de 500 mil euros para sair antecipadamente da administração da TAP.
O caso levou à demissão do então ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, e do secretário de Estado Hugo Mendes, além da própria Alexandra Reis, que esteve menos de um mês no Governo.
Alexandra Reis foi chamada pela comissão de inquérito na qualidade de ex-administradora da TAP, ex-presidente do Conselho de Administração da NAV Portugal — Navegação Aérea, para onde transitou após a saída da companhia aérea, e de ex-secretária de Estado do Tesouro.
Numa declaração escrita enviada à Lusa, em dezembro, Alexandra Reis disse que o acordo de cessação de funções “como administradora das empresas do universo TAP” e a revogação do seu “contrato de trabalho com a TAP S.A., ambas solicitadas pela TAP, bem como a sua comunicação pública, foi acordado entre as equipas jurídicas de ambas as partes, mandatadas para garantirem a adoção das melhores práticas e o estrito cumprimento de todos os preceitos legais”.
Na sequência de uma auditoria da IGF, que encontrou falhas graves no acordo de saída entre a TAP e Alexandra Reis, o Governo decidiu exonerar a presidente executiva e o presidente do Conselho de Administração, Manuel Beja, que vai ser ouvido na comissão de inquérito na próxima semana.